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Análise

Bronze de Poliana Okimoto coroa carreira que teve frustrações e depressão

Poliana Okimoto consultava todos os dias a previsão do tempo, a tábua de marés e analisava o mar do Rio de Janeiro. Pelo estudo, ele estaria frio e revolto. E foi para isso que ela se preparou.

Chegou na praia de Copacabana nesta segunda (15) e encontrou as melhores boas-vindas que podia imaginar: água calma e quente.

Era tipo de ambiente em que ela se sente melhor para nadar. O cenário perfeito para mostrar que estava refeita da tormenta que enfrentou.

Poliana fez a prova que planejava, deu 100% e saiu da água satisfeita com o quarto lugar. Ganhou o bronze graças à desclassificação da francesa Aurelie Muller, que deu um caldo na italiana Rachele Bruni para bater a mão na chegada em segundo lugar. Sharon van Rouwendaal, da Holanda, venceu.

Poliana se tornou a primeira brasileira a conquistar uma medalha olímpica na natação.

A medalha coroa uma carreira que foi um divisor de águas para a maratona aquática no Brasil. Quando ela se tornou vice-campeã mundial em 2006, o país que ainda mal conhecia a modalidade e ganhou seu novo bibelô.

No Pan-2007, o programa de provas foi mudado, colocando as mulheres para largar antes, só para tê-la como o primeiro ouro do país no evento. Ela terminou em segundo.

Que esporte é esse? - Olimpíada - Folha de S.Paulo

Em Pequim-2008, esperava-se uma medalha, e ela saiu na sétima colocação, com Ana Marcela Cunha em quinto.

Chegou a Londres novamente candidata à medalha, acumulando bons resultados internacionais. Com hipotermia, abandonou a prova.

Poliana ficou em depressão vários meses e só conseguiu se reerguer com o ouro no Mundial de 2013.

Foi quando começou a acreditar que era capaz. Mas em 2014 teve uma lesão e ficou meses afastada. Passou a pensar apenas em se classificar para a Rio-2016.

Poliana viu a ascensão de Ana Marcela Cunha, uma das favoritas agora, que acabou na décima colocação. Nos últimos dois anos, Ana se tornou "a cara" da maratona aquática, tirando Poliana do centro das atenções.

A nadadora saiu do foco e conseguiu colocar o foco em si mesma. Diz que seus treinos nunca foram tão bons —chegou a nadar 100 km por semana— e conseguiu manter em ótima forma o corpo de 33 anos. Quando ficou livre, atingiu o feito que perseguia desde 2008.

Estava tão pronta e tranquila que conseguiu até arriscar na estratégia e não se alimentou nos últimos 5 km. Avaliou que, em um momento em que deslanchava na frente, poderia ser alcançada pelo pelotão de trás.

Ana Marcela não conseguiu se alimentar direito e nadou 7,5 km sem fazer as reposições necessárias —em um ponto de alimentação, uma rival derrubou o alimento na água, na outra, ela estava longe da equipe de apoio.

A nadadora diz que, sem energia, não conseguiu render.

A experiência foi fundamental para o desempenho de Poliana. E a nova pressão pode ter atrapalhado Ana Marcela, que agora se encontra mais ou menos na mesma posição da compatriota em Londres-2012.

Poliana deu o exemplo de como é possível reverter essa situação adversa. Uma demonstração que Diego Hypolito havia dado com sua medalha de prata no solo.

Ela contou que sempre achou balela o papo das psicólogas dizendo que deveria se divertir na competição. Não entendia como isso era possível, até segunda. Sem pressão, divertiu-se como nunca.

Poliana disse que merece muito a medalha. Merece mesmo.

Brasileiros classificados para a Olimpíada

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