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Pontos e prêmios valem mais que ouro olímpico para muitos tenistas

Muitos tenistas, como o brasileiro Thomaz Bellucci, já estão garantidos nos Jogos do Rio. Mas a busca do ouro olímpico está longe de ser um objetivo universal entre os tenistas.

Ernest Gulbis, cuja vitória surpreendente na quarta rodada de Roland Garros, em Paris, o conduziu aos 60 mais do ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais), e portanto o colocou em condição de disputar uma medalha olímpica, disse já ter decidido não competir no Rio, em parte devido à falta de incentivos à participação.

"Não gosto do fato de que as Olimpíadas não valham pontos e não tenham premiação", disse Gulbis. "É como tênis para turistas".

Embora nenhum dos tenistas pré-qualificados para a Olimpíada tenha anunciado que não participará, diversos profissionais que poderiam ter se classificado facilmente para a competição indicaram não ter a intenção de fazê-lo. Meses antes do início dos Jogos, cinco homens classificados entre o sétimo e o 23º posto do ranking da ATP anunciaram que não pretendiam competir. São três veteranos com mais de 30 anos –John Isner, Kevin Anderson e Feliciano López– e dois jogadores com pouco mais de 20 anos, Bernard Tomic e Dominic Thiem.

Gulbis não está sozinho em criticar a falta de pontuação pelo desempenho olímpico –contrariando a prática prévia, que conferia pontos aos tenistas homens de 2000 em diante e às mulheres da categoria simples dos Jogos de 2004 em diante– como motivo para não competir.

Isner, membro do conselho de jogadores da ATP, disse ter feito lobby por aumento da pontuação olímpica depois de se frustrar por receber apenas 135 pontos pela ida a uma semifinal olímpica em 2012 (em contraste, o torneio da ATP realizado em Washington na mesma semana oferecia 500 pontos ao campeão, ainda que a participação tivesse sido esvaziada pela Olimpíada).

Ainda que as pontuações oferecidas no passado fossem modestas, Isner diz que a ausência de pontos no ranking foi "fator muito, muito importante" para sua decisão de não competir no Rio, assim como seu interesse em não ficar de fora do torneio da ATP em Atlanta, no qual ele venceu três títulos consecutivos. O tenista apontou que dois outros norte-americanos que tiveram posições altas no ranking, Andy Roddick e Mardy Fish, optaram por não jogar as Olimpíadas de 2008 e 2012.

Ainda assim, Isner diz que a maior parte das reações que encontrou quanto à sua decisão foram negativas.

"Acusaram-me de falta de patriotismo –mas não acho que seja esse o caso", disse Isner, que planeja representar os Estados Unidos em julho nas quartas de final da Copa Davis contra a Croácia, no Oregon. "Não é assim que me vejo, de maneira alguma".

Para Gulbis e Anderson, a participação ampliada na Copa Davis requerida para disputar uma vaga olímpica era mais um problema. A ATP também deixou de conceder pontos no ranking por vitórias na Copa Davis este ano. As mudanças vieram depois de anos de negociações entre a ATP e a WTA e a Federação Internacional do Tênis (FIT), que cuida dos eventos olímpicos de tênis bem como da Copa Davis e da Fed Cup, dois torneios por equipes.

"A FIT acredita que é uma honra para os jogadores disputar uma Olimpíada, e que para a maioria deles pontos no ranking não são uma consideração na hora de decidir participar", disse Nick Imison, porta-voz da federação.

Yoan Valat-05.out.2015/Efe
O americano John Isner, que não deve participar da Rio-2016
O americano John Isner, que não deve participar da Rio-2016

Eric Butorac, presidente do conselho dos jogadores da ATP, disse que um obstáculo entre a FIT e a ATP havia sido o abandono de uma estrutura de pagamento sob a qual a FIT compensava torneios menores da ATP que se vissem afetados pela disputa olímpica a cada quatro anos.

"Eles ajudavam a compensar, porque ganham muito dinheiro com nossos jogadores e prejudicam bastante o calendário", disse Butorac sobre a FIT e os Jogos Olímpicos. "Este ano, a FIT disse que não pagaria compensação e basicamente disse que não se incomodava se recebêssemos pontos ou não".

