BUSCA Miner



Índice | Próxima

Policial não viu discurso de Raul Seixas pregando a “sociedade alternativa”

da Folha de S.Paulo 02/06/2000 10h43
no Rio de Janeiro

O “araponga” infiltrado no Hollywood Rock trabalhou mal. Os únicos dez minutos de subversão de todo o festival ficaram de fora de seu relatório.

Ele não registrou nem uma linha sequer da vociferação de Raul Seixas a favor da “sociedade alternativa”, diante de uma platéia extasiada.

Produtor do evento, o jornalista e compositor Nelson Motta lembrou à Folha a participação do roqueiro baiano Raul Seixas no Hollywood Rock, qualificada por ele como “genial”.

“O discurso do Raul foi uma loucura. Isso o cara não viu. Se ouvisse o discurso do Raul, ele iria enlouquecer. O Raul levantando 10 mil pessoas, “viva a sociedade alternativa”, uma coisa de louco. “Faz o que tu queres, pode tudo, tá liberado”. Um louco”, disse o jornalista.

“Sociedade Alternativa” é uma música composta por Raul Seixas com letra feita em parceria com o escritor Paulo Coelho.

A música prega a criação de uma sociedade cujo lema era ‘faz o que tu queres, pois é tudo da lei‘, inspirada nos escritos do mago britânico Aleister Crowley.

“Foi a única coisa subversiva que teve no festival. Provavelmente, ele (o agente policial) era fã do Raul. Raul foi genial naquela noite”, afirmou o produtor.

Além de “Sociedade Alternativa”, Raul Seixas cantou mais duas parcerias com Paulo Coelho: “Al Capone” e “Como Vovó Já Dizia”, cujo refrão (“quem não tem colírio usa óculos escuros”) fez o público delirar.

“O grande “hit” da noite foi esse. E o “araponga” também não viu, não notou”, disse Nelson Motta, cujo comportamento é comentado em relatório do Dops produzido em 5 de março de 1975 (um mês depois do Hollywood Rock), sobre um festival de rock em Minas Gerais.

“Outrossim, acresce que o radialista Nelson Motta é um dos interessados no festival, tendo o mesmo participado de passeatas e assinaturas de manifestos contra a censura e também participado do movimento estudantil”, diz o texto.

Com o título de “Hollywood Rock”, o selo Polydor (vinculado à extinta gravadora Philips, hoje Universal) lançou em 1975 um LP com as participações de Raul Seixas, Rita Lee, Erasmo Carlos e a banda O Peso.

Foi, possivelmente, o primeiro ao vivo “fake” da discografia brasileira, procedimento hoje bastante convencional.

As gravadoras lançam CDs supostamente registrados ao vivo, mas que foram gravados em estúdio, com o acréscimo de palmas, assobios e cantorias.

A Polydor pegou fonogramas de seus artistas que participaram do festival, acrescentou gritarias de platéia e pôs o LP nas lojas.

“O disco era uma coisa completamente sem sentido”, disse Nelson Motta, que se lembra de ter gostado, além de Raul Seixas, da apresentação de Erasmo Carlos (“sensacional”), dos irmãos Cely e Tony Campello (“rock’n’roll básico”) e de “alguma coisa razoável dos Mutantes” (já sem Rita Lee e Arnaldo Baptista).

O festival gerou ainda o longa-metragem “Ritmo Alucinante”, de Marcelo França, lançado meses depois em circuito nacional.

O filme registra, talvez de forma exclusiva, a apresentação da banda Vímana, que reunia o guitarrista Lulu Santos e o vocalista Ritchie, aquele de “Menina Veneno”.

O baterista Lobão, terceiro legendário integrante do Vímana, não tocou no show. Na bateria do grupo estava Cândido Faria, que durante anos tocou com Fagner.

“O filme é precário, tem um som péssimo, mas serviu para mostrar como Rita Lee estava linda, com um visual alucinante. O show dela não foi legal. Foi um dos primeiros solos que ela fez depois que saiu dos Mutantes. Foi um show médio. O som estava muito ruim”, rememorou Nelson Motta. (MM e SR)

Clique aqui para ler mais de Ilustrada na Folha Online

Índice | Próxima

 EM CIMA DA HORA