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Treinador da seleção de basquete critica formação de atletas no Brasil

O técnico da seleção brasileira masculina de basquete, o argentino Rubén Magnano, 61, está otimista.

A empolgação dele com a Olimpíada do Rio é tamanha que ele fala até em ouro, mesmo sabendo que os grandes favoritos são os Estados Unidos, campeões de cinco dos últimos seis Jogos.

"Temos condições de lutar por uma medalha. Não sei qual. Mas, pela minha experiência, pode ser ouro", disse à Folha Magnano, que foi campeão com a Argentina em Atenas-2004, na Grécia.

O Brasil está no grupo B da Rio-2016, ao lado de Espanha, Argentina, Lituânia, Nigéria e um time ainda a ser definido –sairá do torneio pré-olímpico.

Já a chave A tem Estados Unidos, China, Austrália, Venezuela e mais duas equipes que também sairão do pré-olímpico.

Apesar dos elogios ao atual elenco da seleção, Magnano faz críticas à formação de jogadores de basquete no Brasil e se diz chateado com os pedidos de dispensa que o atormentaram desde que ele chegou ao país, em 2010.

Recentemente, o pivô Cristiano Felício, 23, do Chicago Bulls, que seria convocado para os Jogos do Rio, disse não à convocação do treinador.

"Os garotos novos com potencial são mal ensinados", afirmou.

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Qual a condição física dos jogadores que se apresentaram na semana passada?
Muitos deles já vinham trabalhando duro há muito tempo. Chegaram com um condicionamento muito bom. Passaram nas avaliações nutricional e física e estão num percentual bom. É um grupo com muito potencial. Se fizer uma análise, são quase os mesmos nomes das últimas competições internacionais.

A lista de convocados tem média de 30 anos. Não é muito?
O negócio é como chegam os atletas aos 30 anos. Temos jogadores que estão acima dos 30 e estão muito bem fisicamente. Eu não vejo a média de 30 anos como ruim. E você pode misturar um pouco os atletas mais experientes com os mais novos.

O tempo de preparação para a Olimpíada é bom?
Sim. Sofremos um pouco com as permissões da NBA porque o calendário bateu com o nosso, assim como o do NBB. A primeira data que me passaram dizia que a final [do NBB] seria no final de maio e acabou sendo 11 de junho. Mas não se pode fugir disso. Sobre a NBA, por exemplo, não deixaram o Raulzinho vir antes do dia 30. Há uma regra na Fiba [Federação Internacional de Basquete] que está em parceria com a NBA sobre a quantidade de dia que um atleta tem que descansar.

Você já tem em mente um time titular?
Eu não falo em time titular. Essa é a primeira coisa. Eu falo em jogadores que abrem o jogo. Quem acaba? Eu não sei. Se você notar, muitos dos que começam não acabam. Cinco abrem a partida, mas isso não quer dizer que eles vão fechar e eu nem sei quantos minutos jogarão. Não há titulares na equipe do Brasil. Há jogadores importantes, com peso maior, mas podemos começar de diferentes maneiras. O importante é que todos estejam envolvidos e sintam confiança. Isso é mais importante do que abrir o jogo ou não.

Qual a grande diferença dessa seleção para a de Londres-2012?
A diferença básica é de experiência, a idade dos atletas, do treinador, um Mundial a mais, partidas nos clubes. Acho que temos uma equipe muito experiente, já com Jogos Olímpicos e Mundial nas costas. Isso é um plus. Uma coisa boa.

O Leandrinho é o grande protagonista dessa seleção?
O protagonista é a equipe. Essa é a minha regra número um. Ninguém está por cima do time. Acho que o Leandrinho é o nosso pontuador. Vamos aproveitar ele ao máximo porque acho que foi, pela minutagem que jogou e pela produção dele na final da NBA, excelente, jogou muito bem. Na média de 15 minutos, jogou extremamente bem, defendendo e atacando. Vai ter muita responsabilidade ofensiva na seleção e sabemos do potencial dele. Mas não podemos falar que Leandrinho está acima da equipe.

Preocupa o fato de muitos desses jogadores serem coadjuvantes em seus times e, agora, terem que exercer papel de protagonista?
É mais do que preocupante. Para mim, é desafiante. Eu já vi esses jogadores jogando em outros times como protagonistas, tomando decisões importantes, e nós temos que recuperar essa memória basqueteira. Mostrar o que eles faziam, fazem e o que são capazes de fazer. Temos o compromisso de trabalhar para que esses atletas se sintam importantes dentro da equipe.

E o fato de jogarem pouco, como acontece na NBA, também preocupa?
É muito ruim para nós. É outro desafio para nossa comissão técnica, de colocar os jogadores em atividade de jogo para ver se eles podem produzir.

A seleção não teve grandes resultados nos últimos anos. É preciso recuperar a moral e a autoestima desses jogadores?
A autoestima passa por uma variável que se chama confiança. Você vai passando essa confiança por meio do trabalho. E a maneira de alimentar a autoestima está no retângulo [na quadra], no trabalho diário, e não na hora de jogar. Durante o período de preparação, você tem a obrigação de aumentar a autoestima. Vamos incorporar um psicólogo que trabalhará nesse aspecto porque temos um ano muito particular. E é um privilégio. Se não está motivado e confiante a 30 dias de um jogo olímpico, quando vai estar?

A seleção já teve psicólogos antes com você?
Sim. A primeira vez foi no ano passado, nos Jogos Pan-Americanos. Foi a primeira experiência. Achei bacana a incorporação. Foi positivo. É uma ajuda mais. São especialistas do negócio.

