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Agência antidoping do país atrasa em nove meses pagamentos a oficiais

Oficiais e escoltas de controle antidoping estão sem receber da ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) desde setembro passado e têm se negado a realizar serviços, o que compromete o sistema dentro do país a meros 73 dias do início dos Jogos Olímpicos do Rio.

Nesta segunda-feira (23), Camilo Geraldi, 35, líder entre os manifestantes, lançou um abaixo-assinado na internet para pressionar a entidade, criada em 2011 e mantida com verba federal, a quitar as dívidas.

Além disso, pretende expor o débito a órgãos mundo afora como a Wada (Agência Mundial Antidoping, na sigla em inglês) e a UCI (União Ciclística Internacional).

Geraldi atua como oficial desde 2009, também está sem receber e tem feito cobranças semanais pelo pagamento.

Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 12-02-2015 10h36:Palestra para jornalistas da FOLHA com o Dr Marco Aurelio Klein, presidente da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem e responsavel por relatorio entregue ao Ministerio dos Esportes para coibir violencia dar torcidas organizadas (Foto Eduardo Knapp/Folhapress.ESPORTES)
Marco Aurelio Klein, presidente da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem, durante palestra

Até o início da tarde desta terça (24), eram 168 os signatários do documento online.

Enquanto o impasse permanece, o antidoping dentro do Brasil está prejudicado.

Boa parte dos oficiais e escoltas não tem realizado serviços para a ABCD, que assumiu o controle antidoping da maioria das modalidades.

Segundo a autoridade, o atraso atinge cerca de 70% dos profissionais já capacitados e certificados, ou seja, aqueles aptos a trabalhar.

Estima-se que em São Paulo, onde se concentra o maior número de oficiais, a paralisação seja de até 90%.

O dano maior, afirmou um dos dissidentes à Folha, é na realização de exames fora de competição, tidos pela própria entidade como sua prioridade. Sem mão de obra, a quantidade de testes deste tipo teria caído recentemente.

A autoridade federal nega que isso tenha ocorrido (leia abaixo). Ela prevê execução de 8.000 controles em 2016.

A Folha apurou que a dívida com um oficial do Rio de Janeiro chega a R$ 35 mil. Outro, de Minas Gerais, tem uma conta a ver de R$ 13 mil.

A ABCD paga R$ 500 de diária –também chamada de "missão"– para oficial de controle, R$ 400 para oficial de coleta de sangue e R$ 100 para escolta (que acompanha o atleta da área de competição ao antidoping).

Na média, cada oficial faz entre seis e oito missões por mês. Geralmente, conciliam a atuação no antidoping com outras atividades.

Em meio à paralisação de nove meses no pagamento, os manifestantes dizem que receberam inúmeras promessas de quitação da ABCD.

Em um primeiro contato, realizado antes do Natal, o problema foi atribuído a problemas burocráticos.

A seguir, já neste ano, a entidade afirmou que o processo de impeachment na Presidência da República bloqueou verbas, inclusive as dela e do Ministério do Esporte.

Nos Jogos Olímpicos do Rio, todo o custeio do antidoping é feito pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) e pelo comitê organizador.

OUTRO LADO

Secretário nacional para a ABCD, Marco Aurelio Klein confirmou a dívida com os oficiais desde setembro. Ele prometeu que haverá dois pagamentos imediatos: o primeiro no dia 2 de junho e o outro na semana seguinte.

Segundo Klein, o débito da ABCD é de cerca de R$ 400 mil para quase 70 profissionais. "Para 45 deles, devemos menos de R$ 5 mil. Acima de R$ 10 mil, são apenas 13 pessoas", afirmou o secretário.

Klein disse ter ligado para boa parte dos manifestantes para dar explicações e pedir desculpas pelo atraso. "Vamos resolver. Isso é prioritário há meses para nós, mas [o problema] foi mais comprido do que esperávamos."

O atraso está mais ligado a problemas burocráticos do que exatamente a dinheiro. Com as trocas de ministro do Esporte (George Hilton, Ricardo Leyser e, agora, Leonardo Picciani) e a troca na Presidência, a ABCD teve dificuldade para processar pagamentos.

Porém, o dirigente negou que a insatisfação e a paralisação afetam a condução de testes antidoping, principalmente os fora de competição.

"Não emperrou os testes. Neste ano, 57% dos exames que fizermos será fora de competição", completou. A autoridade tem orçamento previsto de R$ 13 milhões em 2016, mas parte da verba será contingenciada.

Klein disse ter recebido também contatos de oficiais que se mostraram solidários com a situação e reconheceram o esforço da ABCD para quitar a dívida vigente.

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