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Palavras mais associadas com mulheres no esporte são 'mais velha' e 'casada'

Quando a campeã olímpica britânica do heptatlo Jessica Ennis-Hill entrar na pista nesta sexta (12), muita gente vai lembrar que ela teve um bebê recentemente, que ela é mãe e está mais velha. Um caso raro? Não exatamente.

Um estudo da Universidade Cambridge mostrou que, na mídia e no debate esportivo, as palavras mais associadas às mulheres, em língua inglesa, são termos como "mais velha", "grávida", "casada" e "solteira". Por outro lado, os termos mais associados aos homens são adjetivos como "rápido", "forte", "grande" e "incrível".

Quando o assunto é performance, a diferença de tratamento entre homens e mulheres também é expressiva: homens são vinculados a verbos como "vencer", "dominar", "derrotar" e "batalhar", enquanto mulheres aparecem associadas a verbos como "competir" e "participar".

O estudo, que visa investigar como mulheres e homens são descritos na linguagem associada aos esportes olímpicos, usou um banco de dados com mais de 160 milhões de palavras de língua inglesa em diferentes meios, como notícias, mídias sociais e fóruns de internet. Uma das principais conclusões é que, quando se fala em mulheres, o foco é mais em temas como aparência e vida pessoal.

"Mal posso esperar para ver se as coisas serão diferentes ou não na Rio-2016", diz Sarah Grieves, responsável pela pesquisa, que está conduzindo uma segunda fase do estudo durante os Jogos.

VERSÃO FEMININA

Não é nada difícil achar exemplos olímpicos para as conclusões da pesquisa. Dados do Google no Brasil indicam que a primeira pergunta que os usuários fazem no site sobre a jogadora da seleção brasileira é "Marta tem um namorado?". A segunda: "Marta tem uma namorada jogadora?"

Com três medalhas de ouro e uma de prata só nos Jogos do Rio, a nadadora americana Katie Ledecky vive sendo chamada de versão feminina de Michael Phelps. E um comentarista esportivo creditou as vitórias da nadadora húngara Katinka Hosszu, com outras três medalhas douradas, ao seu marido.

Enquanto a equipe americana feminina de ginástica artística, campeã por equipes de lavada, conversava entre as provas, um apresentador do canal americano NBC disse que as atletas pareciam estar no shopping. E a medalhista do tiro Corey Cogdell Unrein foi identificada pelo jornal "Chicago Tribune" não por seu nome, mas como mulher de um jogador de futebol americano.

A pesquisa de Cambridge também apontou que é comum infantilizar as mulheres no esporte. Elas são chamadas de "garotas" muito mais do que os homens de "garotos". Além disso, as referências a elas são muito menores: no discurso esportivo, os homens são mencionados três vezes mais do que as mulheres.

Junto com o machismo nas notícias e comentários esportivos, estão aparecendo também reações furiosas a esse tipo de comportamento. "Notei muitas pessoas reclamando sobre o uso de linguagem machista", diz a pesquisadora britânica. "É por isso que esse tipo de estudo é importante: ele fornece evidências para apoiar aquilo que as pessoas já estavam notando e é um ponto de partida para discussões sobre gênero e esporte."

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