Índice | Próxima

Teatro Bolshoi inaugura escola no Brasil

Da Agência Folha 13/03/2000 08h05
Em São Paulo


Com mais de dois séculos de história, o teatro Bolshoi de Moscou inaugura na próxima sexta-feira sua primeira escola de balé fora da Rússia. A sede é a cidade brasileira de Joinville (SC).

Vladimir Vasiliev, ex-estrela do balé russo e atual diretor-artístico do teatro Bolshoi, falou com exclusividade à Folha no sábado, no aeroporto de Guarulhos, durante o intervalo da viagem entre Moscou e Joinville. A seguir, trechos da entrevista.


Folha - Por que o senhor concordou com a abertura de uma escola Bolshoi no Brasil?
Vladimir Vasiliev
- As pessoas no Brasil são bonitas, alimentadas por muito sol e acho que têm muita sensibilidade para as artes. Ao mesmo tempo, hoje já é possível constatar os êxitos do Brasil na dança clássica.
É importante frisar que o Brasil é o primeiro país do mundo onde será instalada uma escola Bolshoi fora da Rússia. Há projetos em andamento no Japão, na Alemanha e na Grécia, que também devem ser concretizados, mas é na cidade de Joinville que tal proposta está sendo inaugurada.


Folha - O que é necessário para que uma escola Bolshoi dê certo fora da Rússia?
Vasiliev
- Em primeiro lugar, a escola precisa contar com um corpo pedagógico de alto nível. Também é importante o processo de seleção dos alunos, que deve ser feito de maneira profissional. As condições materiais, ou seja, instalações e recursos são igualmente fundamentais, além do apoio das autoridades locais.


Folha - Que garantias o senhor recebeu de que tais condições seriam possíveis?
Vasiliev
- Quando o prefeito de Joinville, Luiz Henrique da Silveira, esteve em Moscou para formalizar a proposta da escola, percebi que não se tratava de uma abstração, mas de um projeto sério e importante para a cidade de Joinville. Para que fechássemos o acordo, recebemos garantias do prefeito de Joinville de que o projeto será bem-sucedido.


Folha - Em Moscou, a formação dos estudantes de balé está intimamente associada ao dia-a-dia do teatro Bolshoi. Além de conviver cotidianamente com artistas da música de concerto, da ópera e do balé, os alunos acompanham a programação do teatro e ainda contam com a perspectiva de um dia serem admitidos no elenco de dança. Em Joinville, os estudantes não terão tais possibilidades, pois é apenas uma escola que começa a funcionar. O que o senhor acha disso?
Vasiliev
- A evolução da escola implica o desenvolvimento de uma estrutura capaz de receber os profissionais que ela formará. A formação de uma companhia de dança deve fazer parte de um processo natural, como resultado do trabalho pedagógico que está se iniciando.
Se isso acontecer naturalmente, o Brasil poderá ter uma nova etapa na história de sua dança. Caso contrário, a escola perde o sentido. Agora estamos plantando uma semente e a expectativa é que ela dê frutos.


Folha - Sendo um processo a longo prazo, como esse compromisso será mantido?
Vasiliev
- É importante haver um controle de resultados. Haverá uma supervisão na Rússia, a cargo da professora Alla Mikhalchenko, que estará em contato permanente com Jô Braska Negrão, responsável pela supervisão no Brasil.
No contrato assinado com a cidade de Joinville estão previstas missões periódicas do Bolshoi no Brasil, que farão uma espécie de auditoria do projeto. Também está previsto que os bailarinos brasileiros de maior destaque na escola sejam convidados para dançar no Bolshoi. Consideramos isso um estímulo, pois aqueles que conseguirem atingir o nível do Ballet Bolshoi certamente serão festejados e reconhecidos por isso.


Folha - O teatro Bolshoi vem enfrentando problemas financeiros e para tentar resolvê-los está pedindo ajuda fora da Rússia. Como está a situação?
Vasiliev
- O teatro Bolshoi vem adiando a restauração de suas instalações desde 1987. Para a sua reforma e modernização, inclusive de suas condições tecnológicas, precisamos de US$ 300 milhões, além de mais US$ 55 milhões para terminar de construir o edifício anexo, onde funcionará mais uma sala de espetáculos.

Para obter tal verba a Unesco tornou-se nosso patrono e agora estamos fazendo um apelo mundial. Elegemos o próximo 28 de março como o Dia Internacional de Solidariedade ao teatro Bolshoi. Estamos apelando a todos os teatros do mundo, sejam salas de cinema, teatro ou música, para que em tal data façam uma contribuição de qualquer valor em benefício do Bolshoi, que é um patrimônio internacional. As contribuições poderão ser feitas em rublos, dólares ou euros, em contas bancárias já determinadas em Moscou, Nova York e Paris.

Em Paris, é possível obter informações com o sr. Horst Godicke, da Unesco, no telefone 00/21/33/ 1/4568-1289 ou pelo fax 00/21/33/ 1/4568-5676.
Considero esse ato um impulso para eventos similares, capazes de fortalecer outras instituições teatrais. Se muitos teatros do mundo cederem um dia de sua arrecadação na bilheteria para o Bolshoi, teremos um resultado expressivo. Também estamos tentando recursos dentro da própria Rússia, pois não vamos liberar o governo de suas responsabilidades.


Folha - O Bolshoi receberá pela escola de Joinville?
Vasiliev
- Sim, há um pagamento previsto em contrato, mas não posso revelar o valor.

Clique aqui para ler mais notícias sobre cultura na Folha Online.


Índice | Próxima


Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo
desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso,
sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.