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'Jogos podem mudar como somos vistos', diz nadadora refugiada da Síria

Dois nadadores refugiados da Síria que estão no Rio para competir nos Jogos Olímpicos não têm pretensão de conseguir alguma medalha.

O objetivo é mostrar ao mundo que refugiados são mais do que apenas pessoas que deixam seus países e buscam abrigo em outra nação.

A partir de decisão inédita do COI (Comitê Olímpico Internacional), dez deles disputarão os Jogos sob a bandeira olímpica –eles formarão a primeira delegação a desfilar atrás do Brasil na cerimônia de abertura no Maracanã.

Os nadadores Yusra Mardini, 18, e Rami Anis, 25, foram os primeiros do grupo a chegar à Vila Olímpica. Na quarta (27), fizeram o primeiro treino nas instalações.

Os atletas são amigos desde os três anos. Treinavam juntos no time nacional de natação quando, em 2011, os protestos populares inspirados na Primavera Árabe de Egito e Tunísia escalaram para uma violenta guerra civil.

Em quatro anos e meio de conflito, ao menos 250 mil sírios morreram e 11 milhões deixaram suas casas.

Rami tinha 20 anos quando a guerra explodiu. Era uma promessa nos 100 m borboleta, mas, temendo ser convocado para lutar nas forças do regime, deixou o país com sua família e buscou refúgio na Turquia. Yusra saiu da capital Damasco em 2015, com o recrudescimento da guerra. Com a irmã, foi para Berlim.

Yusra, que nada os 100 m livre, só voltou a treinar quando chegou à Alemanha. Rami nada na Bélgica, onde foi morar, desde o fim de 2015.

Como refugiados, eles têm permissão para viver nos países de refúgio, mas não têm cidadania reconhecida. Por isso não puderam participar de competição internacional desde que deixaram a Síria.

"Participar da Olimpíada é uma oportunidade de mostrarmos que os refugiados em todo o mundo são pessoas que, antes de fugir, tinham uma vida, uma história, um trabalho", diz Yusra. "Somos algo além de refugiados. É uma forma de mudar a maneira como somos vistos."

Quando falou à Folha, na zona internacional da Vila Olímpica, ela estava animada por estar no Brasil e fazia as vezes de tradutora de seu colega de equipe, Rami, que, tímido, não quis se arriscar no inglês, embora entendesse tudo o que era dito.

Por causa do período longe das piscinas, ambos sabem até onde vão suas possibilidades. "Pretendo bater meu recorde pessoal. Dificilmente, chegarei a uma semifinal, mas estou muito satisfeito de estar aqui", diz Rami.

"Só consigo pensar em medalha em Tóquio [2020]. Estou aqui para retomar minha vida como atleta", diz Yusra.

Nesta sexta chega ao Rio o restante da delegação –cinco corredores do Sudão do Sul, um maratonista da Etiópia e dois judocas da República Democrática do Congo.

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Que esporte é esse? - Olimpíada - Folha de S.Paulo

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