Líder aponta "contradição" nos festejos

(10/4/2000)

da Sucursal de Brasília

Líder dentre os cerca de 1.300 xukurus-kariris de Palmeira dos Índios (AL), Etelvina Santana Silva, 34, conhecida como Maninha Xukuru, se vale do exemplo doméstico para demonstrar sua indignação com a "contradição" nas comemorações oficiais dos 500 anos.

"O governo gasta R$ 45 milhões para comemorar o que chama de "Descobrimento do Brasil", mas todos os anos diz que não tem dinheiro para as demarcações e homologações de nossas terras", afirma Maninha.

Ela mora numa das três aldeias xukurus do município, que ocupam menos de mil hectares descontínuos e ainda não são demarcadas. "Reivindicamos 13.020 hectares, mas a resistência é grande, especialmente por parte dos latifundiários."

Coordenadora da marcha no Nordeste, em Minas Gerais e no Espírito Santo, Maninha disse nada faz além do seu dever de índia, nascida e criada numa aldeia. "É obrigação de todos os índios colaborarem para a releitura da história", afirmou. (WF)

Folha - O que significa essa marcha indígena no momento dos 500 anos?
Maninha Xukuru - A marcha demonstra o nosso repúdio às comemorações oficiais. Os povos indígenas têm sofrido violências e massacres de todos os tipos nestes cinco séculos. Dezenas de nações indígenas foram totalmente eliminadas. Nós mostraremos a real situação em que vive o nosso povo: miséria, negação dos nossos direitos, discriminação e outras agressões.

Folha - O que vocês esperam dessa marcha?
Maninha - Esperamos a consolidação do movimento indígena no país e esperamos que a sociedade assuma como sua essa história e que reformule a versão oficial, respeitando e defendendo os povos indígenas. Enquanto o governo brasileiro estará festejando, nós vamos denunciar e mostrar ao mundo o que o Brasil fez com os donos desta terra e como está tratando os que resistiram.


Leia mais:
Sem-terra ameaçam descumprir acordo

Leia mais:

Igreja cobra taxa na região onde bispo Sardinha foi devorado

Igreja quer pedir perdão pelo presente

Historiadores e aventureiros disputam sobra de naufrágios

Remanescentes de quilombos ainda esperam pela terra

Marco português de 1501 vira objeto de culto milagroso no RN

Celebração do Descobrimento muda cotidiano dos pataxós

Paraná guarda últimos trechos da estrada indígena que cortava a América do Sul

Xavantes montam "embaixada" em São Paulo

Viagem leva quase dois dias

Índios realizam marcha inédita para contestar o Descobrimento

Governo tenta impedir atos contra FHC

Líder aponta "contradição" nos festejos

Sem-terra ameaçam descumprir acordo

Índios fazem manifestações com MST