O revezamento da tocha chega neste sábado (17) a Roraima, a última fronteira olímpica do Brasil.
Considerando atletas dos 26 estados e o Distrito Federal, apenas roraimenses ainda não representaram o país em uma Olimpíada.
A chegada da chama à capital Boa Vista poderia representar uma mudança nesse distanciamento com os Jogos.
Primeiramente porque, desde que chegou da Grécia, o fogo olímpico nunca esteve tão distante do Rio de Janeiro quanto neste sábado.
Além de ser a única cidade do país totalmente no hemisfério norte que receberá a chama, Boa Vista é a mais distante de todas em relação à sede olímpica deste ano —2.435 quilômetros em linha reta (ou cerca de 5.000 por estradas).
E um dos 155 condutores da tocha na capital roraimense seria um atleta nascido no estado e que tem chances de disputar os Jogos do Rio, em agosto: o jogador Thiago Maia, do Santos.
Porém, o clube paulista enfrenta o Atlético-PR, neste sábado (17), às 18h, em Curitiba, e Thiago Maia não foi liberado.
| Moacyr Lopes Junior/Folhapress | ||
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| Thiago Maia durante entrevista exclusiva para a Folha |
"Fico feliz porque meu estado é muito carente não só de futebol como de qualquer esporte. Por isso onde eu vou levo o nome de Roraima. Sempre que tenho oportunidade falo de Roraima, sou roraimense com muito orgulho. Ficarei feliz se for o primeiro roraimense na Olimpíada", disse Thiago Maia à Folha.
O volante de 19 anos é constantemente convocado para a seleção olímpica e deve estar na lista da Rio-2016. Quando ainda estudante em Boa Vista, Thiago Maia diz que assistia a jogos de vôlei e queria jogar handebol, mas o "pai não deixava".
Fã do jogador de basquete norte-americano Stephen Curry, que não irá aos Jogos, e do tenista sérvio Novak Djokovic, o volante do Santos quer mesmo encontrar Neymar na Olimpíada.
ÚLTIMA FRONTEIRA
A professora e pesquisadora Kátia Rubio, autora do livro "Atletas Olímpicos Brasileiros", confirma que seu grupo de estudo olímpicos da USP não encontrou um roraimense sequer nos Jogos.
"Depois de entrevistar mais de 1.300 dos 1.796 atletas olímpicos brasileiros não encontramos nenhum que tenha nascido em Roraima. Há aqueles que ao longo da vida se deslocam de uma cidade para outra, ou mesmo estado, mas Roraima foi o único estado brasileiro em que não estivemos para uma entrevista", diz Kátia.
Outro atleta que tem chances de ir ao Jogos do Rio e é conhecido como roraimense é Ailson Feitosa, 27.
Especialista na prova dos 100 m do atletismo, Ailson adotou Roraima como seu estado —e vice-versa—, mas nasceu em Tocantins.
"Só nasci em Sítio Novo do Tocantins. Minha mãe [Rosilda] fugiu do meu pai quando eu tinha um ano e sete meses e foi para Boa Vista. Todo mundo me conhece como sendo de Roraima, morei até os 18 anos lá", conta Ailson.
Estado menos populoso do país, com cerca de 500 mil habitantes, quase metade na capital, segundo Ailson, Roraima também sofre com a falta de apoio para o esporte.
"As condições são precárias, tanto em estrutura quanto em profissionais. Mas isso não é só em Roraima, é no Brasil", diz o atleta que nasceu em 1988, mesmo ano em que Roraima passou de Território Federal para estado-membro da Federação.
VAGA OLÍMPICA
Ailson se mudou para São Paulo após ser descoberto nas pistas de Boa Vista. Recebeu moradia e R$ 50 por semana para competir. Chegou a ser medalhista de ouro no Pan de Guadalajara, em 2011, com a equipe do 4 x 100 m.
Nos dois últimos anos, porém, conviveu com lesões no pé esquerdo e na perna direita. Hoje é o sexto atleta mais rápido do Brasil (10s33), tenta vaga na equipe do revezamento dos Jogos e ainda busca o índice dos 100 m.
| Danilo Verpa/Folhapress | ||
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| Ailson Feitosa pode ser o primeiro atleta de Roraima na Olimpíada |
Mas, devido à indefinição nas pistas em 2014 e 2015, ele perdeu todos os patrocinadores e o contrato com seu ex-clube, a BM&F.
"Os clubes queriam que eu competisse sem receber. De graça eu compito pelo meu estado", afirma Ailson.
Hoje ele é terceiro sargento da Marinha e treina no Núcleo de Alto Rendimento em São Paulo, mas representa o Clube de Atletismo de Roraima nas competições.
Com o salário das Forças Armadas paga as contas e a faculdade de educação física. A moradia fica por conta do atleta de paracanoagem Fernando Fernandes, com quem mora em São Paulo.
"Sou muito grato por tudo que Roraima representa na minha vida, por ter acolhido minha família e por me apresentar ao esporte. Foi lá que cresci como atleta e como pessoa", conclui o —por quê não?— atleta roraimense.
O repórter MARCEL MERGUIZO viaja a convite do Bradesco