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Sucesso dos Jogos no Rio revive rivalidade entre paulistas e cariocas

Pela orla de Copacabana, no chorinho da feira em Laranjeiras ou nas rodinhas dos botecos de Botafogo, os cariocas, munidos da sua habitual irreverência, estão aproveitando o sucesso da Rio-2016 para reavivar a velha rivalidade com os paulistas.

"Sabe aqueles garotinhos que, no dia de Natal, comparam os presentes que ganharam? Um sai todo feliz pedalando sua bicicleta nova, e o outro fica acanhado de mostrar para galera a bolinha xexelenta que recebeu do Papai Noel", diz a gari Maria Barbosa, 43, tentando uma metáfora ao lado dos aros olímpicos em Copacabana, enquanto observa a multidão de turistas. "Hoje, com essa festa, o garotinho da bike é o carioca, e o da bola é o paulista."

Caco Galhardo
cariocapaulista
Carioca x Paulista

Há seis meses morando no Rio, o físico paulistano Walmir Cardoso, 55, acha que as duas cidades são, na verdade, como "dois irmãos que vivem brigando, mas que no fundo se amam". "Elas deveriam deixar essa inveja de irmãos de lado e aprender uma com a outra", aconselha.

Por causa dessa rusga histórica, não imaginava que seria tão bem acolhido no Rio. "As divergências aparecem em algumas brincadeiras, mas é inegável que a Olimpíada melhorou a autoestima do carioca: do motorista de táxi às pessoas que caminham pela orla, todos estão orgulhosos."

Na opinião do paulistano, o carioca está sentindo que a cidade foi reconhecida internacionalmente. "Ele pensa que poderia ser assim o ano inteiro. Eu concordo, pois o Rio tem mesmo essa vocação", diz.

Explica que há hoje uma diferença no estado de espírito dos moradores se comparado ao da Copa. O Mundial era uma festa do Brasil, enquanto a Olimpíada é uma festa do Rio. Resume: "É saudável que se orgulhem em relação a outras cidades e, especialmente, em relação a São Paulo."

O fato é que os paulistas estão em peso na cidade maravilhosa. No Ipanema Plaza Hotel, por exemplo, na badalada Farme de Amoedo, eles constituem 80% dos hóspedes. Regularmente, esse grupo representa até um terço dos hóspedes nacionais, segundo a Abih-RJ (entidade hoteleira).

Na compra de ingressos para os Jogos, os paulistas só perdem para os anfitriões.

"Quando me mudei para o Rio, o pessoal de São Paulo falava mal do serviço carioca. Havia um preconceito contra a cidade. Hoje, o intercâmbio entre as duas mais importantes metrópoles do país favorece a ambas. A gastronomia no Rio vive um momento de expansão. Muitos dos nossos clientes são paulistas", conta Kazuo Harada, 33, chef do sofisticado restaurante asiático Mee, no Copacabana Palace.

CRI-CRI

Baiana de nascimento, paulistana de criação, há seis anos morando na Rocinha, no Rio, a garçonete Caroline Rodrigues, 28, que trabalha numa barraca perto do posto 9, em Ipanema, diz que não para de atender paulistas nestes dias de Jogos.

"Eles são generosos na hora da gorjeta. Bem diferentes dos mineiros, que nem se sentam antes de olhar os preços do cardápio, os paulistas pagam sem reclamar, mas reclamam de todo o resto. O pessoal de São Paulo é bom de grana, mas é cri-cri demais."

Executiva paulistana, Beatriz Almeida, 55, trocou São Paulo pelo Rio por 12 dias por causa dos Jogos. Segundo ela, os cariocas adoram provocar e "são sempre eles que põem na mesa esse assunto de rivalidade, com a necessidade de provarem que são melhores". Beatriz concorda que a Olimpíada é uma festa carioca.

"Se eu fosse carioca, estaria muito orgulhosa. O carioca é mais anfitrião que o paulista, mais receptivo e acolhedor. Tudo isso faz parte desse sucesso", diz. "A gente tem que reconhecer e levar essa rixa no bom humor", resume no melhor estilo cosmopolita.

Carioca, o professor de história e coordenador de educação da Estácio, Rodrigo Rainha, 36, explica que essa rivalidade remonta ao século 19, quando o Rio era a capital e principal porto de exportações do império, enquanto São Paulo vivia um período de crescimento graças ao café.

O Rio começa a perder sua hegemonia com a Primeira República (1889-1929), conhecida como república do café com leite, durante a qual presidentes paulistas e mineiros se alternavam no poder. "Com o café, que sustenta a industrialização e o movimento modernista nas artes, São Paulo desponta como a maior cidade política, cultural e social do país", lembra.

O caldo entorna de vez com o golpe empreendido por Getúlio Vargas, em 1930, entendido como uma afronta ao poder de São Paulo. "As duas cidades definitivamente se veem como rivais: a rica São Paulo opõe-se ao Rio, cuja identidade é vendida como brasileira."

O dentista Eduardo Galvão, 52, por sua vez, acredita que uma dose de malandragem seja uma espécie de traço característico do carioca. Sem economizar o já carregado sotaque tijucano, avisa que, no Rio, "se vaia até momento de silêncio" e que "sacanear faz parte do espírito carioca".

Ele só não achou graça alguma quando, perdido em São Paulo, um morador indicou que virasse à direita quando chegasse ao farol logo à frente e ele ficou sem ação.

Sem saber que os paulistanos chamam o semáforo de farol ""e não é para sacanear ninguém "", o carioca só se situou com a ajuda de um curitibano que, certamente, já tinha passado pelo mesmo aperto.

Brasileiros classificados para a Olimpíada

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