Publicidade
Publicidade

Crise dificulta visão positiva do país sobre Jogos, diz Paes

A poucos dias da abertura da Olimpíada, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), afirma que o evento só terá uma imagem totalmente positiva no longo prazo.

Para ele, o "mau humor" causado pelas crises econômica e política dificultaram a boa percepção dos Jogos pelos brasileiros. Paes diz que nem o evento deve ajudar nessa melhoria.

"A visão da Olimpíada, do processo como um todo, acontece ao longo do tempo. Não vai acontecer por causa da distribuição de medalhas. É uma análise um pouco mais para frente", disse o prefeito.

Apesar disso, o peemedebista insiste em defender o evento. E afirma que os brasileiros devem se orgulhar da Olimpíada ser entregue sem atrasos num país em crise.

Paes rejeita a tese de que os problemas da Vila Olímpica e a solução encontrada em cima da hora reforçam a imagem do jeitinho brasileiro.

"A falha na Vila não foi de um brasileiro [o responsável era o argentino Mario Cilenti, diretor da Vila, afirma.

Ricardo Borges/Folhapress
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, durante entrevista em seu escritório
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, durante entrevista em seu escritório

*

Folha - Qual sua avaliação dos primeiros dias da Olimpíada?
Eduardo Paes - Tivemos um problema de gestão, de desatenção [na Vila Olímpica], que deu um sinal de alerta para que todos chequem os seus modelos de operação. Se tivesse que acontecer algum problema, melhor na largada. Tem muita gente competente no comitê organizador.

Tem gente incompetente no comitê?
Falharam antes. A Vila nunca entrou no radar de ninguém. Faço reunião com o comitê organizador, com o COI, quase diariamente nos últimos meses. Nunca foi um ponto de alerta. Agora é olhar para frente e não repetir erros primários. Problemas irão acontecer. É natural num evento dessa dimensão. Mas não podem ocorrer por vacilos.

Há agora o problema na segurança.
Isso vai ser resolvido.

Não é um improviso?
É injusto chamar de improviso uma operação que envolve mais de 50 mil homens na segurança pública. O importante é a capacidade de reação.

Capacidade de reação é o novo "jeitinho"?
É uma injustiça com o Brasil, com o brasileiro. A falha na Vila Olímpica não foi de um brasileiro [o responsável era o argentino Mario Cilenti]. O brasileiro Rodrigo Tostes [diretor de Operações] foi quem resolveu. Problemas e contingências acontecem em no mundo todo. É um enorme talento do brasileiro resolver essas contingências. Não tem jeitinho. Tem programação e organização.

A prefeitura também fez contratos emergenciais.
Nenhum foi falta de planejamento. Houve empresas que faziam obra no Parque Olímpico e não corresponderam com aquilo que estava no processo licitatório, e a própria lei define como se resolve isso. São problemas que podem acontecer.

E a contratação da empresa do pai do líder do PMDB?
Lembrei que as empresas tinham relação com o André Lazaroni quando eu li na Folha. É uma empresa que presta serviço à Prefeitura do Rio há muito tempo. Agradeço porque não eram muitas empresas que queriam assumir essa tarefa. As empresas que a gente consultou fugiram das obras olímpicas.

Por quê?
Porque é um grau de fiscalização, chateação, de cobrança, de atraso de pagamento.

Em 1996 o Rio lançou a candidatura para os Jogos de 2004. Há vinte anos a cidade espera esse momento. Valeu a pena?
Já valeu. A Olimpíada ainda vai ser vista no futuro como um raro consenso municipal, de projeto de cidade. A partir da década de 1990, o plano estratégico do primeiro governo César Maia define sediar a Olimpíada como um elemento transformador para a cidade que tinha perdido suas vocações.

César Maia perseguiu isso. Palmas para ele. O [ex-prefeito Luiz Paulo] Conde perseguiu isso. César Maia voltou a buscar [quando voltou a ser prefeito]. E eu consolidei esse processo. Não é fruto nem desejo da minha administração. Tenho a oportunidade de consolidar o processo.

A Olimpíada chegou num momento de crise, que o senhor chamou de "oportunidade perdida".
Era melhor que exibíssemos as qualidades do Brasil. Era nesse sentido. Temos que ter muito orgulho do Brasil e da Olimpíada porque, mesmo nesse momento se dificuldade, estamos entregando.

Barcelona consolidou sua imagem de cidade cosmopolita na Olimpíada, atraindo empresas e turistas. O Rio consegue repetir isso?
Do ponto de vista de transformação urbana, tenho certeza que o tempo vai mostrar que a nossa é muito mais profunda do que a de Barcelona. Do ponto de vista de legado intangível, de imagem de cidade, infelizmente o Brasil não vive um momento de consolidação de imagem de país que vivíamos quando ganhamos a Olimpíada. A Espanha, em 1992, consolidava sua inserção na Europa.

Metade dos brasileiros acha que a Olimpíada trouxe mais prejuízo do que benefícios.
Sem crítica à imprensa, mas é porque todo mundo lê a Folha, o Estadão, O Globo. A imprensa tem vocação para crítica e cobrança. É natural. Mas essa crítica, num momento de dificuldade do país, contamina.

Essa visão ruim pode melhorar durante a Olimpíada?
A visão da Olimpíada como um todo acontece ao longo do tempo. Não vai acontecer por causa da distribuição de medalhas. É uma análise posterior. Não há mau humor com a Olimpíada. Há mau humor generalizado no Brasil. Há crise econômica, desemprego, inflação, crise política, impeachment, divisão política. A Olimpíada ajuda a tirar o mau humor.

A tocha pode ser vítima desse mau humor?
As pessoas não estão protestando contra a tocha. A gente tem um conjunto de reclamações e demandas da sociedade que ali encontra um espaço para manifestação. O que não pode é agressão, violência. A maioria da população da gostando.

Qual foi a reação do COI a esse cenário?
O COI é uma gratíssima surpresa. A maneira republicana com que eles lidam com as coisas. Um debate interno, com críticas internas, mas sem usar a imprensa para prejudicar a imagem do Brasil. Eles estão muito surpresos com o nosso complexo de vira-latas. Dizem que é impressionante como a gente se joga para baixo.

Ficaram preocupados quando a presidente Dilma foi afastada?
A complexidade do momento político que o Brasil viveu nos deixou, brasileiros, investidores, atores econômicos, em dúvida, imagina quem vê de fora. Mas o tempo todo confiaram na capacidade do Brasil de entregar.

*

RAIO-X EDUARDO PAES, 46

Nascimento
Rio de Janeiro

Formação
Cursou direito na PUC do Rio, mas nunca exerceu

Carreira
Prefeito do Rio, filiado ao PMDB, esteve em quatro partidos antes: PV, PFL, (atual DEM), PTB, e PSDB. Eleito em 2008 e reeleito em 2012. Antes, foi subprefeito, vereador, secretário municipal e estadual e também deputado federal

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade