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Escritores viajam em busca da identidade cultural européia

LUIZ ANTONIO DEL TEDESCO 26/05/2000 11h08
editor-assistente interino da Ilustrada

No próximo dia 7, pouco mais de cem escritores vindos de 43 países europeus embarcam na estação ferroviária de Santa Apolônia, em Lisboa, para refazer o trajeto que percorria no início do século o Expresso Norte-Sul, o mais rápido e um dos mais luxuosos trens da época.

Mas, ao apear na estação de Berlim, após 39 dias sobre os trilhos e tendo passado por 19 cidades de 11 países, os que estiveram no trem não terão feito apenas uma viagem glamourosa como faziam os viajantes de outrora. O objetivo do Trem Literatura Europa 2000 é buscar respostas e refletir sobre o futuro cultural do continente.

A idéia do trem começou a ser elaborada em 1997, no escritório de literatura de Berlim, e agora entrou no rol das comemorações francesas pela chegada do ano 2000. E o final de milênio parece estar inquietando os escritores europeus.

Formada por quase 50 países e mais de uma centena de línguas, a Europa, ou pelo menos uma parte dela, se questiona sobre o seu destino, sua identidade cultural e a “função” da cultura em um mundo globalizado.

E são muitas as questões propostas pelo programa Trem Literatura aos escritores. “Caminhamos para uma casa cultural comum ou estamos construindo uma nova Torre de Babel?” “O escritor conserva ainda o papel que herdou do Iluminismo?” “Como a literatura enfrenta o desafio da globalização da mídia?”

Ao longo do trajeto e em cada cidade visitada _onde os viajantes passarão de um a dois dias_, os escritores deverão participar de encontros culturais e de vivências para que se relacionem com a vida dessas cidades e compreendam melhor a pluralidade cultural do continente.

Para Katrin Oebel, responsável pelo Trem Literatura em conjunto com a Missão 2000/França _programa francês de comemorações do ano 2000_, não foi por acaso que a idéia do projeto surgiu em Berlim.

Idealizador

“Thomas Wohlfart, que dirige há oito anos o Escritório de Literatura de Berlim e que teve a idéia do programa, viveu muito de perto a divisão da Europa em dois blocos.

Ele queria um projeto literário de dimensão européia e tomou conhecimento da história do Expresso Norte-Sul. Aquele trem foi o sonho que o banqueiro belga Georges Nagelmackers transformou em realidade. Ele queria ver uma Europa unida, sem fronteiras. Foi essa visão que Wohlfart quis ver renascida, mas agora por meio da literatura”, explica.

Katrin Oebel acredita que a convivência de pessoas de hábitos e crenças diferentes, vindas de lugares diferentes, é um dos principais proveitos do projeto.

“O trem como um passo para a construção de uma “casa européia” tem um significado simbólico enorme. Não se esqueça de que colocaremos lado a lado, por pouco menos de seis semanas, homens vindos de países em guerra. Se conseguimos realizar este projeto foi porque pudemos contornar seus maiores empecilhos, que foram as instituições políticas estabelecidas e os aspectos ideológicos”, conta.

"Diário de Bordo"

Como resultado final prático desse périplo dos escritores será produzido um “diário de bordo das literaturas européias”.

Cada viajante deverá escrever um texto de aproximadamente 15 páginas, no qual irá colocar suas impressões sobre o continente que descobrir durante o trajeto.

Intitulados “Da Europa”, os 107 textos _serão 107 os escritores no trem_ vão ser agrupados em um único volume que pretende ser, de certa forma, a tradução do continente por seus habitantes. Em 2001, o diário da viagem será editado e traduzido em todas as línguas européias.

O trajeto do Trem Literatura vai cobrir quase toda a Europa e retoma, em parte, o percurso do extinto Expresso Norte-Sul, trem criado em 1887, que começou fazendo a ligação entre Lisboa e Paris e, mais tarde, chegou a unir a capital portuguesa a Moscou.

Enquanto o “diário a 107 mãos” não chega, é possível acompanhar a viagem do Trem Literatura e conversar com os escritores no site www.literaturexpress.org.

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