Novelas
derrubam humor de Portugal
IVAN FINOTTI
da Reportagem Local
Se todas as novelas da Rede Globo são exibidas
em Portugal, não é de estranhar que a novela
seja a terceira coisa que vem à cabeça do português
quando pensa em Brasil -apenas atrás das praias e do
sol.
Nem é de espantar que, exibidas em horário nobre,
as novelas frequentemente ocupem a maior audiência do
país. No início deste mês, por exemplo,
de todos os portugueses que ligaram a TV em suas casas, 75,5%
sintonizaram os últimos capítulos de "Torre
de Babel".
Se no Brasil as novelas perdem em audiência apenas para
o "Fantástico" e o "Jornal Nacional",
em Portugal elas disputam a audiência com seriados cômicos
e com "Ponto de Encontro", programa que ajuda telespectadores
a encontrar familiares desaparecidos.
Foi-se o tempo em que "Escrava Isaura" era sinônimo
de novela de exportação. Hoje, com apenas semanas
de atraso, o português já assiste "Suave
Veneno", "Meu Bem Querer" e "Pecado Capital".
A mudança tem data exata: 1993, quando a Rede Globo
parou de vender novelas ao canal estatal RTP e se associou
à recém-criada SIC, ajudando-a a se tornar líder
absoluta de audiência no país (veja quadro nesta
página).
Ao longo de seus 17 anos de parceria com a Rede Globo, a RTP
exibiu 43 novelas -uma proporção de 2,5 ao ano.
Já a SIC, apenas de 1993 para cá, mostrou 35
produções -quase 6 por ano.
Essa inundação não se limita apenas às
novelas -o restante da produção do núcleo
de dramaturgia da Globo é disputada a tapa pelos canais
portugueses.
A SIC, por exemplo, exibe "Mulher" e "Hilda
Furacão". Prepara-se para exibir outras três:
"Dona Flor", "Chiquinha Gonzaga" e "Labirinto".
Desde o ano passado, há ainda o canal pago GNT, da
Globosat, que exibe "Malhação" e outras
novelas e séries da Rede Globo.
"As novelas da Globo são as de maior audiência
em Portugal. As do SBT e da Bandeirantes não funcionam
tão bem. Os atores da Globo já entram na casa
das famílias portuguesas, como no Brasil", diz
a chefe de aquisições internacionais da TVI,
Margarida Pereira.
E entram mesmo. Nada menos que 70% das famílias de
renda baixa e intermediária têm grande ou médio
interesse pelas novelas brasileiras. O número cai um
pouco apenas entre os que tem renda familiar alta: 57%.
Para o professor aposentado Manuel José Lopes da Silva,
que dirige a Associação Portuguesa dos Espectadores
de TV, esse alto índice ocorre porque as novelas brasileiras
correspondem mais às expectativas do público.
"Além de mais sofisticadas do ponto de vista técnico,
as novelas brasileiras procuram agradar a audiência.
De qualquer forma, no fundo, é a mesma cultura",
afirma o professor.
Outro fator é que os programas estrangeiros em Portugal
não costumam ser dublados, e sim legendados. Assim,
a novela brasileira já sai em vantagem.
Impossibilitada de comprar novelas da Rede Globo, Margarida
Pereira tem que se contentar com novelas que, segundo ela
própria, "não funcionam bem".
Estão no ar pela TVI, por exemplo, "Pérola
Negra", do SBT, "Serras Azuis", da Bandeirantes.
"Fascinação" (SBT) acaba de ser exibida.
"Foi um sucesso. Tivemos 3 pontos de média",
afirma.
Segundo Orlando Marques, diretor-geral da divisão de
vendas internacionais da Globo, as maiores médias históricas
de novelas em Portugal são de "Roque Santeiro",
exibida em 93, e de "Rei do Gado" (97), ambas com
23 pontos.
A primeira novela exibida foi "Gabriela", em 1976,
pela RTP. Foi líder de audiência por três
meses, alcançando 21 pontos de média.
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