'O Que É Isso, Companheiro?' chega aos cinemas

Filme inspirado em livro de Fernando Gabeira estréia com polêmica

Agência Folha 30/04/97 15h32
Do Rio de Janeiro

Divulgação
Elbrick
O ator americano Alan Arkin interpreta o embaixador Charles Elbrick, sequestrado por militantes de esquerda em 1969

"O Que É Isso, Companheiro?", filme de Bruno Barreto inspirado no livro homônimo do jornalista e deputado Fernando Gabeira, estréia na quinta-feira (1) em circuito nacional sob polêmica e com duas grandes responsabilidades: recuperar o maior investimento já feito em um filme brasileiro -custou R$ 4,5 milhões-, e conseguir a indicação para o Oscar de melhor filme estrangeiro, repetindo a atuação de "O Quatrilho", de Fábio Barreto.

"Não vi o filme, mas mesmo sem ter visto, não gostei", disse Vera Sílvia Magalhães, 49, a única mulher a participar da ação de sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 1969.

"Ela já não gostava antes de o filme começar a ser feito. Eu jamais produziria um filme para exaltar a luta armada, como ela gostaria, assim como jamais faria um filme exaltando a tortura e os atos arbitrários da ditadura", responde Luís Carlos Barreto, produtor do filme e pai do diretor.

Vera Sílvia disse que, pelo que ouviu de amigos, "O Que É Isso, Companheiro?" é um filme "desrespeitoso". "Todos nós somos apresentados como pessoas estúpidas, quase bárbaras, enquanto o torturador é humanizado. Isso me incomoda. Quem foi torturada fui eu, não foi o senhor Bruno Barreto", disse.

"Pensei que hoje eles já tivessem maturidade e uma visão menos narcisista e juvenil do que aconteceu. Gabeira amadureceu, eles não", disse Barreto. Vera Sílvia sente-se retratada nas duas personagens femininas do filme -as guerrilheiras Maria (Fernanda Torres) e Renée (Cláudia Abreu). Daí ter ficado irritada ao saber que no filme Renée passa a noite com o chefe da segurança da embaixada norte-americana para conseguir informações sobre a rotina do embaixador.

"Não estava no nosso universo o uso da sexualidade como mercadoria. Não é por moralismo, mas jamais daria para o chefe da segurança para conseguir uma informação", disse Vera, que hoje trabalha na Secretaria Estadual de Planejamento do Rio de Janeiro.

"Entrevistamos mais de 200 pessoas. Nada foi aleatório, mas nos demos algumas licenças poéticas e históricas", afirmou Barreto.

Apesar do alto investimento em sua produção, o filme terá, em sua primeira fase de lançamento, menos cópias do que "O Quatrilho" -última grande produção da família Barreto. Na quinta-feira, 21 cópias estarão em exibição, contra 36 no lançamento de "O Quatrilho".

O filme entra na quinta em circuito em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Goiânia (GO), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS). A partir do dia 23, o leque se abre, com 60 cópias.

"Vamos fazer um lançamento 'low profile', apostando na propaganda boca a boca", explicou Barreto. Ele e sua mulher, Lucy, também produtora do filme, já estão traçando a estratégia para o lançamento do filme no mercado internacional.

Em outubro, deverá estrear nos Estados Unidos, com distribuição da Miramax. A exibição no mercado norte-americano faz parte do "Projeto Oscar". "O circuito americano é a segunda fase. Se conseguirmos a indicação daqui, é importante estar em exibição lá. Acho que nosso erro em 'O Quatrilho' foi não estar com o filme em circuito na época da votação", disse Barreto.(Cristina Grillo)

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