Qual a avaliação que você faz da chave do Brasil na Rio-2016?
Eu estive perto do sorteio, escutei nome por nome e quando acabou, já foi. O que posso fazer? Lamentar-me? Ou preparar-me? Não dá para lamentar e nem supor nada. Vamos jogar jogo por jogo.

Temos chances de conquistar a medalha de ouro?
A minha perspectiva fala que nós temos condições de lutar por uma medalha. Não sei qual. Mas, pela minha experiência, pode ser ouro.

O que a sua experiência diz exatamente?
Quando cheguei ao Brasil, o país estava entre os 16 primeiros do mundo. Hoje, está entre os nove melhores [do ranking]. A seleção ficou fora de três Olimpíadas [de 2000 a 2008] e recuperamos a possibilidade de jogar [em 2012]. Além disso, tivemos uma sexta posição no Mundial da Fiba, em um universo de 220 países que jogam basquete. E se levarmos em consideração a estrutura do nosso basquete, é muito elogiável.

Quais são as variáveis que produzem esses resultados? Quantidade de atletas, de clubes, estrutura competitiva, quantos atletas temos fora do país, quantos são importantes e decisivos... A nossa seleção está bem ranqueada e é muito respeitada no mundo. Nos últimos anos, jogamos contra as melhores equipes do mundo. Perdemos e ganhamos. Por isso que falo que minhas perspectivas são boas. Sei que temos um grupo muito duro, mas vai ser duro para eles também.

Você pode fazer um paralelo dessa seleção brasileira com a Argentina campeã olímpica, em 2004?
É um tema estrutural. A Argentina tem, hoje, cerca de 1.300 clubes de infantil a adulto jogando obrigatoriamente. São equipes de bairro, de pequenas cidades, associações e federações. Não quero errar, mas, no Brasil, eu não sei se chegamos a 300. E aqui são times a partir dos 13 anos, e não oito [como é na Argentina]. Um garoto de 16 anos na Argentina joga uns 50, 60 jogos por ano. Não vou pegar isso e falar 'perdemos por isso'. Mas é uma comparação. Onde nascem esses atletas? Nascem de uma estrutura assim [como na Argentina], ou de uma estrutura assim [como no Brasil]? A partir daí você começa a ver futuras possibilidades de campeões do mundo, finais olímpicas, de medalha. Não é colocar uma turma num forno e tirar para jogar uma Olimpíada. São muitos anos de trabalho. A comparação, para mim, passa por aí, basicamente.

E enquanto estive na Argentina, eu nunca tive pedido de dispensa. Isso faz com que anualmente você tenha uma quantidade de jogadores treinando com você. Aqui, tem jogadores que nunca falaram sim para a seleção por dois, três anos. Isso dificulta. Eu falo isso não para justificar, mas sim para esclarecer a situação. Porque o meu foco é para frente, não para trás. Os caras que não estão, já se foram. Ficar falando disso é valorizar os caras que não estão. Temos que valorizar o cara que está aqui trabalhando.

Falta comprometimento no Brasil?
Não se pode colocar todo mundo no mesmo saco. Temos uma má educação em relação a isso. Os garotos novos, com grande potencial, são mal ensinados. Fico chateado com esses casos porque direta ou indiretamente afetam o nosso basquete.

Bem diferente da Argentina, né?
Eu não vivi essas situações lá. Mas um país é um país e outro é outro. Não sou brasileiro, mas me sinto como tal, tenho obrigação de me sentir como tal e defender as cores do Brasil. Isso está muito claro. Mas fico surpreendido por essas atitudes. Fiquei 12 anos na seleção argentina. Oito como assistente e quatro como técnico.

Há uns quatro, oito anos se falava muito em renovação no basquete para chegarmos com um time forte na Rio-2016. Mas, hoje, temos um time com idade média de 30 anos. Nós perdemos este ciclo olímpico?
Não digo que perdeu, mas poderia ter aproveitado muito mais. Com quatro anos, não se pode fazer um atleta olímpico. São sequências de muitos anos para se ter atletas olímpicos. Não se pode colocar 15 garotos no forno e tirar em quatro anos para uma Olimpíada. Há muitas variáveis. Temos que melhorar a estrutura para ser forte a cada quatro anos, porque se você analisa, não é um problema do comitê olímpico, mas sim da nossa estrutura. Vou repetir uma coisa: quantidade de clubes, nível de competição, quantidade de atletas...

Quando começamos a jogar basquete, damos uma oportunidade a um garoto para jogar basquete em seu bairro? Temos que aproveitar a sequência de ciclos olímpicos. É muito mais complicado do que falar que perdeu um ciclo olímpico em quatro anos. É muito mais que isso. Em Cuba se diz que a idade ideal para um atleta olímpico é de 27, 28 anos.

OS CONVOCADOS PARA A RIO-2016

ARMADORES
Raulzinho (Utah Jazz), Marcelinho Huertas (Los Angeles Lakers) e Rafael Luz (Flamengo)

ALA-ARMADORES
Leandrinho (Golden State Warriors), Vitor Benite (Murcia) e Larry Taylor (Mogi das Cruzes)

ALAS
Alex Garcia (Bauru) e Marquinhos (Flamengo)

ALA-PIVÔS
Guilherme Giovannoni (Brasília) e Rafael Hettsheimeir (Bauru)

PIVÔS
Anderson Varejão (Golden State Warriors), Nenê (Washington Wizards) e Augusto Lima (Real Madrid)

Basquete

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