A vida dele é andar por este país, desde 3 de maio, para ver se em 5 de agosto descansa feliz.
Guardando as recordações das terras onde passou, o tenente-coronel Francisco Cantarelli, 39, comanda a operação de segurança aproximada da tocha olímpica.
Das terras onde passou, andando pelos sertões e dos amigos que lá deixou, ele guarda como momento mais emocionante o dia 30 de maio, em Caruaru (Pernambuco).
"Chuva e sol, poeira e carvão", cantou o pernambucano nascido em Floresta, mas que ali em Caruaru havia começado a carreira como oficial do Corpo de Bombeiros em 1998. Quando soube que seria um dos condutores da tocha olímpica, escolheu a cidade para percorrer seus 200 metros do revezamento. Nos cerca de 1min30 que esteve com a chama olímpica, ele e uma dezena de outros homens da Força Nacional de Segurança cantaram "Vida de Viajante", de Luiz Gonzaga, emocionaram o país e fizeram fama nas redes sociais.
Divulgação/Rio-2016 | ||
Comandante da segurança aproximada da tocha, Francisco Cantarelli fez parte do revezamento da chama em Caruaru (Pernambuco) |
"Não houve planejamento. De onde surgiu: na parte terrestre pegamos muito tempo de estrada. Aí é ócio criativo, e puxar uma canção para passar o tempo é um desses momentos. 'Vida do Viajante' começamos a cantar já dentro do ônibus. Quando o primeiro homem do efetivo teve a oportunidade de correr com a tocha, começamos a fomentar a ideia. Aconteceu outras vezes já. Aí a gente vislumbrou a situação em Caruaru. Sempre que um de nós estava correndo, agregávamos esse valor para o efetivo. É como uma canção militar, para buscar energia onde o camarada não tem. Fazer com que aquela áurea, além das energias que o homem tem, venha à tona para cumprir a missão com maior afinco", afirma Cantarelli à Folha, em Manaus (Amazonas).
Longe de casa, em Brasília (DF), ocorreu, até agora, o momento mais tenso. "O primeiro dia é sempre muito difícil. Brasília foi muito duro, logo no Eixo Monumental. Fizemos o planejamento de colocar 45 homens ali na proteção e, realmente, bateu com o que vinhamos pensando para resistir a certas manifestações. Depois as coisas tenderam a diminuir", explica o tenente-coronel.
Seguindo o roteiro, mais uma estação e a alegria no coração de já ter cumprido metade da missão que inclui 327 cidades de todos os Estados brasileiros e o Distrito Federal. "Com problemas gerenciáveis até o momento".
Mar e terra, inverno e verão, e o comboio que estava no Norte do país ainda passa pelo Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Mas são Rio de Janeiro e São Paulo que mais preocupam o efetivo de segurança que conta com um contingente de 70 oficiais como policiais militares, bombeiros, policiais civis e perícia forense, com representantes de 26 Estados.
Alguns deles, como Cantarelli, já conduziram a tocha no revezamento. Muitas vezes são necessárias substituições porque um condutor não pode comparecer.
"Para mim foi muito emocionante conduzir em Caruaru por uma série de fatores: estava ao lado da minha família, realizando o que foi planejado em um ano de trabalho. Fica impossível não se emocionar numa situação como essa, observando que as coisas estão sendo concretizadas com aquilo que imaginou e estão no caminho certo, correto. Não tinha como não vibrar no fundo da alma e escolher aquele momento como único na vida", diz, emocionado, o comandante que garante a segurança da chama olímpica.
"Mostre alegria", diz outro trecho da canção de Luiz Gonzaga que os organizadores do revezamento sempre repetem para cada um dos 12 mil condutores antes de a chama chegar à tocha. Cantarelli mostrou. E, para ele, não serão apenas alguns segundos correndo junto à tocha, mas 95 dias protegendo o fogo olímpico, normalmente das 6h às 20h, em uma jornada que ele define como "gratificante mas cansativa". "Cumpro a missão, que acaba dia 5 de agosto, e se Deus quiser sem constar alterações", conclui.
E a saudade no coração.
O jornalista MARCEL MERGUIZO viajou a Manaus a convite do Bradesco
William Lucas/Bradesco | ||
O tenente-coronel Francisco Cantarelli segura lanterna com a chama olímpica em barco no Rio Negro, em Manaus (Amazonas) |