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Sem chances, muitas meninas se perderam no futebol, aponta Marta

Com quatro Copas do Mundo e de três Jogos Olímpicos no currículo, a atacante Marta, 30, afirma que o país não soube aproveitar o auge da seleção brasileira feminina de futebol para fazer uma renovação e se manter como uma das principais potências no cenário internacional.

Medalha de prata em Atenas-2004 e Pequim-2008 e vice-campeã mundial em 2007, o time feminino não conseguiu repetir a dose em Londres-2012 e nos Mundiais da Alemanha-2011 e do Canadá-2015. Foram duas eliminações nas quartas de final e uma nas oitavas, respectivamente. Atualmente, a seleção é a oitava no ranking da Fifa.

Das 18 convocadas para a Rio-2016, apenas sete já disputaram uma Olimpíada.

Eleita cinco vezes a melhor jogadora do mundo pela Fifa, a camisa 10 do time comandado pelo técnico Vadão afirmou também que é a favor da igualdade de premiação e de salários entre homens e mulheres.

Em março, as jogadoras da seleção feminina dos EUA, atual campeã mundial e olímpica, apresentaram queixa formal às autoridades do país sobre a desigualdade de salários e premiações entre homens e mulheres no esporte.

Marta joga neste sábado (23) no amistoso da seleção contra a Austrália, em Fortaleza.

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Folha - Por que a seleção feminina não subiu ao pódio em Londres-2012 e nos dois últimos Mundiais? A equipe parou no tempo ou os outros países melhoraram?

Marta - A gente não teve um trabalho com aquela base que tínhamos desde 2004. Muitas meninas se perderam pelo caminho. No Brasil, infelizmente, por falta de oportunidade ou pela opção de trabalhar para se manter, muitas acabam desistindo. É difícil dar uma continuidade. Não dá para manter o mesmo nível se no país não há renovação. Não temos facilidade para encontrar atletas como acontece nos EUA ou na Alemanha. Esse grupo que temos é bem diferente. Tivemos que refazer tudo de novo. Há dois anos estamos trabalhando essa geração.

Quais são as chances da seleção brasileira feminina na Olimpíada do Rio?

Veremos quando a bola começar a rolar. Não gosto de ficar falando. Vamos buscar a nossa chance de ganhar a medalha a cada jogo. Temos que subir um degrau a cada partida. Depois dos três primeiros jogos, podemos ter uma noção melhor.

Existe uma explicação para as derrotas da seleção brasileira em finais? A equipe deveria ter um trabalho psicológico?

São coisas [como a pressão] que a gente acredita que possam atrapalhar, mas não temos uma resposta definitiva sobre o que acontece. Se a gente tivesse, faríamos totalmente o contrário nas finais. O fator psicológico vai de cada atleta. As que não estiverem bem, precisaremos trabalhar isso com elas. Se chegarmos a uma final, a equipe tem que estar bem para que nada influencie o grupo negativamente.

Existe pressão ou cobrança pela medalha de ouro?

Desde que a seleção se formou, e o apoio era menor, já exista a cobrança. No Brasil, o segundo lugar é menos do que nada. Se fosse, estaríamos uma situação melhor pelas duas pratas que conseguimos. Não podemos nos cobrar muito, das outras vezes houve bastante cobrança e isso atrapalhou.

Quais são as seleções que podem ganhar medalha?

Os Estados Unidos, atuais campeões olímpicos, a Alemanha, que sempre cresce nesse tipo de competição, a França, que tem uma equipe muito boa, e a Austrália, responsável pela nossa eliminação no Mundial. São diversas equipes boas e ninguém virá ao Brasil para passear.

Você disputará sua quarta Olimpíada. Pretende jogar até quando?

Não penso em aposentadoria ainda. Quero viver o momento. Quero jogar essa Olimpíada. Ano que vem é outra história. Meu corpo também tem que responder da melhor maneira necessária para jogar em alto nível. Se eu estiver dando conta do recado, posso jogar outra Olimpíada, sim.

As norte-americanas reivindicam prêmios e salários iguais aos dos homens. Acha possível levantar essa bandeira?

Sou a favor da igualdade. Não apenas no sentido do esporte, mas no sentindo da vida. Levanto essa bandeira desde que me entendo por gente, desde que comecei a praticar esse esporte que considero tão discriminatório, tão preconceituoso. Venho brigando por isso desde que falei que queria jogar bola. Na minha infância, eu brigava para jogar bola. Brigava com a família, com os primos.

A presidente afastada Dilma Rousseff incluiu no Profut [lei para ajudar os clubes a quitar dívidas com a União] obrigatoriedade para os clubes investirem no futebol feminino. Como vê essa medida?

Se os clubes [de camisa] tiveram a modalidade, vão atrair mídia e torcida. Mas não defendo que apenas os clubes de camisa tenham futebol feminino. Defendo que os clubes pequenos, aqueles que ninguém conhece, possam manter a modalidade.

Como você vê a crise administrativa na CBF?

Se existe alguma diferença, não percebemos. Sentimos a diferença apenas no desenvolvimento, que é melhor. As condições de trabalho que temos no dia a dia também são as melhores. Tentamos não nos envolver.

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