Julgamento da chacina de Vigário Geral é adiado

Juiz atendeu a pedido da promotoria

Brasil Online 16/04/97 21h03
De São Paulo

Zeca Guimarães - 30.ago.93/Folha Imagem
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Moradores da favela Vigário Geral observam corpos em caixões após chacina, em agosto de 93
Novas evidências podem causar o adiamento do julgamento de 17 dos 51 envolvidos na chacina da favela de Vigário Geral, em que morreram 21 pessoas em agosto de 1993. O juiz José Geraldo Antônio, do 2º Tribunal do Juri do Rio de Janeiro, se reuniu nesta quarta com a advogada das famílias das vítimas, Cristina Leonardo e com os promotores e advogados de defesa. A sessão estava marcada para as 13h mas a decisão do juiz só foi divulgada por volta das 16h desta quarta (16).

Novos laudos de balística, demonstraram que nove balas extraídas de sete corpos de vítimas pertenciam a dois policiais militares que permanecem em liberdade. Os advogados só tomaram conhecimento destas conclusões na noite de terça, menos de 24 horas do julgamento.

O adiamento de início desagradou os moradores da favela de Vigário Geral, que chegaram a ir ao 2º Tribunal do Júri, no centro do Rio. Eles pretendem fazer uma vigília na porta do fórum até que saia a sentença.

O juiz José Geraldo Antônio foi o mesmo que julgou o ex-ator Guilherme de Pádua pelo assassinato da atriz Daniela Perez em dezembro de 1992. Ele também vai julgar a ex-mulher de Guilherme, Paula Thomaz, acusada de ser cúmplice no crime.

Boa parte dos envolvidos na chacina de Vigário Geral eram ou haviam deixado de ser policiais em 1993. O julgamento coincidiria com o momento em que volta à opinião pública o debate sobre a violência da Polícia Militar em função de casos de agressão e assassinato em Diadema (SP) e no Rio.

A Anistia Internacional e entidades de defesa dos direitos humanos estarão 'fiscalizando' o julgamento. O escritório central da Anistia, em Londres (Reino Unido), enviou ao Brasil o advogado uruguaio Edgardo Carvalho, encarregado de preparar relatórios sobre o que acontecer no 2º Tribunal do Júri.

Praticamente todos os advogados concordaram com a decisão do juiz, que deu cinco dias para que ambas as partes tomem conhecimento dos laudos e se manifestem. Apenas Rodrigo Roca, advogado do ex-PM Paulo Roberto Alvarenga, não queria o adiamento. Alvarenga provavelmente seria o único a ser julgado nesta quarta se houvesse sessão.

Diante da posição de Roca, o juiz resolveu desmembrar o caso e marcou a data do julgamento de Alvarenga para o dia 24 deste mês. Os advogados dos outros acusados ainda devem se utilizar do artifício de vetar jurados, provocando o novos desmembramentos do júri.

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