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Sport e Curitiba acendem vela para Deus e diabo

Por Fábio Victor 18/06/97 19h09
Agência Folha
De São Paulo

O Clube dos 13, reunião dos maiores times do Brasil, foi criado em 1987 para defender os interesses de seus associados, que, à revelia da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), queriam negociar por conta própria os seus contratos de TV e fazer o seu próprio campeonato.

O Clube dos 11 ou Abracef (Associação Brasileira de Clubes de Futebol) surgiu dez anos depois, com objetivos semelhantes, mas conflitantes com os da outra associação.

A interseção entre os dois grupos, inimaginável pelo simples fato de defenderem interesses muitas vezes opostos, já existe, e reúne dois clubes.

Convidados, junto com o Goiás, para integrar o Clube dos 13, Sport Recife e Coritiba não se desligaram oficialmente da Abracef, seu grupo de origem.

''Não somos radicais. Não podemos renunciar à participação em qualquer fórum que discuta o futebol brasileiro. Nada impede que um membro do Clube dos 13 participe da Abracef'', justifica o presidente do Sport, Luciano Bivar.

O presidente do Coritiba, Joel Malucelli, afirma que ''não pediu para sair nem foi convidado a sair'' da Abracef. ''Mas o Clube dos 13 pode aumentar, recebendo todo grande clube do país'', diz.

''Conversei com o Paulo Carneiro (presidente do Vitória e da Abracef), que estava sentido, mas disse a ele que o Clube dos 13, que é hoje Clube dos 16, pode virar Clube dos 20'', diz Bivar.

Ao mesmo tempo em que procurar evitar conflito com os ''desertores'', Carneiro deixa claro que não gostou da atitude dos clubes.

''A saída tirou parte de nossa força de negociação. Fico feliz por eles não terem se desligado de nosso grupo, mas isso não traz resultados. Eles nos enfraqueceram.''

O que faz os interesses dos dois grupos se chocarem de frente é, principalmente, a negociação da transmissão do Brasileiro-98 para os canais de TV aberta.

De uma verba total de R$ 51 milhões, o Clube dos 13 vendeu os direitos às TVs Globo e Bandeirantes por cerca de R$ 21 milhões. A Abracef diz que só permitirá a transmissão dos jogos de seus clubes caso receba 40% do valor do contrato. O Clube dos 13 oferece bem menos -R$ 400 mil.

O ingresso dos três novos membros do Clube dos 13 foi oficializado na semana passada, por unanimidade, em uma assembléia.

Para chamar Sport, Coritiba e Guarani, o Clube dos 13 usou o argumento de que estes clubes já haviam sido campeões brasileiros. O Goiás foi convidado por ser um dos três clubes convidados para a primeira Copa União e que permanece na primeira divisão do Brasileiro.

Motivo de uma das maiores polêmicas dos últimos tempos no futebol brasileiro, a controvérsia sobre o título de campeão brasileiro de 1987 poderá chegar ao fim.

Naquele ano, o Clube dos 13 organizou a Copa União, denominada pela CBF de Módulo Verde, e, pelo regulamento do Brasileiro, os campeões do torneio teriam que jogar as semifinais com os vencedores do Módulo Amarelo -competição organizada pela CBF.

Flamengo e Inter-RS, campeão e vice do Módulo Verde, se recusaram a jogar com Sport e Guarani, primeiros do Módulo Amarelo.

A CBF, então, autorizou que Sport e Guarani decidissem entre si o campeonato -conquistado pelo time pernambucano.

O Flamengo, no entanto, reivindica para si o título de campeão.

Como um critério usado pelo Clube dos 13 para convidar os novos times foi o fato de eles já terem sido campeões nacionais, a associação admitiu o título do Sport.

No início da semana, o Clube dos 13 enviou à CBF ofício solicitando que a entidade reconheça que o ano de 1987 teve dois campeões brasileiros.

O presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, não nega que o convite tenha sido uma manobra para minar a força que vinha tomando o grupo rival, mas afirma que esse não foi o único motivo.

''Não se consegue fazer um campeonato de abrangência nem contratos com menos de 16 clubes. Se você tem 13 de um lado, e do outro tem 11 que não querem ceder, você têm que cooptar alguns'', diz.

O ''novo'' Clube dos 13 pretende realizar a segunda edição da Copa União no próximo ano.

Segundo o presidente da entidade, Fábio Koff, o torneio seria disputado apenas entre os 16 integrantes do grupo, que participariam também do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil.

A novidade da Copa União-98 é que o campeão e o vice poderão jogar um torneio com os dois melhores times da Argentina. ''Estou em contato com os argentinos para fazermos em 98 a 'Copa Brasil-Argentina''', disse Koff.

O aumento do número de integrantes não deverá mudar o nome do grupo que reúne os maiores clubes do futebol brasileiro.

Batizada oficialmente de ''União dos Grandes Clubes do Futebol Brasileiro'', a associação presidida por Fábio Koff ficou sendo conhecida por Clube dos 13, o seu nome de fantasia.

Segundo Koff, uma possível mudança de nome para 'Clube dos 16' vai ser submetida ao Departamento de Marketing da entidade e discutida em reunião do grupo, mas, em princípio, a idéia é manter o nome original. ''É uma forma de remeter aos 13 fundadores do clube'', explica.

O Guarani e Clube dos 13 têm versões totalmente opostas para um possível ingresso do clube paulista na associação.

O presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, afirma ter enviado dois comunicados ao clube convidando-o a entrar no grupo.

''O Guarani nem sequer respondeu à formulação da proposta'', disse Koff.

Dois faxes, com datas de 26 e 28 de maio, cujas cópias foram enviadas à Folha, teriam sido emitidos ao Guarani, segundo Koff.

O supervisor geral do clube, Eduardo José Farah Filho, disse que nenhum convite chegou às mãos da diretoria.

''Se o Clube dos 13 tiver esse interesse, pode mandar um comunicado, pois só assim poderá ter resposta. Até agora, o Guarani não recebeu nenhum tipo de convite. O senhor Koff deve estar equivocado'', disse Farah Filho.

O presidente da Abracef, Paulo Carneiro, comenta o caso com dúvida. ''Tenho informações de que o clube não foi chamado, mas acho o Koff uma homem sério. Talvez o Guarani não tenha interpretado bem o convite.''


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