Em Itu, cidade do interior paulista, a seleção masculina de futebol do Iraque tem gerado comoção. Instalada em 25 quartos do Spa Sport Resort desde 19 de julho, a delegação do time que enfrentará o Brasil na segunda rodada da fase de grupos na Rio-2016 tem sido protagonista de um choque cultural bem-humorado com os hóspedes e funcionários do hotel.
"Culturalmente, eles são bem diferentes da gente. Falam um pouco mais alto, comem pratos específicos", explica à Folha José Carlos Otonari, proprietário do hotel que recentemente hospedou a seleção brasileira feminina de futebol.
A delegação deu orientações explícitas para não ser incomodada com entrevistas ou imagens feitas pela imprensa. Em conversas com moradores da região, hóspedes e funcionários do hotel, a reportagem foi informada dos desdobramentos do encontro.
| Divulgação/Spa Sport Resort | ||
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| Seleção olímpica iraquiana durante treino em Itu, no interior de São Paulo |
Nas refeições, eles preferem usar as mãos para comer, dispensando os talheres. Os pratos são preparados por um chefe que cozinha para o embaixador do Iraque em Brasília e veio para São Paulo para agradar o paladar da delegação de cerca de 40 pessoas.
Além da escolha dos temperos corretos, Nabel Al-Dulaimi tem a responsabilidade de atestar que as carnes são "halal", ou seja, preparadas segundo preceitos islâmicos. Entre esses procedimentos estão a menção ao nome de Alá antes do abate do boi; a obrigatoriedade de um muçulmano como sangrador; e o abate dos bois a partir de corte da veia jugular.
Os brasileiros do hotel fizeram um churrasco com carne "halal" (alcatra e frango) para os iraquianos, que gostaram do estilo do preparo. Após comerem as carnes, os atletas aproveitaram que a churrasqueira ainda estava acesa, pegaram panelas e fizeram chás. Amistosos, eles ofereceram a bebida a todos os envolvidos na ceia.
Algumas camareiras ficaram espantadas nos primeiros dias ao serem abordadas pelos hóspedes e se queixaram a superiores de que eles estavam gritando com elas. No entanto, aos poucos elas perceberam que eles falavam da mesma maneira entre si, e que elas que não estavam acostumadas com a fonética do árabe e o gestual dos iraquianos, que faziam apenas requisições simples, como mais cobertores ou o conserto do chuveiro que não estava esquentando o suficiente.
| Divulgação/Spa Sport Resort | ||
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| Seleção olímpica iraquiana durante treino em Itu, no interior de São Paulo |
Em um passeio por um shopping da região, eles fizeram compras e a cada loja que entravam, deixavam as sacolas empilhadas do lado de fora. Eles foram então alertados pelos brasileiros: "se continuarem fazendo isso, uma hora vocês não vão mais achar essas sacolas". Os iraquianos acharam graça da situação. No mesmo passeio, uniformizados, eles foram parados por diversos moradores da região para tirarem "selfies".
Nesse período, segundo Otonari, eles têm treinado pouco. Eles ganharam um amistoso da seleção da Coreia do Sul por 1 a 0 no último domingo (24) e desde então têm se restringido mais aos exercícios físicos.
"Eles estão maneirando, cancelaram o jogo-treino com o Palmeiras. Acho que eles querem chegar embalados, `por cima', na Olimpíada", especula Otonari.
Nesta sexta-feira (29), a delegação iraquiana deixou Itu e partiu para Brasília, onde fará sua estreia em 4 de agosto, contra a Dinamarca, no estádio Mané Garrincha.
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