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Engenhão vira palco de bem contra mal entre Bolt e Gatlin nos 100 m rasos

O público presente ao Engenhão escolheu neste domingo, desde o princípio, o mocinho e o vilão dos 100 m.

Usain Bolt foi tratado como herói. Uma ovação histérica se sucedia a cada aparição no telão ou interação com as arquibancadas do estádio, que não estavam totalmente lotadas.

Justin Gatlin, 34, era o antípoda. Maior desafiante do astro jamaicano, campeão olímpico nos Jogos de Atenas, em 2004, foi marcado por vaias.

O americano tem brilhante carreira, mas estigmatizada por uma mácula: foi flagrado duas vezes no antidoping e ficou impedido de competir por quatro anos, de 2006 a 2010.

Desde que voltou às pistas, há seis anos, tornou-se a maior ameaça ao reinado do astro caribenho. Nos Jogos de Londres, ficou em terceiro.

No Mundial de Moscou, em 2013, diminuiu a distância e foi prata. No Mundial de Pequim, o último antes dos Jogos Olímpicos do Rio, perdeu a prova por um mísero centésimo.

Nesta temporada, a caminho do Rio, ele havia obtido um tempo superior ao de Bolt na distância -9s80 contra 9s88.

Todo este contexto entrou na pista azul do Engenhão neste domingo junto com bermudas, camisetas e sapatilhas.

Bolt pareceu menos divertido e descontraído do que no passado. Fez poucas brincadeiras e distribuiu poucos sorrisos, como que guardando energia para sua missão de obter o sétimo ouro olímpico.

Venceu com facilidade a segunda das três semifinais em 9s86, seu melhor tempo no ano, e jogou a pressão para o arquirrival. Em sua série, a terceira, Gatlin foi mais lento que o jamaicano.

Na cerca de uma hora de intervalo entre as semifinais e a decisão das medalhas, a apreensão só fez aumentar.

Editoria de Arte/Folhapress
melhor tempo
Tempos de Bolt ao longo dos anos

Bolt e Gatlin não se alinharam lado a lado na final. O francês Jimmy Vicaut, na raia 5, os separou, mas foi coadjuvante.

Ao tiro de largada, Gatlin foi mais veloz, e o jamaicano só não foi mais lento do que o marfinense Ben Meite.

Em alguns passos, porém, Bolt equilibrou-se e emparelhou com o adversário, para vencê-lo já próximo da linha de chegada, em 9s81. O público, obviamente, foi ao delírio.

O tricampeão deu sua já tradicional volta olímpica descalço, dançou com a mascote dos Jogos, Vinicius, e teve a comemoração embalada com "Jammin'", de Bob Marley, e "Reggae Night", de Jimmy Cliff. Festejou a façanha com inúmeros jamaicanos, que levaram bandeiras e se vestiram a caráter.

Curiosamente, ele estranhou a reação do público a Gatlin. "É a primeira vez que estive em um estádio e eles [público] começaram a vaiar [Gatlin]. Isso me surpreendeu."

O norte-americano não demonstrou abatimento com a derrota ou a rejeição. "Trabalhamos 365 dias por ano para chegar aqui para nove segundos. Aos 34 anos, competir contra esses jovens e ainda ir ao pódio me faz sentir bem."

Somente com o final da prova Bolt relaxou e passou a revelar seu bom humor.

"Alguns já disseram que eu posso me tornar imortal. Com mais duas medalhas, posso ser. Imortal", afirmou o grandalhão, que se autodenomina uma "lenda" do esporte mundial.

"A corrida foi brilhante. Eu não fui tão rápido, mas estou tão feliz que venci... Eu disse a vocês que conseguiria", disse. "Foi o tempo necessário."

Para que possa ascender ao posto de imortal, o jamaicano ainda tem mais dois deveres a cumprir: vencer os 200 m rasos, o que também o converteria em tricampeão, e conduzir a equipe de seu país ao ouro no revezamento 4 x 100 m.

Todas estas respostas, e a promoção da lenda ao novo status, serão respondidas até o final do sábado (20).

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