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ANÁLISE

O Rio continua lindo, o mundo dirá após os Jogos Olímpicos

A Olimpíada é um sucesso? A maioria dirá que sim. O mundo será condescendente com o Rio, assim como já foi com o Brasil na Copa. Ninguém esperava uma Olimpíada melhor, esperava, na verdade, coisa bem pior.

Atletas, jornalistas e turistas vieram preparados para a guerra, mas só encontraram gente sorridente e perdida nas traduções, placas que sinalizam errado, ônibus que atrasam, filas para comprar comida. Confusão de sempre, em proporções olímpicas.

O medo do terrorismo ficou na Europa, a zika preferiu o verão de Miami, o Rio acabou em festa.

Indígenas flutuaremos então entre o orgulho de ter passado de ano, quem se importa se com o empurrão do professor, e a cômoda constatação de que o país é assim e sempre será. Cansamos do complexo de vira-latas, estamos na fase da afirmação, da própria incompetência ou da competência alheia que pagamos caro para usufruir por duas semanas.

O grande feito do Rio foi provar que a organização olímpica é capaz de superar a desorganização local. Na véspera dos Jogos, John Coates, cartola do Comitê Olímpico Internacional, declarou que estes seriam os Jogos "mais difíceis". Duas semanas depois, Thomas Bach, presidente do comitê, trocou o adjetivo, e os Jogos se tornaram os "mais icônicos".

Coates não errou, devem ter sido Jogos difíceis, e isso vai aparecer no futuro quando se contar o que não foi contado. Sua preocupação não era sublinhar obstáculos locais, mas evidenciar que o modelo que ajudou a criar é capaz de superá-los. O australiano foi o homem forte de Sydney-2000, que propôs uma tecnologia de execução e controle de projetos olímpicos que empurrou o evento para outro patamar. Simplesmente por ser replicável.

Como sempre acontece no esporte, alguém faz muito dinheiro com isso. O modelo é detido por meia dúzia de empresas. A uma sede olímpica resta seguir o que determinam, pagar a conta e tirar proveito do serviço prestado. Atenas-04 quebrou o país, Pequim-08 e Londres-12 transformaram o limão em limonada. Queremos acreditar que o Rio está no segundo grupo. Estará?

A limonada carioca vai começar a amargar, é óbvio, quando o custo da brincadeira chegar. Quando associarmos construtoras e políticos envolvidos à Lava Jato. Quando a revolução viária e imobiliária de Eduardo Paes fatigar. Quando percebermos que os milhares que falaram inglês nos Jogos já sabiam a língua. Quando admitirmos que a Olimpíada falhou em serviços, exatamente a nossa parte. Quando entendermos que o melhor deveria estar começando agora, e não virá.

Países que recebem os Jogos têm um pequeno incremento no PIB no ano do evento e voltam ao normal depois. Sabemos qual é o normal do Rio e do Brasil.

A questão a responder é se queremos continuar assim, apenas lindos.

VEJA O QUE FUNCIONOU E NÃO NOS JOGOS

CUSTOS

FOI MAL - A conta total de quase R$ 40 bilhões relacionada à Olimpíada aumentou em pelo menos R$ 250 milhões durante o próprio evento e promete crescer ainda mais. Apesar disso, tanto o Comitê Organizador quanto o Comitê Olímpico Internacional insistem na tese de que o orçamento dos Jogos não estourou e não contou com dinheiro público.

Adrian Dennis/AFP
Vista do Parque Olímpico
Vista do Parque Olímpico

INSTALAÇÕES

FOI BEM - A qualidade exigida pelas diversas federações foi atingida no geral, exceção feita à água de duas piscinas que ficaram verde por dias. No restante das arenas, problemas menores e rapidamente resolvidos, como buracos na quadra de handebol. Decoração olímpica chegou atrasada à cidade e gerou a impressão de mal acabada em diversos locais.

Michael Dalder/Reuters
A piscina do Parque Aquático Maria Lenk ficou com a água verde
A piscina do Parque Aquático Maria Lenk ficou com a água verde

OPERAÇÃO

FOI MAL - A operação dos Jogos deixou a desejar em vários aspectos relacionados a serviços: filas nas revistas (resolvidas às pressas, sem padrão e com sensação de "vista grossa"), transporte de atletas e imprensa, voluntários perdidos, falta generalizada de informação, sinalização errada ou inexistente.

Eduardo Knapp/Folhapress
Público aguarda na fila para entrar no Engenhão
Público aguarda na fila para entrar no Engenhão

SEGURANÇA

FOI BEM - Às custas de uma militarização ostensiva, a sensação foi de segurança nos ambientes olímpicos. Em Deodoro, duas balas foram achadas no chão e um ônibus de imprensa foi atingido por pedras, segundo a organização, ou tiros, segundo passageiros. Vila Olímpica conviveu com dezenas de furtos. Várias delegações desestimularam saídas de seus integrantes da Vila.

Tony Gentile/Reuters
Câmera filma buracos de bala em tenda no Centro Olímpico de Hipismo em Deodoro
Câmera filma buracos de bala em tenda no Centro Olímpico de Hipismo em Deodoro

INGRESSOS

FOI MAL - Jogos começaram com muitas arquibancadas vazias, apesar da forte procura por ingressos. Revenda de bilhetes, ingressos não usados por patrocinadores e cambismo, problemas crônicos em todas as Olimpíadas, não tiveram solução no Rio. Um membro do Comitê Olímpico Internacional foi preso acusado de repassar ingressos a empresa não autorizada.

Jack Guez/AFP
O irlandês Patrick Hickey, 71, foi preso acusado de repassar ingressos

ALIMENTAÇÃO

FOI MAL - Filas, pessoal inexperiente, estoques mal dimensionados, cardápio restrito, de qualidade baixa e nada saudável, preços nas alturas, garrafas sem tampinha, vendas por cartão de uma única bandeira, exigência de patrocinador.

José Henrique Mariante/Folhapress
Fila em quiosque para comprar comida na Arena da Juventude, na Rio-2016
Fila em quiosque para comprar comida na Arena da Juventude neste sábado (6), na Rio-2016

TRANSPORTE

FOI BEM - A grande preocupação do sistema de transporte público, a conexão via metrô e ônibus entre a zona sul e a Barra, funcionou muito bem. As faixas segregadas para a família olímpica foram respeitadas, mas causaram muitos engarrafamentos por toda a cidade.

Bruno Villas Bôas/Folhapress
Passageiros dentro de trem que liga estações Central do Brasil e Magalhães Bastos, usado para chegar a Deodoro
Passageiros dentro de trem que liga estações Central do Brasil e Magalhães Bastos, usado para chegar a Deodoro

AMBIENTE

FOI BEM - Apesar das falhas de serviço, o clima nos parques e arquibancadas foi de alegria, animação e tranquilidade, dentro e fora das arenas. Clima de torcida de futebol marcou o evento, para o bem (Djokovic x Del Potro) e para o mal (vaias a Renaud Lavviene).

Divulgação/COI
Thiago Braz consola Lavillenie após ele ser vaiado e chorar muito no pódio. Sergei Bubka na foto.
Thiago Braz consola Lavillenie após ele ser vaiado e chorar muito no pódio. Sergei Bubka na foto.
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