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Países ganham em média 13 medalhas a mais quando sediam Olimpíada

Christa Dietzen não se esquece da primeira vez que enfrentou a torcida brasileira. Grand Prix de vôlei de 2012, São Bernardo do Campo (SP).

"Os torcedores eram tão apaixonados e barulhentos, gritavam, tocavam tambores. Lembro que durante o tempo técnico o barulho era tão alto que eu não conseguia ouvir nem meus pensamentos."

A lição foi aprendida. Lidar bem com torcida adversária é hoje uma preocupação da seleção de vôlei dos EUA, principal rival das brasileiras.

O calor e o barulho das arquibancadas são, sim, um motor para quem compete em casa. Podem mexer com a performance dos que são apoiados pelos torcedores e influenciar até os árbitros.

Nos últimos 60 anos, os países-sedes dos Jogos conquistam, em média, 13 medalhas a mais do que na edição anterior à que organizaram.

Se seguir a tendência na competição do Rio, o Brasil saltaria de 17 para 30 pódios e bateria com folga a meta de ficar entre os dez primeiros do quadro de medalhas pelo total de conquistas.

Os países que recebem os Jogos aumentam o investimento no esporte. Injetam mais verba, procuram evoluir os métodos de treino e recrutam mais atletas. Esse é o aspecto mais importante para o salto de desempenho.

Mas há também influência no desempenho no campo, na pista ou na piscina no dia da competição. E um deles é o que popularmente chamamos de "fator casa". A atuação da torcida pode, sim, ser um grande diferencial.

"O barulho dos torcedores na arena [que receberá a ginástica] é ensurdecedor. E isso será uma grande vantagem para", diz Renato Araújo, técnico da seleção masculina.

"A vibração da torcida após uma série bem executada faz o atleta sentir uma confiança muito grande", afirma.

Arthur Nory, um dos destaques da equipe nacional na Rio-2016, concorda. "A vibração faz você se sentir poderoso, como se pudesse fazer qualquer coisa", afirma.

Um público de 15 mil pessoas, próximo do que deve lotar o Maracanãzinho nos Jogos, produz 120 decibéis. É mais do que uma britadeira.

Com o barulho da arquibancada, o atleta consegue ampliar o que especialistas chamam de "nível de atenção". Hormônios como adrenalina passam a circular mais pelo corpo, deixando o esportista mais ligado, apto a perceber melhor as ações a serem executadas e os movimentos dos adversários.

O vôlei feminino sentiu esse efeito mesmo longe de casa. Em Londres-2012, os gritos de "o campeão voltou" no ginásio ajudaram as atletas a reverter uma situação adversa e chegarem ao ouro.

Brasileiros classificados para a Olimpíada

O técnico José Roberto Guimarães percebeu a mudança nas atletas. Diz que elas vibraram mais e acreditaram na chance de ir ao pódio.

"Para o atleta, é importante o reconhecimento. A torcida pode dar isso", afirma afirma Hermes Balbino, psicólogo da seleção feminina.

"Quando essa frase de afirmação foi repetida por tantas pessoas, por exemplo, ativou recursos das jogadoras que estavam adormecidos", diz.

E se a torcida se virar contra você? Segundo o psicólogo, é necessário que os atletas brasileiros estejam preparados para lidar com isso da mesma forma como encaram uma partida fora de casa.

"Temos de prever a vaia, é uma possibilidade. Não é uma situação fácil, sem dúvida. Mas atletas desse nível estão acostumados a jogar com torcida contra fora de casa", afirma Balbino.

Árbitros tendem a favorecer atletas que atuam dentro de casa.

A atuação dos árbitros depende de fatores técnicos e emocionais. E, assim como a performance dos atletas, também está sujeita à pressão vinda das arquibancadas.

Diversos estudos já mostraram que, na dúvida e sob pressão, o juiz tende a beneficiar a equipe que está diante da sua torcida.

O Instituto do Esporte e Ciência do Exercício da Universidade britânica Liverpool mapeou os resultados de cinco modalidades (atletismo, levantamento de peso, boxe, ginástica artística e coletivos) nos Jogos de 1896 a 1996.

A análise verificou pequena ou nenhuma vantagem para os donos da casa nos esportes que não envolvem julgamentos subjetivos, como atletismo e levantamento de peso. Nos demais, havia tendência de algum benefício nos resultados para os atletas dos países anfitriões.

"Concluímos que o barulho da torcida tem grande influencia no desempenho dos árbitros", afirma o estudo.

O técnico da ginástica masculina acredita que o fato de ser anfitriã pode ajudar a seleção porque os juízes tendem a entrar mais "ligados" para o julgamento. "Ninguém quer errar com o dono da casa", afirma Renato Araújo.

Árbitra brasileira, Yumi Yamamoto Sawasato não enxerga diferença no tratamento entre os países. Para ela, a presença do oficial que "julga" o trabalho do juiz durante a competição exerce mais pressão do que a torcida.

"O árbitro bem preparado julga todos da mesma forma. E temos de estar sempre atentos porque, se cometermos erros, podemos levar advertência e até sermos expulsos do torneio", afirma.

O judô também deu atenção especial à atuação dos árbitros na preparação para a Olimpíada. Cabe ao juiz avaliar golpes e infrações. A diferença entre um ippon, que encerra a luta se aplicado, e um waza-ari, por exemplo, é a velocidade e força do golpe.

"Depende de quem está arbitrando. Tem alguns que ficam mais ansiosos com a torcida. Varia muito", disse a atual campeã olímpica em Londres-2012 Sarah Menezes.

A CBJ (Confederação Brasileira de Judô) faz um mapeamento sobre o comportamento dos juízes. "É mais para informação dos atletas, para que possam lembrar na luta, caso necessário", disse o gestor de alto rendimento da confederação, Ney Wilson.

O desempenho da Grã-Bretanha em Londres-2012 reforça essa tendência. O país cresceu muito mais em modalidades que envolvem julgamento. No boxe, por exemplo, saltou de um ouro e dois bronzes para três ouros, uma prata e um bronze, melhor resultado da modalidade.

Na ginástica, saiu da 13ª colocação, com um bronze, para a 11ª posição, com uma prata e três bronzes, incluindo o da equipe masculina.

Chamada Medalhas

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