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Rio-2016

Rio-2016 será a primeira Olimpíada sediada por país em recessão

Os Jogos do Rio terão que conviver com um fato inédito no contexto olímpico: pela primeira vez, o evento acontecerá em um país em recessão. Desde 1964, quando a Olimpíada aconteceu em Tóquio, todos os países que receberam as Olimpíadas estavam em processo de crescimento econômico –o Banco Mundial disponibiliza os PIBs dos países apenas a partir do início da década de 1960 (veja tabela abaixo). No caso do Brasil, a expectativa da empresa de consultoria IHS Global Insight é que o país tenha contração econômica de 3,8% a 4% neste ano.

Procurados pela Folha, especialistas de diferentes áreas apresentaram análises distintas sobre as relações entre a Rio-2016 e o cenário econômico interno.

Andrew Zimbalist, economista norte-americano e crítico ferrenho aos exageros dos grandes eventos esportivos, acredita que a Rio-2016 intensificou os problemas políticos e econômicos do Brasil e não fornecerá uma saída para a recessão.

"A Olimpíada exacerbou os problemas políticos e econômicos do Brasil e vai continuar a fazer isso. A cidade e o país estão gastando mais de R$ 35 bilhões com a Olimpíada, incluindo os trabalhos infraestruturais, sendo que muitos deles respondem a necessidades do COI e não ao desenvolvimento urbano racional", diz.

"A natureza apressada da construção está deixando um resíduo de construções de baixa qualidade e elefantes brancos que custarão dezenas de milhões de dólares de manutenção todos os anos. Está muito claro que a imagem do Rio e do Brasil foi dramaticamente manchada, e não polida, tanto pela Copa de 2014 como pela Rio-2016", conclui.

VEJA IMAGENS DAS INSTALAÇÕES DA RIO-2016

Ricardo Borges/Folhapress
Parque aquático Maria Lenk; veja galeria de fotos a 100 dias do início da Rio-2016
Parque aquático Maria Lenk; veja galeria de fotos a 100 dias do início da Rio-2016

Já Lamartine da Costa, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pesquisador de megaeventos, tem o que ele chama de "uma visão otimista" do tema.

"Megaeventos são muito estudados pelo mundo e o resultado concreto é o de que dão mais vantagens que desvantagens. Eu acho que vai ter um saldo positivo, até mesmo porque aqui tem um modelo que não foi testado inteiramente em nenhum lugar que é o de entregar 60% das instalações olímpicas para a iniciativa privada. Agora, se você quiser puxar pelo lado negativo, vai encontrar problemas por todos os lados, porque a administração pública é deficiente. E então acontecem acidentes como o da ciclovia que caiu. Isso é fruto da má gestão, e não do megaevento", diz.

Segundo ele, a Olimpíada não tem responsabilidade pela recessão atravessada pelo país, e ela pode ainda ajudar o país a encontrar uma saída dessa situação.

"O Produto Interno Bruto aqui é muito grande. Isso [gastos com a Rio-2016] é nada. O total das despesas é de cerca de R$ 39 bilhões. Disso, entre R$ 4 bilhões e R$ 6 bilhões foram colocados nas instalações olímpicas. R$ 1 bilhão veio do Comite Olímpico Internacional, e isso ajuda a explicar o porquê do evento ser tão concorrido. R$ 6 bilhões é insignificante em relação ao PIB do Rio. Nós estamos entre as maiores potências do mundo. Esse dinheiro não tem representatividade. Ao contrário do que aconteceu com a Grécia, que é um país pequeno", argumenta.

"Com o rendimento do que já foi feito, a Olimpíada pode ajudar o país a sair da recessão. Só o retorno da parte de transportes no Rio já dá esse impulso. Há 30 anos o Rio de Janeiro não passava por obras, e isso aconteceu intensamente durante a preparação para a Olimpíada", conclui.

Economista do Banco Itaú desde 2011 e colunista do jornal "Valor Econômico", Caio Megale tem uma análise mais moderada que as de Zimbalist e Costa.

"Historicamente, a maioria desses eventos esportivos tem relação pequena com a economia. O fato de a economia do país estar em recessão não significa que tudo o que acontecer aqui será mais complicado. Na Copa de 2014, por exemplo, o país já estava em desaceleração grave e o evento transcorreu maravilhosamente bem", diz.

"Tendo a achar que a Olimpíada ajuda na economia, mas não muito. Não é transformacional. Não estamos falando de um grande plano econômico de reformas. Normalmente, a Olimpíada empurra o PIB do país um pouquinho para cima, e tende a ser igual aqui no Brasil. Certamente, o PIB do Rio está sendo impactado positivamente, e a Olimpíada vai deixar um legado importante, especialmente na área de transporte, para a cidade. Tendo a acreditar que o efeito será positivo", afirma.

A OLIMPÍADA E A ECONOMIA - Veja a situação financeira dos países quando sediaram os Jogos

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