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Técnico de Rafaela Silva conta que teve que canalizar agressividade da atleta

Felipe Dana - 15.jun.2016/Associated Press
Geraldo Bernardes (centro) com atletas refugiados
Geraldo Bernardes (centro) com atletas refugiados

A conquista de Rafaela Silva nesta segunda-feira (8) foi a consagração dos treinamentos e aconselhamentos de Geraldo Bernardes, 72, à atleta ao longo de 16 anos. Ex-judoca e técnico da seleção brasileira em quatro Olimpíadas (Seul-1988, Barcelona-1992, Atlanta-1996 e Sidney-2000), Bernardes conheceu Silva quando ela tinha apenas oito anos e carregava fama de temperamental na favela da Cidade de Deus, a oito quilômetros do Parque Olímpico da Barra, onde ela conseguiu sua medalha.

"Desde quando ela começou comigo, ela tinha essa questão da agressividade. Ela estava em um lugar onde era `essa bola é minha, deixa que eu chuto', `a pipa é minha', `eu pulo muro', `dou com gesso na cabeça dos outros'. Era preciso canalizar isso. Falei para ela e para a irmã [a também judoca Rachel] que um dia as colocaria na seleção brasileira. Sabia que tinha um diamante bruto", disse Bernardes, um dos poucos brasileiros a ostentar uma faixa vermelha no esporte, acima da preta. Ele acompanhou ao vivo a vitória da pupila.

Afastado do cargo de treinador da seleção brasileira em 2000, ele iniciou um projeto social focado no judô chamado Body Planet, próximo à Cidade de Deus, com crianças e adolescentes de escolas públicas da zona oeste do Rio de Janeiro.

Ex-técnico de nomes como Aurélio Miguel, Rogério Sampaio, Henrique Guimarães, Carlos Honorato e Tiago Camilo, ele passou a formar novos atletas do zero. Três anos depois da fundação, os alunos da Body Planet já eram bicampeões cariocas.

"Em 2012 [Londres], ela teve a oportunidade da medalha, mas foi tirada por uma questão de arbitragem. Ela deu o troco depois de ser xingada e avacalhada por muitas pessoas. No Mundial aqui no Maracanã [2013], ela foi campeã mundial. Agora, aqui, ela está dando o troco mais uma vez numa competição super difícil contra uma atleta super habilidosa, principalmente contra essa mongol, porque ela [Rafaela] tinha um problema de achar que não ia dar", disse Bernardes, atualmente coordenador do Instituto Reação, presidido por outro pupilo seu, Flávio Canto, medalhista de bronze em Atenas-2004.

Na Rio-2016, Bernardes assumiu o cargo de treinador de atletas da delegação de refugiados.

SELEÇÃO

Na seleção brasileira, os treinadores de Silva são Rosicléia Campos e Mario Tsutsui.

Do lado de fora do tatame, as reações de ambos são contrastantes. Campos, 46, é enérgica, pulando e chorando durante todas as lutas. Ex-judoca, ela representou o país nas Olimpíadas de Barcelona (1992) e Atlanta (1996). Técnica do Flamengo, ela está no comando da seleção desde 2005.

Nesta segunda (8), Tsutsui foi quem acompanhou a luta ao lado do tatame, enquanto Rosicléia vibrava das arquibancadas. Conhecido pelo temperamento tranquilo, impassível, Tsutsui manteve a postura durante as lutas, mas abraçou efusivamente Rafaela após a vitória e mostrou emoção em suas declarações.

"Quando ela passou pela romena [Carina Caprioriu], e depois vendo que a mongol [Sumiya Dorjsuren] tinha ganhado, a gente ficou confiante. Sabíamos que tinha condições de chegar à medalha de ouro e foi isso que aconteceu", comentou. "A gente não queria a japonesa [Kaori Matsumoto] na final. É uma atleta que traz dificuldades para a Rafaela", explicou o treinador.

"A Rafa foi sem dúvida superior às adversárias, ganhou com mérito. Não teve dúvida. Ela foi campeã mundial aqui, agora olímpica. Mostrou que no Rio é imbatível", concluiu.

Brasileiros classificados para a Olimpíada

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