Alguns dos principais jogadores do tênis mundial continuam dispostos a participar, incluindo o número 1 do ranking masculino, Novak Djokovic, e o quarto colocado, Stan Wawrinka, mas expressaram frustração pelo torneio olímpico não valer pontos.

"Temos os melhores jogadores do mundo participando do que poderia ser definido como um quinto Grand Slam. É assim importante para todos nós –ainda mais porque acontece a cada quatro anos. Quero dizer, deveria ser um assunto para discussão. Eu definitivamente encorajaria as pessoas a repensar a concessão de pontos por esse torneio", disse Djokovic.

Butorac afirmou que quando as negociações foram concluídas, no ano passado, a maioria dos jogadores não objetou ao fim dos pontos no ranking pela participação olímpica.

"Alguns queriam os pontos, mas a maioria daqueles a quem perguntei disse que realmente não se importava com os pontos, e que a Olimpíada deveria girar em torno de representar seu país", disse Butorac. "As Olimpíadas representam muitas coisas diferentes para diferentes pessoas. Para alguns jogadores, elas valem mais do que vencer um Grand Slam. Outros prefeririam ganhar um título da Master Series a conquistar uma vitória olímpica".

"E com isso não pretendo dizer que um lado ou o outro está certo. Fico incomodado quando as pessoas criticam alguém como Isner por estar tentando ganhar a vida como profissional do tênis. Saber se ele jogará ou não na Olimpíada é assunto dele. Os jogadores de tênis são profissionais independentes, e devem poder fazer o que preferirem".

Thiem, 23, sétimo colocado no ranking e um jogador em ascensão, enfrentou críticas fortes em seu país por sua falta de interesse pela Olimpíada. O editor de esportes do jornal austríaco "Kronenzeitung" publicou uma carta aberta apelando a Thiem que jogasse.

O atleta, cujo objetivo este ano é ficar entre os 10 primeiros do ranking da ATP, disse que sua concepção do tênis jamais incluiu a Olimpíada, que só voltou a incluir o esporte em 1998, depois de uma ausência que durou a maior parte do século passado.

"Continuo a achar que natação e atletismo são os verdadeiros esportes olímpicos", disse Thiem.

Roberta Vinci, que ficou com o vice-campeonato do Aberto dos Estados Unidos no ano passado, planeja jogar no Rio, mas ecoou os pensamentos de Thiem sobre o vínculo entre seu esporte e o evento.

"Se você pensa em um grande torneio de tênis, provavelmente pensa em Wimbledon, Roland Garros, mas não a Olimpíada", disse Vinci ao boletim noticioso "WTA Insider". "Se você pratica natação, aí sim a Olimpíada é inacreditável".

Jogadores que já conquistaram o ouro olímpico sentem mais apego ao evento. Andy Murray, que venceu ouro na simples e prata nas duplas mistas em Londres, se disse confuso por outros jogadores não quererem jogar a Olimpíada.

"Há motivos diferentes para jogar torneios, às vezes", disse Murray. "Para mim, na Copa Davis e Olimpíada, não estou jogando por pontos no ranking".

Venus Williams, ganhadora de quatro medalhas de ouro, disse que suas vitórias olímpicas são suas maiores realizações.

Thomas Samson/AFP
A americana Venus Williams, ganhadora de quatro medalhas de ouro
A americana Venus Williams, ganhadora de quatro medalhas de ouro

"O momento de maior orgulho para mim é ouvir na quadra o anúncio do resultado olímpico", disse Williams. "Para mim, parece legítimo".

Ela mais tarde expressou incompreensão pelos pontos no ranking se terem tornado obstáculo.

"Quem precisa de pontos no ranking se você pode ganhar uma medalha de ouro?", ela disse.

O canadense Milos Raonic, nono no ranking da ATP, foi eliminado na segunda rodada de sua única participação olímpica, mas expressa sentimento semelhante.

"Com pontos ou sem, não importa", ele disse. "Penso que o objetivo e o alvo são simples: você está lá para ganhar uma medalha –quanto mais reluzente, melhor".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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