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Por lei, salva-vidas vira espectador privilegiado nas piscinas da Rio-2016

Uma lei estadual que determina que todas as piscinas do Rio tenham um salva-vidas criou um posto incomum na história olímpica.

Além de não ter muito o que fazer (a chance de um nadador de alto rendimento se afogar é quase nula), o salva-vidas, ou guardião de piscina, como é chamada tecnicamente a profissão no Brasil, tem a melhor vista das competições.

O carioca Juarez Almeida, 55, passa o dia ao lado das raias do Estádio Aquático Olímpico vendo os atletas "pra lá e pra cá". "Ninguém se machuca. Ás vezes dá até sono", brinca.

Daniel Ramalho/AGIF
Salva-vida observa treino de natação no Estádio Aquático do Rio
Salva-vidas observa treino de natação no Estádio Aquático do Rio

Independentemente do grau de dificuldade da função, ele sente que ocupa lugar de destaque e se orgulha disso. "Depois do atleta, quem mais aparece somos nós", diz. "Estou louco para pular na piscina e aparecer na TV."

Ao todo, 78 pessoas exercem o posto desde o dia 27. Ganham R$ 1.500 por mês e têm sob sua responsabilidade a vida de nomes como o da lenda americana Michael Phelps, que competirá no estádio. A cadeira do salva-vidas fica ao lado da largada.

Até agora nenhum precisou pular na água, pelo menos não por dever da profissão. Quando uma raia se solta da borda, ou um banner se desprende, são os guardiões que fazem o "resgate".

De acordo com a lei estadual 3.728, de 2001, todas as piscinas com mais de 6 x 6 metros precisam ter um salva-vidas certificado pelo Corpo de Bombeiros.

Poucos imaginariam que a lei, do deputado Sivuca (PSC), conhecido pelo bordão "bandido bom é bandido morto", criaria a figura do espectador privilegiado.

Há "guardiões" em sete instalações Olímpicas –além do estádio e do Parque Aquático Maria Lenk, os profissionais tiram serviço de seis horas em todas as piscinas de treinamentos.

Em caso de "ocorrência", Juarez não pensaria duas vezes. "Pulo de roupa mesmo, só tiro os óculos", diz ele, que usa óculos escuros por causa dos refletores do estádio.

Seu colega, o também carioca Anderson Luís Fortes, 40, refuta a imagem de "trabalho mais fácil do mundo".

Morador da favela Cidade de Deus, a 7,5 quilômetros do Parque Olímpico da Barra, Fortes estará de serviço na hora das finais da natação.

"Aqui o bicho pega", diz. "Quando 'a bola rolar', acho que vai descer uma lágrima."

SALTOS

Fortes ressalta que é preciso estar bem preparado fisicamente para o pronto atendimento.

"Lembra o cara que bateu a cabeça quando pulou do trampolim? Se não fosse o guardião ali, podia ter acontecido o pior", diz.

Ele se referia ao saltador americano Greg Louganis, que se acidentou ao saltar da plataforma de dez metros em Seul-1988.

Na verdade, as imagens que correram o mundo mostram que Louganis deixou a piscina sem precisar de auxílio imediato. "Se desmaiar, somos nós que vamos salvar."

É no Maria Lenk, onde ocorrerão as competições de saltos, que os salva-vidas têm de ficar mais atentos.

Uma aterrissagem mal calculada pode ensejar um momento de bravura olímpica. "Não é muito provável que depois de quatro anos se preparando o atleta irá se afogar, mas estamos aqui para atuar a qualquer momento", diz Felipe Mendes, 28, morador da favela do Jacaré.

"Vou assistir de camarote, e, se bobear, meu filho ainda vai me ver na televisão."

Que esporte é esse? - Olimpíada - Folha de S.Paulo

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