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Rio-2016

ANÁLISE

É difícil responder se adiamento da Olimpíada impediria avanço da doença

A respeitabilidade do grupo de especialistas que apela à OMS para adiar a Olimpíada é difícil de contestar.

Capitaneado por especialistas em bioética como o americano Arthur Caplan, da Universidade de Nova York, e o australiano Peter Singer, da Universidade Princeton, o conjunto inclui ainda pediatras, obstetras, psiquiatras e neurologistas de algumas das principais instituições de pesquisa do mundo.

Marcelo Sayão/Efe
BRA01. RIO DE JANEIRO (BRASIL), 14/08/2015.- Fotografía de archivo del 11 de agosto de 2014 de la Marina da Glória y la Bahía de Guanabara donde se llevarán a cabo las competiciones de vela de los Juegos Olímpicos Rio 2016. El Comité Organizador de los Juegos Olímpicos de Río de Janeiro 2016 utiliza diversos tipos de bacterias para limpiar las aguas del puerto deportivo de la Marina da Gloria, en el que se disputarán las pruebas de vela, confirmaron hoy fuentes oficiales. "Es una de las maneras más innovadoras de frenar la polución del agua, dejando que la naturaleza se encargue de su limpieza", dijeron a Efe fuentes del Comité Organizador del evento deportivo. EFE/Marcelo Sayão ORG XMIT: BRA01
Vista aérea da Marina da Glória, no Rio

Junto com gente de grandes universidades dos EUA e da Europa, chama a atenção a presença de cientistas de países como África do Sul, Tailândia e Filipinas. Isso reforça uma das principais mensagens da carta: o temor de que outros países em desenvolvimento, hoje não afetados pelo zika, acabem sendo invadidos pelos vírus que pegariam carona em atletas e turistas que pousarem no Brasil. Há ainda a brasileira Débora Diniz (UnB e Fiocruz).

Talvez haja uma única premissa claramente errada no manifesto. Os signatários lembram que o Brasil chegou a erradicar o Aedes aegypti nos anos 50 e que, portanto, "realizar os Jogos na presença de mosquitos que carregam o zika é uma escolha, e não algo necessário".

A questão, porém, é que o país e o mundo mudaram muito nos últimos 60 anos, a começar por dois fatores-chave, a dimensão monstruosa da nossa falta de infraestrutura urbana (obviamente muito menor quando só havia 50 milhões de pessoas no país todo) e a alta conectividade entre países trazida pelo tráfego aéreo intenso e relativamente barato.

Ou seja, extirpar o A. aegypti hoje é, se não impossível, muito difícil, o que não significa que não falte ousadia e foco às iniciativas brasileiras de controle do inseto.

Fora esse detalhe, a dificuldade de julgar se o apelo é alarmista ou não tem a ver com o quão pouco se sabe sobre o zika. No caso das mulheres grávidas ou com chance de engravidar, parece totalmente razoável recomendar que não ponham os pés no Rio —o custo de um encontro com o vírus pode ser alto demais, mesmo se só uma parcela pequena delas acabar tendo bebês afetados.

Mas e quanto aos aparentemente raríssimos efeitos neurológicos em adultos? E adiar a Olimpíada seria de fato capaz de impedir indefinidamente que a doença atinja outros países vulneráveis, considerando o alcance que ela já tem hoje? Nenhuma dessas perguntas é fácil de responder hoje.

Editoria de Arte/Folhapress
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