Rio+5 começa com discursos inflamados

Líder feminista defende ação das mulheres

Agência Folha 13/03/97 19h54
Do Rio de Janeiro

Após uma solenidade de abertura que primou pelo tom oficial dos discursos, a líder feminista norte-americana Bella Abzug levantou a platéia que lotava o salão principal da "Rio + 5" com sua fala em defesa da participação das mulheres nos destinos políticos do planeta.

"Sem a participação das mulheres, não criaremos um sistema de desenvolvimento sustentável", afirmou. Ao concluir seu discurso conclamando as pessoas a jamais desistirem "de dizer a verdade", Bella foi aplaudida de pé.

Amigo de longa data da feminista, o idealizador da "Rio + 5", Maurice Strong, afirmou: "Ficou claro que você continua a maior porta-voz das mulheres. Eu diria que você fala por todos nós".

Presidente da entidade Women's Environment and Development Organization e ex-congressista norte-americana, Bella disse acreditar que as mulheres mudariam a natureza do poder. Para ela, o poder, até agora, tem sido fonte de corrupção.

O seu discurso representou uma mudança no clima de abertura do encontro "Rio+ 5", que reúne cerca de 500 representantes de governos, ONGs (organizações não-governamentais) e empresários para avaliar os cinco anos após a ECO-92.

Aberta nesta quinta-feira (14), no hotel Sheraton (Vidigal, zona sul do Rio), a "Rio + 5" continua até quarta-feira. Nos discursos de abertura, prevaleceram os elogios mútuos das pessoas presentes na mesa, como Strong e o governador do Rio, Marcello Alencar.

"Em nenhum momento se tentou fazer um balanço dos cinco anos após a ECO-92. Para quem esperava uma abertura com uma avaliação séria, foi frustrante", disse o presidente do Partido Verde brasileiro, Alfredo Sirkis.

Em meio a discursos de tom oficial, houve um momento de descontração durante a exibição de um vídeo sobre a "Rio + 5". Houve uma forte gargalhada quando, em determinado trecho, foi exibida uma cena do ex-presidente Collor de Mello durante a ECO-92, enquanto a voz em off do locutor afirmava que "as boas intenções são boas quando seguidas". O locutor se referia aos acordos estabelecidos na ECO-92 que não foram cumpridos.

A "Rio + 5" foi aberta oficialmente às 9h06 pelo cacique xavante Aniceto Tsudzaverzé. Em seu discurso, ele lembrou problemas que atingem as nações indígenas, como a invasão de suas terras por garimpeiros e madeireiros.

Depois, deu um presente para Strong e outro para Alencar. Strong ganhou um cocar. O governador do Rio, segundo o índio, ganhou "uma espécie de gravata" que simboliza a procura da paz, do entrosamento entre os povos.

Pesquisa aponta maior
conscientização ambiental

Pesquisa realizada em 25 países do mundo, pelo instituto Ieml (International Environmental Monitor Limited), com sede no Canadá, constatou que a maioria das pessoas já aceita trocar o desenvolvimento econômico por proteção ambiental.

Os primeiros resultados da pesquisa -referentes a 20 países- foram apresentados nesta quinta durante a "Rio+5" pelo presidente do Ieml, Doug Miller. Para ele, ficou claro que a conscientização ambiental das pessoas está aumentando.

Foram ouvidas 25 mil pessoas de janeiro ao início de março deste ano -o que representaria, estatisticamente, cerca de 60% da população mundial-, em países como os EUA, França, Nigéria e Chile. O Brasil não entrou na pesquisa.

"Na maioria dos países, exceto na Rússia e na Polônia, onde a pressão da crise econômica é mais forte, as pessoas estão querendo trocar desenvolvimento econômico por proteção ambiental", afirmou Miller.

A grande preocupação com os problemas ambientais ficou evidente, segundo Miller, quando se perguntou aos entrevistados se achavam que a saúde de suas crianças poderia ser afetada por problemas ambientais.

Até agora, foram tabulados os resultados de 20 países pesquisados. Em 19 deles, de cada dez entrevistados, oito disseram achar que a saúde de seus filhos seria prejudicada por problemas ambientais.

Em países como a Coréia, a Itália, o Peru e a Índia, cerca de 80% das pessoas disseram já ter uma grande preocupação com a saúde de seus filhos. O Japão foi o país em que as pessoas se mostraram menos preocupadas com a questão. Ali, apenas 27% demonstraram estar muito preocupadas que problemas ambientais afetem a saúde dos filhos. Mas 47% dos japoneses responderam ter uma "preocupação razoável" com a questão.

Em todos os países analisados, o índice de pessoas muito ou razoavelmente preocupadas com essa questão supera os 70%. Além disso, em 17 países, a maioria acredita que a sua própria saúde já está sendo afetada.

A partir dessa pesquisa, Miller afirmou ter ficado evidente que existe uma percepção comum de que a sobrevivência da humanidade está correndo risco, por causa da degradação do planeta. Nesse sentido, ele disse acreditar que, nos próximos cinco anos, o mundo vai assistir "a uma nova onda verde", a exemplo do que ocorreu em 1992, com a realização no Rio da ECO-92 (conferência da ONU que estabeleceu acordos entre países para se promover o desenvolvimento com a preservação ambiental).

Por "onda verde", Miller entende um movimento de pressão popular sobre os líderes das nações para que promovam políticas de desenvolvimento que respeitem a proteção ambiental. "Em sua maioria, as pessoas acreditam que seus governos nacionais estão fazendo um trabalho pobre ou muito pobre pela proteção ambiental", afirma.(Roni Lima)