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Antes de preconceito racial, Rafaela sofreu preconceito de gênero

Rafaela Silva, 24, conta que ficou chocada quando leu nas redes sociais que "lugar de macaca é na jaula e não na Olimpíada". Os ataques racistas vieram quando ela foi eliminada nos Jogos de Londres-2012.

Negra, nascida em uma favela violenta da zona oeste do Rio, a judoca campeã olímpica acostumou-se desde cedo a conviver com a falta de oportunidades, com tiros que cortavam o céu no meio da tarde e com a perda de amigos para as drogas e a violência. Mas nunca, até então, havia sofrido com o preconceito racial.

Um outro tipo de preconceito, por vezes menos escancarado, mas igualmente agressivo, Rafaela já enfrentou, e enfrenta até hoje: o preconceito de gênero.

A jovem passou a entender que a sociedade ainda tarda a ver homens e mulheres como iguais no próprio esporte que escolheu como carreira.

"Quando a gente começou a competir, o esporte era mais voltado para as equipes masculinas. Quando comecei a participar de competições no adulto, com 16 anos, via que não tinham nenhum respeito pela gente. [Os homens em geral] Debochavam da gente na pesagem, diziam que era fácil nos bater, debochavam do nosso desempenho".

Ela fica feliz em dizer que a mulheres cada vez mais estão provando seu valor, dentro e fora do esporte, mas ressalta que não deveria ser assim.

O preconceito, ela diz, não vinha só da comunidade esportiva. O machismo implícito no dia-a-dia também lhe alcançava– e ainda alcança.

"A gente tinha que receber um respeito maior das pessoas. Acho que nós não deveríamos aprender desde pequena a conquistar nosso espaço. Se a gente está dirigindo e faz uma coisinha no trânsito, já gritam: 'tinha que ser mulher".

"A gente vive diariamente [o preconceito]. Não tinha que ter isso. Estamos mostrando que não é porque somos mulheres, que [as pessoas] têm que menosprezar a gente. Estamos conquistando nosso espaço, é mérito nosso, então a gente merece respeito", disse.

Nacho Doce/Reuters
Rafaela Silva com sua medalha de ouro
Rafaela Silva com sua medalha de ouro

Após o feito de Rafaela, pipocaram nas redes sociais mensagens como "lute como uma menina". E Rafaela desde pequena aprendeu a lutar, em geral contra os meninos da Cidade de Deus.

Antes do judô, era na "porrada" que a menina resolvia seus problemas –hoje, diz, espera que suas atitudes no tatame inspirem crianças carentes. E mais: inspirem mais pessoas a olharem para as camadas mais pobres da sociedade.

"Eu tinha bastante amigo homem que vi seguir o caminho das drogas. Muitas amigas minhas estão grávidas. Esse poderia ser o meu futuro. Espero que eu sirva de espelho para essas crianças, que essa conquista abra outras portas", disse.

"E que as pessoas que se comoveram com essa medalha dentro de casa possam ajudar outros projetos sociais, ajudar outras crianças. Pode ser um diferencial para que surja uma nova Rafaela na próxima Olimpíada", completou.

Que esporte é esse? - Olimpíada - Folha de S.Paulo

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