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Jones Kennedy do Rosário, juiz brasileiro do boxe, vira xodó da torcida nos Jogos

Nunca antes na história do país, um juiz esportivo foi ovacionado como Jones Kennedy do Rosário, 50, árbitro do boxe olímpico no Rio. Uma ruidosa torcida aguardava, na última terça-feira (18), a luta em que Robson Conceição, 24, garantiria ouro inédito para o Brasil.

Enquanto o boxeador não subia ao ringue, atletas de outros países disputavam a preferência da audiência. O público vibrou quando, três lutas antes da final, um nome brasileiro foi anunciado no microfone: era o do árbitro natural do Pará, funcionário público do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Belém e conhecido no meio do boxe apenas como Jones Kennedy. Mas foi o sobrenome Rosário que emplacou.

Pugilistas esquecidos, a festa era para o juiz. "Ih, fodeu, o Rosário apareceu", cantava o público. Quando ele interrompia a luta, a torcida comemorava. "Ahh, Rosário é melhor que Neymar". Bastou o repreender um atleta que a festa foi geral. "1, 2, 3, 4, 5 mil, quem manda nessa porra é o Rosário do Brasil".

Ironicamente, a torcida brasileira, que nesta Olimpíada já vaiou o presidente interino Michel Temer, atletas de outros países e até hino nacional de delegações estrangeiras, resolveu acolher a figura a qual raramente dispensa seu carinho. "Fiquei feliz em ter caído nas graças da galera. Juiz de boxe também é hostilizado. Nunca tinha me ocorrido. Estou sendo o centro das atenções", disse à Folha.

O juiz suspeitou que tinha virado celebridade quando as filhas adolescentes lhe contaram dos vídeos que circulam nas redes sociais. A ficha caiu quando no dia seguinte foi passear com outros dois colegas em um shopping da Barra da Tijuca. Como não conseguiu um táxi, foi de BRT.

"Um cara me parou e disse: 'rapaz, tu não é o Rosário?' E depois tiramos uma selfie dentro do ônibus". Ele foi chamado a participar do programa "Balada Olímpica", da Rede Globo, e deu entrevista à ESPN em espanhol.

Rosário chegou a lutar boxe quando tinha 17 anos, mas a carreira não prosperou. Decidiu que continuaria a subir nos ringues, não mais de calção e luvas. Nem por isso ficou longe de levar pancada.

Em 2006, ele arbitrava o campeonato de estreantes do Pará, quando recebeu um cruzado no estômago ao tentar separar um clinch. "Fiquei umas três semanas com dor."

Formou-se em gestão pública e chegou a cursar períodos de Educação Física, mas não conseguiu conciliar a média de duas viagens por mês com os estudos. Quando está longe da repartição, conta com a ajuda dos colegas com o trabalho acumulado. Um amigo até mandou uma mensagem de parabéns.

A nova celebridade não é propriamente desconhecida no boxe. Ele foi único árbitro brasileiro em Londres-12 e já arbitrou seis mundiais, dois Pan-Americanos e oito sul-americanos. O juiz faz uma média de duas viagens por mês pela Aiba, a associação que controla o boxe olímpico e outras duas ligas.

A associação passa nesse momento por críticas quanto a atuação dos árbitros nas Olimpíadas. Pouco antes dos jogos, o jornal inglês "The Guardian" publicou que havia preocupação com manipulação de resultados. A Aiba chegou a afastar juízes e árbitros que atuaram nestes Jogos. Rosário não foi um deles. Os juízes têm acesso limitado ao celular e só sabem em qual luta irão arbitrar minutos antes de subirem ao ringue.

"Jamais os árbitros manipularam resultados. Eles cometem erros, sim, mas nunca com segundas intenções".

Que esporte é esse? - Olimpíada - Folha de S.Paulo

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