AIDS mata menos em São Paulo

Queda só não é maior porque mulheres estão mais expostas à doença

AJB 25/04/97 19h42
De São Paulo

A Aids está matando menos na cidade de São Paulo. Um levantamento divulgado nesta sexta (25) pela Secretaria Estadual da Saúde mostra que o número de mortes causadas pela síndrome caiu 32% neste ano. A doença matou 495 pessoas no primeiro trimestre de 1997, contra 724 mortos no mesmo período de 1996. "É um reflexo do uso do coquetel de drogas, que passou a ser distribuído gratuitamente no estado no final do ano passado", disse o infectologista Arthur Kalichman, coordenador do Programa Estadual de Prevenção da Aids.

Treze mil doentes paulistas estão tomando o coquetel de remédios, que combina drogas usadas há muito tempo, como o AZT, com os chamados "inibidores de protease", remédios capazes de reduzir a quase zero a carga de vírus no sangue.

A queda na mortalidade foi maior entre os homens. Morreram 350 aidéticos no primeiro trimestre deste ano, contra 545 no mesmo período do ano passado. Entre a população feminina, a redução foi mais discreta. A doença matou 145 mulheres nos três primeiros meses deste ano, contra 179 no primeiro trimestre de 1996.

Esta diferença mostra que, apesar da queda da mortalidade, a epidemia de Aids ainda está em ebulição. Os casos de Aids crescem entre as mulheres numa velocidade tão alta que ofuscaram, nas estatísticas, os benefícios do coquetel de drogas. Entre a população masculina, a síndrome estabilizou-se e a mortalidade caiu bem mais.

Segundo o médico Kalichman, as mortes registradas são provavelmente de doentes que não tiveram tempo de tirar proveito das novas drogas. "A doença deve ter chegado a um ponto de não retorno, em que os remédios não fizeram efeito", diz ele. "Mas o fundamental é entender que ainda não existe cura para a Aids e, portanto, não há motivo para descuidar da prevenção", afirma Kalichman.