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O IMAGINÁRIO
Este
é o Bresail, de
medos e monstrengos
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"Monteiro
Lobato"/Reprodução
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CYNARA
MENEZES
especial para a Folha
Indígena, africano, lusitano, há, entre tantos Brasis, um que
nunca existiu. Ou que sim, existiu, mas apenas na imaginação
de quem por aqui andou, de quem desejou vir e |
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até
de quem já vivia muito
antes de que estas terras
fossem chamadas assim.
O'Brazil ou Hy Brasil era uma ilha situada ao sudoeste da Irlanda
e |
Saci
Pererê
Entre as lendas do folclore brasileiro, uma das mais difundidas
é o saci, negrinho de uma perna só que é o rei das travessuras
na mata |
que
chegou a figurar em mapas como o do atlas Palmela, do século 15.
Aparece também em um poema anglo-normando de 1200 como uma terra
onde não há calor nem frio excessivos, tristeza, fome ou sede. A
ilha desaparece dos mapas no século 16, mas segue na imaginação
popular _ é citada como "High Brazil" pelo escritor irlandês James
Joyce em seu "Finnegans Wake''.
Em "L'Ísola Brazil'', do italiano Angelinus Dalorto, de 1325, foi
descrita como "um largo anel de terra ao redor de um mar interior''
que só poucos bem-aventurados podem ver.
É um mistério, porque, a rigor, o nome Brasil viria de nosso
primeiro produto de exportação, o pau-brasil. A denominação pode
vir do gaélico (celta primitivo) "Bresail'', nome de um semideus.
Ambas as sílabas, 'Bres' e 'ail', denotam admiração. Seria O'Brazil
uma das famosas "ilhas afortunadas" que buscavam os antigos viajantes?
Quem foi abençoado com a visão do outro Brasil, o de Cabral, também
noticiaria para o resto do mundo conhecido um país construído em
seu próprio imaginário e no de sua época. Pouco antes do Descobrimento,
em 1493, Cristóvão Colombo já tinha visto (ao regressar do que seria
a América) sereias por estes mares, embora não fossem "tão bonitas
quanto as pintam''.
Na mente dos portugueses a primeira idéia que surgiu foi a de que
se tinha encontrado o Paraíso Terrestre _e neste período, ainda
se acreditava que havia_, estimulados, é claro, pela visão de pessoas
nuas e cheias de "inocência''. Como cenário, uma paisagem exuberante
e animais exóticos.
No livro "Visão do Paraíso'', o historiador Sérgio Buarque de Hollanda
conta que em 1549 alguns portugueses chegaram a acompanhar 300 índios
em uma viagem selva adentro rumo ao Paraíso. Outro português, Rui
Pereira, escreve, desde a Colônia, para seus pais: "Se houvesse
Paraíso na terra eu diria que está no Brasil''.
"Meu
Livro de Folclore"
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Curupira
Protetor
das florestas e dos animais, o curupira é um índio
que tem os pés para trás para despistar os inimigos
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O maracujá
(a "fruta da paixão'') substitui a maçã que leva ao pecado. A serpente
é a jibóia.
O jesuíta Simão de Vasconcelos, em 1663, em parágrafos que teriam
sido expurgados mais tarde, de acordo com Buarque de Hollanda, sustenta
que o Paraíso não só estava na América como precisamente no Brasil.
Para comprovar, citava vários teólogos, entre eles São Tomás de
Aquino, que haviam situado o Paraíso Terrestre sob a linha do equinócio,
a parte mais amena onde o homem poderia viver em todo o planeta.
Nesse Brasil imaginário, sobretudo no século 17, pululavam as criaturas
míticas. Vasconcelos, seguindo os passos do espanhol Cristóbal de
Acuña, fala de três nações monstruosas: uma, de anões; a outra,
de seres que tinham os pés ao contrário e confundiam os inimigos
com suas pegadas, enviando-os na direção oposta (o Curupira?); e
a terceira, de gigantes.
Também conta ter visto esqueletos de homens-peixe. Outros relatos
sobre seres fantásticos falam de homens com oito dedos em cada pé;
com orelhas e pés gigantescos; com um olho só; ou com uma só perna,
muito velozes (o Saci?). Sem falar nas amazonas _ou nos canibais,
que existiram, mas não peludos e de faces monstruosas como os diziam
antes de Hans Staden quase ter sido comido pelos índios e sobrevivido
para contar a história.
O holandês Nieuhoff chegou a publicar, em 1682, uma obra fartamente
ilustrada sobre os bichos que viu no Brasil, como o "mie ren-eeter'',
misto de raposa e tamanduá, o "schuktverken'', mistura de queixada
e tatu, ou o "hooyschrenkel'', cruzamento de gafanhoto e libélula
com rosto humano.
A fauna e a flora verdadeiras só foram se revelando aos poucos,
com as expedições, científicas ou não, pelo imenso território. Desfeito
o Brasil da fantasia, já não havia com o que se espantar: seres
reais considerados perigosos, co mo onças e cobras, ou mesmo os
índios antropófagos, pouco podiam resistir diante do fogo dos arcabuzes.
O medo agora estava do outro lado.
Leia mais: Idealização
do índio moldou a cultura nacional
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