Especialista fala sobre Aids com o público do UOL
Leia principais trechos da conversa com Valéria Petri
do Universo Online 11/07/97 20h24
De São Paulo
Valéria Petri, 49, diagnosticou o primeiro caso de Aids do Brasil
(1982). Ela conversou com o público na estação Bate-papo do UOL sobre os
novos tratamentos da Aids e esclareceu muitas dúvidas sobre o tema.
Petri foi consultora da Comissão de Saúde do Adolescente durante dez
anos na Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. É
professora titular do departamento de dermatologia - disciplina de
dermatologia infecciosa e parasitária - da Escola Paulista de Medicina e
autora do livro: "Sexo, Fábulas e Perigos".
Leia algumas opiniões da de Valéria Petri:
Contaminação em relações sexuais com soropositivos:
Existe a possibilidade de transar com soropositivo e não se contaminar.
Eu não arriscaria. As
chances são difíceis de calcular. Pelo amor de Deus, não queira tirar a
prova.
As campanhas de esclarecimento público:
As campanhas para o uso da camisinha não são tudo. O que preocupa é a
desinformação geral
sobre os riscos das doenças venéreas como um todo. Você sabe que boa
parte dos adolescentes não faz uso dos
preservativos (digamos, pelo menos 50%). Isso é sério em relação a todas
as infecções genitais, que favorecem a transmissão
e a instalação do HIV também.
As mulheres como grupo de risco:
A mulher é mais receptiva às secreções mais abundantes do homem, nas
relações sexuais.
Tudo indica que ela tem uma vulnerabilidade maior que o homem em relação
à ela. A propósito da relação entre duas
mulheres, a possibilidade de contágio existe principalmente quando são
usados objetos entre elas.
Sexo oral e contaminação:
Aconselho o uso de camisinha para sexo oral. O sexo oral, anal e
genital, todos são receptivos e capazes de permitir a contaminação,
assim
como acontece com outras doenças que se transmitem pelas relações
sexuais ( DST).
Sobre a positivação depois da negativização:
Uma pessoa contaminada pode dar conta do vírus (acabar com ele)
teoricamente. Não há
meios de ter certeza de que isso ocorreu, quer dizer, não se deve estar
definitivamente acomodado se parecer que acabou a
infecção. A gente gostaria que as pessoas negativassem para sempre e
isso fosse seguro, mas não é. Há pessoas que
negativam, aparentemente, mas voltam a positivar depois de um tempo
variável. Isso também acontece.
Efeitos colaterais do coquetel anti-aids:
Não há alimento natural usado pelos médicos para as
náuseas e dores de cabeça. Pelo menos nada que seja convincente. Tome os
analgésicos como o Tylenol, tome o Dramin que
foi prescrito - funciona bem - e esteja certo de que foi muito bom ter
sido feito precocemente seu diagnóstico. Você vai ficar
ótimo e o diagnóstico precoce é um grande protetor contra os efeitos
nocivos do HIV. Seja cuidadoso com seu corpo. Ele
merece. Carinho para você.
O "Braulio":
Pessoalmente não simpatizo com as campanhas que utilizam termos chulos
ou
grosserias como foi essa. Isso não é educativo. É mais uma grosseria,
apenas. Não vejo efeito prático nisso, a não ser o mau
gosto que continua a ser divulgado, não só a propósito dessa campanha.
Quer ver uma que me toca? A do Vicentinho. Êle é
um representante do povo, é popular. Fala adequadamente com o
telespectador. Como cidadão comum, gosto de ser bem
tratada e isso não tem nada a ver com baixaria na mídia ou na internet.
Camisinha:
Aconselho o uso de camisinha, uma, duas, tudo o que for protetor.
Escafandro, que tal?
Aconselho mais ainda que busquem todos informações confiáveis e parem de
acreditar que o corpo agüenta tudo. Não
agüenta. Uma DST pode ser suficiente para comprometer toda a sua vida e
a de sua família (diga-se pai, mãe, irmãos, filhos,
esposa).
Com uma DST você pode ter mais risco de desenvolver câncer,
como acontece com o vírus HPV - que produz a
verruga genital, condiloma acuminado ou "crista de galo". Você ficará
refém dos consultórios e laboratórios de análise e usará
todos os recursos nisso - pelo menos um bom dinheiro. É inteligente ser
um garanhão cheio de problemas venéreos? Qual é a graça?
Às 17:36:27 alguém disse que os sorrisos começaram a amarelar. Pois bem,
hoje as piadas sobre a AIDS são no mínimo sem-graça. Ninguém mais deixa de sentir
profundamente o drama social que isso tudo
representa.
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