Exposição 'Monet' chega ao Masp

Mostra traz 23 telas do pintor francês

Agência Folha 26/05/97 16h40
De São Paulo

Divulgação
Monet

"Lago com Ninféias", de Claude Monet

"Eu pinto como o pássaro canta." "Não se fazem quadros com doutrinas." "Talvez eu deva às flores o fato de ter me tornado pintor." Foi assim, cheio de simplicidade e efeitos -nas frases e nos pincéis-, que Claude Monet (1840-1926) se tornou o pintor mais importante da França no final do século 19 e início do 20, período em que o país realmente dominava o setor.

Na terça-feira (27), no limiar do século 21, o Masp (Museu de Arte de São Paulo) aproveita a sempre vigente popularidade de Monet (432.776 visitantes no Rio de Janeiro e recorde brasileiro de visitação) e abre uma das grandes mostras em comemoração ao seu cinquentenário (o museu já abrigou Morandi e reserva para o segundo semestre Michelângelo e Portinari). A inauguração será somente para convidados. Na quarta-feira a exposição será aberta ao público.

"Monet - O Mestre do Impressionismo" traz 23 telas do pintor francês, 21 delas pertencentes ao Museu Marmottan-Monet e realizadas durante seu período em Giverny (chamar sua estadia na cidade de "período" é até um eufemismo, já que o pintor viveu ali 43 anos). A mostra será enriquecida ainda por dois Monet do acervo do Masp.

Com Monet e os impressionistas, o mundo e a pintura passaram a ser vistos com outros olhos e a representação ganhou novo papel. Se alguém deveria se preocupar com a representação naquele momento, era a fotografia. "O tema é para mim uma coisa secundária. O que eu quero reproduzir é o que existe entre ele e mim", disse.

O espectador deve olhar com invenção e poesia. Algumas telas do final de sua carreira radicalizam esse conceito e beiram o abstracionismo, como algumas da série "Ponte Japonesa", presentes na mostra.

Com pinceladas livres, fragmentadas e largas, Monet sugeria reflexos da luz na água e na atmosfera. Para isso, não media esforços. Amarrou-se, por exemplo, à beira do mar durante uma tempestade para captar o frenético movimento das águas. Construiu um barco-ateliê de onde observava melhor os reflexos na água e a reverberação da luz.

Desviou um braço de rio para alimentar o lago que mandou cavar em Giverny, onde fez seu jardim de ninféias, agapantos e chorões. Construiu um quilométrico jardim em Giverny. Questionado sobre a necessidade do jardim, respondeu com a mais cândida justificativa: "Para recolher algumas flores para pintar nos dias de chuva".

Fascinado pela variação que a luz do Sol propiciava, Monet pintou a mesma cena dezenas de vezes. Para ele, embora tudo girasse em torno do Sol, antes, girava mesmo é em torno da pintura.(Celso Fioravante)

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