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SUL
Florianópolis (SC)
Escola é lugar de andar com chinelão e perna-de-pau, brinquedos
que dividem a atenção das crianças com as personalidades
da TV
Sandy & Júnior é cantiga
de roda ou pegadinha?
Fábio
Correa/Folha Imagem
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Nayara Farias (esq.), Sulamita Ramos e Suelem Santos brincam
de chinelão |
da
enviada a Florianópolis
A falta de espaço nas grandes cidades brasileiras confinou a maioria
das brincadeiras de rua ao pátio da escola ou à aula de educação física.
Também é nas capitais que mais se percebe a influência da televisão,
da mídia em geral e dos brinquedos eletrônicos no repertório de atividades
infantis.
Numa creche de Florianópolis, o menino Lucas Teixeira, 4, não vacilou
ao responder à Folha que uma de suas brincadeiras preferidas
era a “pegadinha do Faustão”. Outro coleguinha seu confundiu cantiga
de roda com “música de Sandy & Júnior”.
Ainda assim, todos sabiam cantar Ciranda, Cirandinha e Atirei o Pau
no Gato na hora da roda orientada pela professora. Do mesmo modo,
a lista de brincadeiras preferidas desses pequenos trazia o videogame
ao lado da batata-quente e da bolinha de gude. Na Escola Básica Municipal
Batista Pereira, no bairro de Ribeirão da Ilha, em Florianópolis,
meninas e meninos locomoviam-se com desenvoltura na perna-de-pau.
A peça de madeira, brinquedo incomum nos dias de hoje, parecia, porém,
velha conhecida das crianças daquela escola. “Essa perna-de-pau é
da escola.
Mas eu brinco sempre, desde quando eu era menor, que eu também tinha
uma lá em casa e quebrou”, diz Kamila Eduarda Vargas, 11.
Entre as brincadeiras preferidas de Kamila e sua amiga Suelem Suzany
dos Santos, 10, está verdade-ou-consequência, um jogo de salão semelhante
à berlinda, em que são levantados defeitos e qualidade morais dos
jogadores.
No verdade-ou-consequência, deita-se no chão ou numa mesa, uma garrafa
vazia. Gira-se a garrafa e espera-se até que ela pare de rodar. Ao
jogador para quem o gargalo apontar, o jogador oposto pergunta: “Verdade
ou consequência?”.
“Aí, a pessoa responde se quer verdade ou consequência. Se ela disser
verdade, a pessoa que perguntou diz uma verdade sobre ela. Sempre
uma coisa meio ruim, que a outra não quer que ninguém saiba. Por isso
pouca gente responde verdade”, explica.
Se o jogador responder consequência, terá de cumprir um castigo apontado
por seu opositor, já que não quis expor a verdade.
Kamila e Suelem moram em Ribeirão da Ilha, um dos bairros mais antigos
de Florianópolis, com forte influência da imigração açoriana, facilmente
percebida no sotaque da população.
Na versão da brincadeira corre-cotia cantada por Kamila e Suelem,
é clara a referência à herança portuguesa.
Versão mais comum:
Corre, cotia
De noite e de dia
Debaixo da cama
De sua tia
Corre, cipó
Na casa
Da vó
Lencinho branco
Caiu no chão
Moça bonita
Do meu coração
Versão de Florianópolis:
O galo e a galinha
Foram à festa em Portugal
O galo foi de saia
E a galinha de avental
Roda, cotia
De noite e de dia
O galo cantou
E a casa caiu
Na mesma escola em Ribeirão da Ilha, crianças brincavam de chinelão
na hora do recreio. O brinquedo, que a reportagem não encontrou em
nenhuma outra região, é um grande chinelo feito de madeira e três
correias de couro. Três crianças _cada uma com os pés colocados sob
uma das correias_, segurando na cintura uma da outra, fazem o chinelão
andar.(MF)
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