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Análise

Ouro do Kosovo faz lembrar quem assiste aos Jogos que o país ainda pode existir

Kosovo engatinha na política internacional desde 2008, quando declarou independência da Sérvia. Sua delegação chegou ao Rio para sua primeira participação olímpica com alguma esperança, mas sem a expectativa de quem acostumou-se a sempre vencer na história.

A nação balcânica do Kosovo viveu, há duas décadas, anos terríveis de violência. Conflitos étnicos entre albaneses e sérvios -duas das etnias da antiga Iugoslávia- levaram a uma dura guerra entre 1998 e 1999 que deixou mais de 13 mil mortos entre os civis e os combatentes.

Neste domingo (7) a judoca Majlinda Kelmendi, 25, conquistou o ouro para sua nação depois de ter vencido o próprio direito de competir por ela. Levará de volta, além do metal, o otimismo.

Kelmendi demonstrou, durante sua trajetória esportiva, uma obstinação política. Para não representar a Sérvia, de que Kosovo havia se tornado independente, ela disputou a Olimpíada de 2012 pela Albânia. Ela tentou, também, participar dos jogos como atleta independente, o que foi recusado.

Editoria de Arte
Onde fica Kosovo
Onde fica Kosovo

Sua presença no Rio como atleta do Kosovo, inédita, é resultado do reconhecimento do Comitê Olímpico Internacional em 2014, para desagrado da Sérvia. Boa parte do mundo já reconhece esse país —109 dos 193 Estados-membros da ONU. O Brasil ainda não é um deles.

O Brasil insiste que a independência do Kosovo teria que ter sido negociada com a Sérvia, em vez de ser uma declaração unilateral.

A posição brasileira levou a um atrito diplomático em 2015, quando o governo emitiu um visto para Atifete Jahjaga, então presidente do Kosovo. A nacionalidade dela aparecia como "sérvia".

Para casos como da Espanha, há motivação clara. O governo espanhol enfrenta desafios diante do separatismo na região catalã, no nordeste da península Ibérica.

A Rússia também não aceita a independência do Kosovo. Por ter direito ao veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o governo russo hoje impossibilita que o país tenha pleno reconhecimento internacional.

Uma medalha, mesmo que seja de ouro, não vai fazer do Kosovo um ator pleno na política internacional. Mas pode lembrar as multidões que assistem aos jogos de que, apesar das negativas de seus pares, um país ainda pode existir.

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