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Tradutor iraniano vê obra-prima em “Alquimista”

da Folha de S.Paulo 16/05/2000 07h47
no Rio de Janeiro

Principal tradutor de Paulo Coelho no Irã, Arash Hejazi começou suas traduções com “O Alquimista”. “É uma obra-prima da literatura moderna”, diz ele, que acha que o escritor consegue transcender as crenças religiosas em seus textos. Em entrevista à Folha, o tradutor fala do público do escritor no Irã, de sua aceitação entre os leitores muçulmanos e da polêmica envolvendo a condenação à morte de Salman Rushdie. “Problemas políticos são menos importantes do que o diálogo cultural.” (LAR)

Folha - Por que Paulo Coelho é tão popular no Irã?

Arash Hejazi -
Sua literatura foi introduzida com “O Alquimista”. As pessoas adoram. Como a trama foi baseada em uma das histórias escritas por Rumi’s Masnavi, o grande poeta e místico iraniano, os leitores perceberam a importância dessa mensagem escondida no antigo enredo.

Folha - Que dificuldades o sr. teve para traduzi-lo?

Hejazi -
A beleza de seu trabalho está em sua simplicidade. Ele é um grande escritor, não um grande literato. Temos professores de literatura que não conseguem escrever uma linha e temos grandes escritores que não se importam com gramática. As mais importantes mensagens de Paulo são escritas nas frases mais simples. Receber sua mensagem e traduzi-la não foi difícil.

Folha - De que maneira ele o atinge?

Hejazi -
Encontro muitas influências orientais em seus livros. Ele usa mensagens comuns a todas as religiões e consegue transcender crenças específicas. O misticismo iraniano acredita que tudo é uma manifestação de Deus, que todas as criaturas se movem em direção a Deus e que, no final, haverá apenas Deus.

Acho que Coelho acredita que todas as religiões do mundo têm o mesmo objetivo e mensagem. Os rituais não são tão importantes quanto a idéia básica. Ele apresenta uma velha mensagem de um jeito fácil e compreensível. É o que faz seus livros tão populares.

Folha - Dos livros dele, qual é o seu favorito?

Hejazi -
Adoro “O Alquimista”. É uma obra-prima da literatura moderna.

Folha - Qual o público dele no Irã?

Hejazi -
Os jovens gostam mais. E leitoras são mais comuns do que leitores.

Folha - Paulo Coelho é católico. Isso representa um problema em um país xiita?

Hejazi -
Temos muitos cristãos, judeus e zoroastrianos. Temos igrejas católicas e ortodoxas. Os muçulmanos iranianos respeitam seguidores de outras religiões, desde que nossa cultura seja respeitada. Xiitas amam Jesus Cristo. O nome mais comum para mulheres no Irã é “Maryam” (Maria) e, para muitos homens, “Issa” (Jesus) ou “Massih” (Messias).

Folha - O sr. sabe que, proporcionalmente, os dois países onde Paulo Coelho tem mais leitores são Irã e Israel?

Hejazi -
Não sabia sobre Israel. Mas acho que aqui ele é aceito pelos leitores como um ocidental cristão que não os ignora e por isso é amado e respeitado.

Folha - Paulo Coelho será o primeiro escritor não-muçulmano a visitar o Irã depois da Revolução Islâmica. Qual é a expectativa da visita?

Hejazi -
Ano passado, Roger Garaudy visitou o Irã, mas ele é muçulmano (o escritor francês se converteu). A visita será memorável tanto para Coelho quanto para os iranianos. Quando se trata de cultura e literatura, religião não é importante.

Folha - Existe uma “fatwa” (condenação à morte) contra o escritor Salman Rushdie. Depois dela, países ocidentais aumentaram o bloqueio político e econômico contra o Irã. A visita pode ajudar a acabar com o isolamento?

Hejazi -
O caso Salman Rushdie se tornou um assunto político. A visita de Paulo Coelho é cultural, e o Ocidente deve entender a diferença entre política e cultura.

Tenho certeza de que Coelho contará ao mundo quão aberto e gentil é o povo iraniano. Estamos nos movendo em direção a um mundo de entendimento. Problemas políticos são menos importantes do que diálogo cultural. Acho que essa visita ajudará bastante tanto o Irã quanto o mundo ocidental.

Folha - Mas como os iranianos vêem a “fatwa” hoje em dia?

Hejazi -
Não sei. As pessoas não pensam muito sobre isso.

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