E S P E C I A L

  • Ano teve pelo menos outros nove casos de múltiplos assassinatos

    Evelson de Freitas

    O estudante Mateus da Costa Meira, preso no 96º DP, em São Paulo

    Evelson de Freitas

    O traficante que vendeu a submetralhadora para Meira é levado preso


    Evelson de Freitas

    Foto do documento de identidade do estudante de medicina


    Evelson de Freitas

    O psiquiatra José Cássio Nascimento, que já havia atendido Meira


  • Prefeitura interdita cinemas do MorumbiShopping
    Alarme de uma das salas teria apresentado problema

    Da Redação
    Em São Paulo

    Folha Imagem
    O Contru (órgão da Prefeitura de São Paulo que fiscaliza os imóveis) lacrou nesta segunda todas as salas de cinema do MorumbiShopping, onde, na última quarta, o estudante Mateus da Costa Meira matou três pessoas. A informação é da rádio CBN.

    Segundo a rádio, o alarme de uma das salas não teria funcionado no momento do crime. Os técnicos da prefeitura decretaram a interdição das salas por falta de segurança.

    O estudante de medicina Mateus da Costa Meira disparou tiros de submetralhadora sobre a platéia do filme "Clube da Luta", na sala 5 do MorumbiShopping.

    O psiquiatra de Meira, José Cássio Nascimento Pitta, está preocupado com a possibilidade de o estudante tentar o suicídio na cela onde está preso. Nascimento passou 19 minutos com o estudante na tarde deste sábado, em um sala reservada do 96º DP (Brooklin).

    Ao sair do DP, o psiquiatra disse que Meira ainda estava ansioso, mas havia retomado o uso de medicamentos. O estado dele foi considerado equilibrado. "Nós estamos preocupados com o risco de suicídio, mas estamos tentando criar condições para evitar qualquer tipo de ação dessa natureza", disse.

    Transplante
    O coração da publicitária Hermè Luísa Jatobá Vadasz, vítima do atirador do MorumbiShopping, foi transplantado com sucesso para um paciente do SUS (Sistema Único de Saúde), segundo informou a rádio CBN neste sábado. Além do coração, também foram doados fígado, rins e córneas da vítima, segundo a rádio.

    O sábado foi marcado por uma surpresa no caso. O exame residuográfico das mãos de Mateus da Costa Meira não mostrou sinais de pólvora. Na quarta, o estudante de medicina disparou tiros de submetralhadora sobre a platéia do filme "Clube da Luta", na sala 5 do cinema do MorumbiShopping, em São Paulo.

    A polícia decidiu na sexta-feira (5) fazer uma reconstituição do tiroteio, que deixou três mortos e cinco feridos na noite de quarta-feira. O estudante deve voltar ao shopping para participar da reconstituição, que deve acontecer na semana que vem.

    O pai do estudante, Deolindo Vanderley Meira, pediu perdão às famílias das vítimas de seu filho. "Eu sei como elas estão se sentindo", disse. Ele conversou por cerca de duas horas com o filho na 96º Delegacia de Polícia de São Paulo, onde Mateus está preso.

    Represália
    Na manhã de sexta-feira, a faculdade de medicina da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo suspendeu as atividades acadêmicas do aluno. Segundo o diretor da faculdade, Ernani Geraldo Rolim, os professores decidiram não optar pela expulsão definitiva do aluno porque ele cometeu um delito civil, não ligado diretamente à atividade acadêmica. Meira se formaria em cerca de 15 dias.

    Atividades criminosas
    O estudante de medicina Mateus da Costa Meira costumava enviar mensagens com vírus e imagens pornográficas para clientes do provedor Magiclink, que opera na capital baiana. Mateus Meira começou a "infernizar" a vida dos clientes do provedor há quase três anos (janeiro de 97), quando cursava o quarto ano de medicina.

    A polícia investiga dois crimes que teriam sido cometidos por ele: porte ilegal de entorpecentes e falsificação de CDs. No apartamento do estudante, em São Paulo, foram encontrados equipamentos para pirataria de CDs. Na manhã de quinta-feira, a polícia encontrou cocaína, crack e munição no apartamento do estudante.

    O tiroteio no shopping
    No meio do filme "Clube da Luta", na sala 5 do cinema do shopping, Meira começou a atirar com uma submetralhadora 9 mm. Depois, foi dominado pelas próprias pessoas que estavam no cinema. Os seguranças, desarmados, o entregaram à polícia.

    Para a polícia, Meira disse que escolheu o filme "Clube da Luta" porque, como ele, o personagem principal é um "esquizofrênico". O filme, bastante violento, conta a história de um homem perturbado que monta uma organização secreta. O grupo começa promovendo lutas entre seus integrantes e acaba por se tornar uma milícia terrorista.

    As vítimas
    Além de Hermè Luisa Jatobá Vadasz, funcionária da agência de publicidade Young & Rubican, morreram também Fabiana Lobão Freitas, 25, e Júlio Maurício Zemaitis, 29. Fabiana era formada em letras e turismo e trabalhava no MAC (Museu de Arte Contemporânea), da USP. Ela estava acompanhada pelo produtor de cinema Carlos Eduardo Porto de Oliveira, 26, seu namorado havia sete anos, que também ficou ferido no tiroteio.

    Personalidade
    Meira é um rapaz de classe média-alta que mora no centro de São Paulo. Cursa o sexto ano de medicina na Santa Casa de Misericórdia, pelo qual paga R$ 1.040 mensais, fazia estágio em oftalmologia. Seu pai, que também é médico, mora em Salvador, com a família.

    Todas as pessoas que testemunharam sobre a personalidade do estudante descreveram-lhe como uma pessoa reservada e com problemas de relacionamento. Ele chegou a ser encaminhado a uma psicóloga da faculdade devido aos atritos causados pela sua personalidade. Entre eles, está a recusa em prestar plantões médicos, previstos no currículo de qualquer faculdade de medicina.

    No inquérito, Meira disse que imaginou cometer esse tipo de crime por cerca de sete anos. Enquanto depunha, teve lapsos de memória e dificuldades de expressão. O delegado seccional Olavo Francisco não acreditou na autenticidade desses problemas e disse suspeitar que o estudante esteja "engendrando algo para que a defesa o ajude", como uma alegação de insanidade.

    O psiquiatra que trata do estudante, José Cássio do Nascimento, disse que o uso de drogas pode ter influenciado a sua ação. Também foram encontrados bilhetes na casa do estudante, dizendo "mídia, realidade, sociedade hipócrita. Isso é culpa das drogas. Eu não sou assim".

    Nascimento, que acompanhou o inquérito, disse que Meira manteve a organização lógica dos pensamentos, sem demonstrar sinais de insanidade.

    A arma
    No mesmo Distrito Policial onde Meira está preso, o 96º, se encontra o traficante Marcos Paulo Almeida dos Santos, que confessou ter vendido a arma o estudante por cerca de R$ 5.000. Meira disse que empregou Santos como motorista havia um mês, pois não sabia dirigir o automóvel com câmbio mecânico que lhe foi fornecido pelo seguro depois de uma colisão que destruiu seu Chrysler Neon automático.

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    Assista a reportagens da Rede TV!:
    Violência: estudante de medicina confessa que o crime foi planejado há sete anos.
    Desvio de personalidade: Mateus confirma que usa drogas e faz tratamento psiquiátrico.
    As vítimas da tragédia no Shopping Morumbi.
    Arrependimento: em entrevista o estudante diz que não mataria de novo.