Confissão um: sempre aprendi a torcer contra argentino. A escola foi a TV. Professor Galvão Bueno me ensinou desde pequeno, com o futebol, que argentino é catimbeiro, marrento, quase desleal, capaz de mexer até na sua água. Não merece confiança. E que deveríamos nos preocupar em qualquer modalidade. "Brasil e Argentina é sempre Brasil e Argentina, amiiiigo", "ganhar é bom, mas ganhar da Argentina é muito melhor", ensinava o mestre que não cala. Minhas exceções eram Messi (que é catalão, mas não sabe) e Gabriela Sabatini (não dava para torcer contra a Gabi).
Ricardo Borges/Folhapress | ||
Torcedores da Argentina durante jogo de basquete |
Confissão dois: estou com inveja da festa da torcida argentina na Olimpíada. Inveja ruim mesmo. O torcedor brasileiro tem mandado bem na maioria das situações, aplaude e apoia a todos (desde que não joguem contra o Brasil) e pegou no pé de Hope Solo com humor e justiça. Mas, possivelmente porque tiveram o mesmo professor que eu, vaiam 99,4% dos argentinos. Por outro lado, a festa que "Hermano" faz deve deixar o brasuca do lado mais maluco ainda.
Nas transmissões a festa argentina é sempre alta e em bom som, cantada, gostosa, e vale mesmo em algumas derrotas.
No sábado, cantaram e sambaram na nossa cara depois de entregarmos o jogo de basquete masculino. No domingo, no hóquei sobre a grama, tomaram conta de Deodoro. Quando vi a festa achei que tinha sido ouro, mas era só a classificação para a semifinal.
Jim Young/Reuters | ||
Jogadores da Argentina comemoram vitória sobre o Brasil no basquete |
No entanto, a maior festa tem sido no tênis mesmo, desde a rodada um, quando Juan Martin del Potro surpreendeu o "brasileiro" Novak Djokovic, até a final, quando o mesmo Delpo perdeu para o mala escocês Andy Murray (que joga pela Grã-Bretanha mesmo depois do Brexit). Del Potro entrou na minha lista de esportistas argentinos queridos... que está crescendo.
E a Argentina só ganhou uma medalha de ouro, no judô feminino, curiosamente no dia em que mais esperávamos que o ouro fosse nosso, com Sarah Menezes. Imagino se um dia a Olimpíada for em Buenos Aires. Era capaz de cantarem para a argentina da maratona durante os 42 km.
Comentário "sem luva de pelica" do dia. Na maratona feminina, no SporTV, ouvi pela primeira vez um dos meus comentaristas preferidos, Lauter Nogueira. Perto do fim da prova o narrador elogia o trabalho dos policiais nas motos, que estão "escoltando" as maratonistas. Então, Lauter esclarece melhor a situação: "Vários idiotas tentando entrar ali, mas já foram prontamente tirados".
Comentário "isso pode, Arnaldo?" do dia. Sandra Pires, no vôlei de praia, sobre uma juíza de linha que não marcou um ponto nitidamente a favor do Brasil: "Tem que abrir o olho" (a juíza era japonesa).