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Acusação de corrupção derruba dirigente da CBF

Agência Folha 07/05/97 20h40
Do Rio de Janeiro

O presidente da Conaf, Comissão Nacional de Arbitragem de Futebol, Ivens Mendes, pediu demissão nesta quarta-feira sob justificativa de que ele e sua família estariam recebendo ameaças.

A versão oficial do presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, é de que Mendes se demitiu depois que sua filha de 16 anos sofreu duas tentativas de sequestro. A Conaf é subordinada à CBF.

A versão extra-oficial, porém, é de que Mendes pediu demissão depois que vieram à tona denúncias de que ele teria aceito ofertas de ajuda financeira e de material esportivo de clubes de futebol para a sua campanha a deputado federal, em Minas Gerais, no ano que vem.

''Preciso que vocês mandem R$ 25 mil (...) Vou até pedir para o juiz dar uma mãozinha para vocês'', disse Mendes, numa gravação apresentada quarta-feira à noite no ''Jornal Nacional'', da TV Globo.

Mendes estava conversando com uma pessoa ligada ao Atlético-PR antes da partida entre o clube parananense e o Vasco pela Copa do Brasil, no dia 3 de abril.

O juiz desse jogo foi Oscar Roberto Godoi, de São Paulo.

O Atlético-PR venceu por 3 a 1 e o atacante Edmundo, do Vasco, foi expulso nesse jogo.

Na partida de volta, no Rio, o Vasco venceu. Mas a vaga ficou com o Atlético-PR, que foi eliminado pelo Corinthians.

Uma fita cassete com a entrevista de Mendes ao repórter Marcelo Rezende, da Rede Globo, circulou quarta-feira na CBF.

Na entrevista, à qual a Folha de S.Paulo teve acesso, Mendes afirmou ter recebido ofertas de ajuda para a sua campanha eleitoral dos clubes Corinthians (SP), Palmeiras, Cruzeiro, Atlético-MG, América-MG e Atlético-PR.

''Eles não propuseram dar alguma coisa. Disseram que, olhe, se você for, nós vamos lhe ajudar, emprestando times para jogar, dando material do clube que já não se usa mais, vamos ajudar de uma forma que a gente possa'', afirma Mendes na gravação.

O ex-presidente da Conaf nega, na gravação, ter recebido R$ 100 mil do Corinthians, e afirma que recebeu apenas camisas. ''O Corinthians deu camisas para eu dar a quem pedisse. O pessoal queria a assinatura do Marcelinho.''

Na mesma gravação, Mendes nega ter conversado com o juiz do jogo Vasco e Atlético-PR, pela Copa do Brasil, e com os dirigentes do clube do Paraná para que os jogadores do Atlético agredissem o atacante vascaíno Edmundo e provocassem sua expulsão do jogo, que de fato ocorreu.

Mendes ocupou a presidência da Conaf nos últimos dez anos. Ele estava sendo esperado para uma entrevista coletiva na sede da CBF, mas não apareceu até as 18h55.

O diretor do departamento técnico da CBF, Gilberto Coelho, assumiu interinamente a presidência da Conaf. Estão sendo cogitados para o cargo os nomes dos ex-árbitros José Roberto Wright e Arnaldo Cezar Coelho. Outra opção é a criação de um colegiado de árbitros para dirigir a entidade.

Coelho, comentarista da TV Globo, afirmou que a saída de Ivens Mendes ''foi uma perda''.

Os presidentes de Corinthians, Palmeiras, Atlético-MG e América-MG, cinco dos seis clubes que teriam participado do suposto esquema, negaram corrupção. O presidente do Cruzeiro está no Equador.

Oficialmente, a Conaf é o órgão responsável por todos os árbitros do país.

Mesmo não se responsabilizando pelas arbitragens dos campeonatos estaduais, cuida do registro de todos os juízes que atuam nessas competições.

A Conaf (Comissão Nacional de Arbitragens de Futebol) surgiu em janeiro de 1994, em substituição à Cobraf (Comissão Brasileira de Arbitragens de Futebol), no momento em que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) queria ''moralizar'' as arbitragens no país.

Curiosamente, a Cobraf foi criada em 1974, exatamente em substituição à Comissão Nacional de Arbitragens, da CBD (Confederação Brasileira de Desportes), que gerenciava todos os esportes do país.

Nesta década, essas entidades levantaram várias polêmicas.

Em 91, errou a tradução de uma determinação da Fifa e divulgou que os goleiros não poderiam mais tocar por duas vezes na bola, quando, na verdade, só não poderiam segurá-las, se recuada, com os pés.

Em 93, Ivens Mendes ''patrocinou'' a inclusão de mulheres no quadro de arbitragem e queria um trio feminino na final do Brasileiro-93.

Em experiência, uma auxiliar foi agredida pelo time do Cruzeiro, ao marcar um impedimento a favor do Corinthians.

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