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Sírios têm de contornar a guerra civil do país para se preparar para os Jogos

Quando finalmente saltar na Olimpíada do Rio, após meses de intenso treino e de expectativa, o atleta Majd Ghazal, 29, avaliará seus objetivos com duas medidas.

A primeira avaliação, e mais imediata, será vertical: chegar o mais alto possível e, assim, vencer a prova na modalidade salto em altura.

Sua segunda meta é colocar uma medalha no pescoço e provar que, a despeito da guerra que assola a Síria, o país é capaz de ser notícia por seu bom desempenho.

Wang Lili/Xinhua
(160518) -- BEIJING, May 18, 2016 (Xinhua) -- Majd Eddin Ghazal of Syria competes during Men's High Jump Final at 2016 IAAF World Challenge Beijing at National Stadium in Beijing, China on May 18, 2016. Majd Eddin Ghazal claimed the title with 2.36 metres. (Xinhua/Wang Lili)
Majd Eddin Ghazal durante a final do desafio Mundial de salto, na China

Majd é um dos cerca de oito atletas sírios classificados para os Jogos. Sua arriscada rotina de treinos, e os obstáculos políticos que tem de saltar, dão testemunho das provas cotidianas enfrentadas pela população.

A Síria vive um conflito civil desde as manifestações de 2011 que pediam maiores liberdades. O país é governado pelo ditador Bashar al-Assad desde 2000, data da morte de seu pai, Hafez al-Assad.

A repressão do regime e a entrada de grupos armados levaram ao recrudescimento do confronto. Há controvérsias sobre o número de vítimas, mas estima-se que quase 500 mil pessoas tenham sido mortas, além da devastação da estrutura do país.

A situação é especialmente delicada desde que a organização terrorista Estado Islâmico estabeleceu-se, em 2014, em um território que inclui partes da Síria e do Iraque. Há confrontos entre diferentes grupos, incluindo uma franquia da Al Qaeda.

O estádio Tishrin, onde Ghazal treina o salto, está a alguns quilômetros dos combates ao redor da capital síria, Damasco. No passado, alguns atletas foram feridos por ataques vindos de regiões tomadas por rebeldes.

"É difícil, mas gosto de desafiar-me nessa situação", o esportista diz à Folha em entrevista por telefone. Ele afirma não ter receios de ferir-se durante os treinos diários.

Mas ele lamenta não ter tido a oportunidade de viajar ao Marrocos e à Europa para participar de competições, o que poderia ter ajudado na sua preparação para a Olimpíada. Há bloqueios e restrições à movimentação de sírios, devido ao conflito.

"Não me deram o visto porque sou sírio", afirma. "Perdi tempo em que podia ter me tornado mais forte."

Ghazal participou das Olimpíadas de 2008 e 2012, mas não saltou alto o suficiente para receber uma medalha. Ele participou de outros eventos esportivos, nos últimos anos, em países como Coreia do Sul e Índia.

Wang Zhao/AFP
Majd Eddin Ghazal of Syria celebrates after winning the final of the men's high jump at the IAAF World Challenge held at the National Olympic Stadium or 'Birds Nest' in Beijing on May 18, 2016. / AFP PHOTO / WANG ZHAO ORG XMIT: WZ1785
Majd Eddin Ghazal comemora resultado no desafio Mundial de salto, na China

MARÉ

A atleta síria Baya Jumah, 22, também irá ao Rio para competir. Sua meta será horizontal: ela disputará as medalhas dentro da piscina, no nado feminino. Nascida em Aleppo, no norte da Síria, ela treina hoje na Rússia, de onde falou com a reportagem.

Jumah participou, assim como Ghazal, dos jogos de 2008 e 2012. Neste ano, dentro do contexto político, a disputa terá outro significado para ela. "Pode ser um momento feliz para a Síria."

A nadadora diz que não deixou a Síria devido à guerra, mas porque não havia outras atletas na sua modalidade com quem praticar.

"As pessoas fora da Síria pensam que há apenas a guerra, por causa da televisão e da internet", lamenta.

Mas há guerra, e com impacto também na comunidade esportiva. Parte dos atletas alinhou-se com o regime, e outra parte com rebeldes.

Ambos os esportistas, no entanto, preferem não conversar com a reportagem sobre o conflito sírio. "Eu falo sobre esporte, e não sobre política", afirma Ghazal.

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