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Opinião

Doping não reduzirá público da Olimpíada do Rio

No ano passado, Houston sediou o Mundial de halterofilismo. Os maiores atletas da modalidade, entre os quais muitos candidatos a medalhas olímpicas, levantaram pesos absurdos por sobre suas cabeças, e os torcedores aplaudiram, admirados.

Será que os torcedores acreditaram naquilo que estavam vendo? Não, na verdade. Os feitos pareciam sobre-humanos. Havia bons motivos para que os torcedores não acreditassem naquilo que estavam vendo.

Dezessete dos halterofilistas que competiram em Houston –muitos dos quais medalhistas– foram apanhados no antidoping por uso de substâncias proibidas. Assim, aquilo a que os torcedores estavam assistindo não era um esporte disputado em seu mais alto nível, mas uma trapaça atrás da outra. Isso importa? Talvez não.

"Os torcedores mais dedicados do halterofilismo estão bem cientes do que acontece, e por isso nada daquilo foi um choque para eles", disse Chris Massey, diretor de eventos da Autoridade Esportiva de Houston e do Condado de Harris. "As demais pessoas só estavam lá pelo entretenimento. Eu não sei se muitas delas conectaram as coisas".

Isso se aplica ao esporte olímpico em escala mais ampla, agora, depois das revelações extraordinárias do antigo diretor do laboratório antidoping oficial da Rússia, segundo o qual um programa estatal de doping ajudou dezenas de atletas russos a trapacear na Olimpíada de Inverno de 2014, em Sochi.

As acusações dele levaram as autoridades antidoping a reexaminar amostras de urina de Olimpíadas anteriores, e agora elas afirmam que 31 resultados positivos de doping antes ignorados foram revelados até o momento nas amostras dos Jogos de 2008, realizados em Pequim, e 23 nos de 2012, em Londres.

Nada disso prejudica o marketing da Olimpíada do Rio, que está a apenas 79 dias de distância. Quer estejam ou não sujeitos a trapaças desse tipo, os Jogos agora acontecerão sob uma nova nuvem, que veio para se unir à nuvem do vírus da zika e à dos distúrbios políticos, que já pairavam sobre o Rio. Ainda assim, talvez inexplicavelmente, é improvável que isso leve muita gente a desistir de acompanhar a competição.

O motivo é o mesmo pelo qual os torcedores podem se indignar por o futebol americano ter causado sérias lesões cerebrais a antigos jogadores, mas ainda assim vestir a camisa de seus times e assistir ao "Monday Night Football". Quando o assunto é entretenimento, muitos espectadores não permitem que a moralidade arruíne sua diversão.

Sabemos disso por experiência. As Olimpíadas sobreviveram a escândalos semelhantes no passado. A máquina do doping da Alemanha Oriental. O antidoping em que Ben Johnson foi apanhado. O escândalo do Laboratório Cooperativo da Baía de San Francisco, mais conhecido como Balco, você se lembra? Foi o caso de uso de anabolizantes que envolveu alguns dos nomes mais importantes do atletismo, entre os quais Marion Jones, vencedora de múltiplas medalhas.

Popperfoto
Ben Johnson festeja vitória nos 100m rasos dos Jogos de 88
Ben Johnson festeja vitória nos 100m rasos dos Jogos de 88

Ainda assim, os espectadores acorreram em massa às Olimpíadas de 2004, em Atenas, e 2008, em Pequim. E número recorde de pessoas assistiu aos Jogos de Londres, em 2012.

Muitas das modalidades olímpicas precisam começar a agir agora contra o doping. Até hoje, o esporte mais prejudicado pelas investigações sobre o programa russo foi o atletismo. Mas ele não é o único. Atletas de bobsled, halterofilismo e esqui cross-country foram implicados. O antigo diretor do laboratório russo disse que toda a equipe de hóquei sobre o gelo feminino da Rússia era parte do programa de doping estatal em Sochi.

Não se sabe ainda até onde vai essa lista.

A cerimônia de abertura dos Jogos do Rio de Janeiro está marcada para 5 de agosto. Os torcedores encontrarão fato ou ficção? Hoje em dia, a atitude mais segura talvez seja suspender a descrença.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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