Explosão é causa mais provável do acidente



AJB 09/07/97 21h29
De São Paulo

Uma explosão provocada por algum tipo de artefato colocado sobre uma poltrona central entre a 16ª e a 17ª fileiras de assentos, situada do lado direito do avião, é a causa mais provável do incidente no vôo 283 da TAM. "Fica evidente que houve uma detonação. Há resíduos químicos evidenciados pela mancha de queimado no local", afirmou o tenente Carlos Eduardo Zoli, comandante do esquadrão do bombas do Grupo de Ações Táticas Especiais, Gate, da Polícia Militar. É a primeira vez que acontece um incidente desse tipo na aviação brasileira.

O Gate, técnicos do Centro Tecnológico da Aeronáutica, CTA, e da Polícia Federal iniciaram na tarde desta quarta-feira a inspeção do avião no hangar da TAM. Embora a TAM não tenha recebido nenhuma ameaça de atentado, as autoridades aeronáuticas recomendaram que sejam intensificadas as medidas de segurança nos aeroportos brasileiros.

O engenheiro Fernando Caldeira de Moura Campos estava sentado na poltrona ao lado, junto da janela, e foi lançado para fora do avião. A direção da TAM não descarta a possibilidade do rompimento da fuselagem ter sido provocado por uma falha estrutural. "Mas a chance de ser um problema estrutural é de 5%" acredita Luis Eduardo Falco, vice-presidente da empresa. "Não quero especular. Não dá para dizer que foi atentado a bomba. Houve uma explosão, mas aquele estrago poderia ter sido causado até por um cilindro de oxigênio de mergulho", afirma Falco.

Outra possibilidade é que a explosão tenha sido provocada pela própria despressurização. Mas, segundo o comandante Humberto Angel Scarel, que pilotava o Fokker 100, "se fosse isso, o dano seria menor".

Segundo Falco, a análise preliminar dos peritos da aeronáutica e da PM indica que aconteceu uma explosão, pois os painéis laterais foram jogados para fora e o piso do avião ficou amassado para baixo. Isso, segundo os técnicos, seria resultado do forte deslocamento de ar a partir da 17ª fileira de poltronas.

As primeiras impressões dos técnicos baseiam-se na análise visual do Fokker, que apresenta um rombo retangular na fuselagem de dois metros de comprimento por um metro e meio de altura. Esse rasgo deixa exposto o que sobrou das fileiras 16 e 17 de onde foram sugadas três poltronas. "A estrutura da poltrona central da fileira 17 apresenta resíduos químicos, ainda não identificados," diz Zoli. Ali, segundo ele, seria o epicentro da explosão. Foram encontrados estilhaços no raio de dois metros a partir deste ponto, como se algo fosse arremessado do centro para a periferia.

Segundo Falco, na área onde ocorreu a explosão passam apenas fios elétricos e tubos hidráulicos. "Não há nada ali, na estrutura do avião, que pudesse ter provocado a explosão", afirma. Segundo ele, a empresa não recebeu nenhuma ameaça ou aviso de bomba. "É o primeiro caso de explosão a bordo na história da aviação brasileira", disse Falco. "A imagem da aviação fica abalada, a TAM é uma vítima assim como seus passageiros", afirma.

Segundo Falco, o Fokker 100 acidentado foi comprado em 1993, da empresa de avião Taba, que usou-o durante 12 meses. Para voar com o logotipo da TAM o avião foi reformado e recebeu uma segunda porta, traseira, no lado oposto ao que teve a fuselagem rompida. "Essas modificações são rotineiras, todos nossos aviões têm duas portas," disse Falco. Ele não acredita que a reforma possa ter abalado a estrutura do avião e provocado o incidente. "Todas as portas do avião estavam intactas e a aeronave resistiu ao choque voando por mais dez minutos e pousando em segurança", observou.

A suspeita de que algum tipo de artefato possa ter provocado o acidente com o Fokker 100 mobilizou peritos em explosivos do Ministério da Aeronáutica, Polícia Federal e das polícias civil e militar de São Paulo. As equipes recolheram material na fuselagem do avião no hangar da TAM em no Aeroporto de Congonhas e, mais tarde, nos locais onde caíram parte dos destroços e o corpo do empresário, na zona rural de Suzano. As investigações que apontam para a possibilidade de um atentado serão tocadas pela Polícia Federal, enquanto o Serviço Regional de Aviação Civil (Serac) cuidará das causas aeronáuticas.
 

   

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