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Índios fazem manifestações com MST
(17/4/2000)
da Agência Folha, em Salvador
da Agência Folha, em Porto Seguro
Cerca de 500 índios fazem passeata hoje em Salvador contra as comemorações
oficiais dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, que acontecem
no próximo dia 22, em Porto Seguro (BA).
Caravanas com integrantes de 29 povoados indígenas de todos os Estados
do Nordeste chegaram ontem à capital baiana, onde se encontraram
com membros da CUT (Central Única dos Trabalhadores), do Conem (Coordenação
Nacional de Entidades Negras) e de partidos de oposição. Todos integram
o movimento "Brasil, outros 500".
"Vamos protestar contra os 500 anos de genocídio dos povos indígenas
e mostrar que a realidade do índio hoje no Brasil não corresponde
com a divulgada pelo governo", afirmou Janduir Vieira Cruz, pertencente
à tribo Tuxá, da cidade de Rodelas (BA).
Depois de participar da manifestação de hoje, que deve seguir do
bairro Campo Grande para a Praça da Sé, no centro de Salvador, a
caravana de índios do Nordeste vai para a aldeia de Coroa Vermelha,
em Santa Cruz Cabrália, onde acontece, a partir de amanhã, a Conferência
Indígena.
Segundo os organizadores da conferência, o evento pretende denunciar
o massacre sofrido pelos povos indígenas no país depois da chegada
dos portugueses.
Governo
Ainda não há definição quanto à presença do presidente Fernando
Henrique Cardoso em Coroa Vermelha, mas o subsecretário da Casa
Civil da Presidência da República, Marcelo Cordeiro, afirmou ontem
ao governador da Bahia, César Borges, que há disposição por parte
FHC em ir ao local. "O presidente também está disposto a receber
o documento final da Conferência Indígena", disse o governador baiano.
No último sábado, Cordeiro, procuradores do Ministério Público Federal
e representantes do governo estadual se reuniram com os pataxós
em Coroa Vermelha para discutir as medidas que serão adotadas pelas
autoridades durante as comemorações dos 500 anos do Descobrimento.
Os governos federal e estadual decidiram que os índios podem reerguer
o monumento destruído pela PM baiana no dia 4, em Cabrália, deverá
ser reerguido pelos índios na forma e no lugar que quiserem. O valor
da indenização pela invasão da área indígena pela PM no episódio
deverá ser discutido amanhã em reunião da comunidade pataxó.
"O monumento é uma homenagem da tribo pataxó a todos os índios que
foram assassinados ou expulsos de suas terras nos últimos 500 anos",
disse o líder indígena Nailton Pataxó.
Pré-conferência
Ao som de músicas de protesto, cerca de 800 índios reunidos ontem
no Parque Nacional de Monte Pascoal decidiram participar da manifestação
do MST contra os festejos dos 500 anos do Brasil.
"Todas as manifestações que forem contra o governo Fernando Henrique
Cardoso têm o nosso apoio", disse Nailton Pataxó. De manhã, os índios
participaram do encontro preparatório para a Conferência Indígena,
que começa amanhã, na praia de Coroa Vermelha. No chão ou em redes,
ouviram discursos de seus líderes e de representantes da Funai (Fundação
Nacional do Índio). Nos intervalos, tocaram flauta, leram jornais
e compraram artesanatos de outras tribos.
Depois da escolha dos representantes das tribos, os índios decidiram
protestar hoje de manhã, no Monte Pascoal. "Vamos ocupar o Monte
Pascoal para fazer nossos rituais sagrados e celebrar nossas orações",
disse Nailton. Somente depois eles vão para Porto Seguro se encontrar
com os sem-terra. Outros 1200 índios, das regiões Sul, Sudeste e
Nordeste, são esperados em Santa Cruz Cabrália nos próximos dias.
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