MP de Campinas vai analisar mortes por soro

Produto sob suspeita terá lotes apreendidos

AJB 30/03/97 19h13
De São Paulo

Será aberto nesta segunda-feira inquérito policial pela Delegacia Seccional de Campinas (a 99km de São Paulo) para apurar o caso dos nove bebês e de um adulto que morreram na cidade no domingo, dia 23, após terem sido medicados com o soro NPP (Nutrição Parenteral Prolongada), produzido pela empresa Tecnopharma. O Ministério Público do município solicitou a abertura de investigações e pediu para que fossem apreendidos o lote do produto sob suspeita que foi distribuído aos hospitais da região de Campinas. O prazo de investigação da delegacia é de 30 dias. O soro NPP é composto por diferentes ingredientes, como sais minerais e proteínas, e é usado nos tratamentos de reforço da alimentação.

O número de mortos que podem ter sido vítimas do NPP chega a 13 pessoas (12 recém-nascidos e um adulto). Deste total, além dos nove bebês mortos em Campinas, outros dois casos foram divulgados pela Santa Casa do Município de Limeira, na sexta-feira passada. E no sábado, foi confirmada a morte de outro recém-nascido pelo Hospital Santa Elisa, em Jundiaí. Como os outros, o bebê morreu no dia 23. O diretor clínico do hospital, Marcos Soares Camargo, disse que neste caso, o determinante no óbito foi uma septicemia. "O paciente já apresentava infecção generalizada. O soro - um dos medicamentos utilizados no tratamento - pode ter agravado o quadro ", explicou. "Trabalhamos há quatro anos com a Tecnopharma e esta é a primeira vez que há suspeitas de irregularidade", completou.

A Tecnopharma divulgou neste domingo um comunicado em jornais da região de Campinas afirmando que utiliza "um sistema automatizado e protegido para a manipulação dos componentes das soluções do produto". A empresa acredita que a contaminação tenha sido provocada por alguma das matérias-primas e não no processo de preparação. O farmacêutico-responsável do Tecnopharma Companhia, Flávio Pícolo, não revelou o nome dos fornecedores dos componentes. As soluções são feitas diariamente e tem validade de 36 horas.

Além de Campinas, Limeira e Jundiaí, também recebem o soro NPP as cidades de São José dos Campos, Jacareí e Piracicaba, no Estado de São Paulo, e Pouso Alegre, em Minas Gerais. Segundo a Tecnophrama, foram distribuídas 30 dessas soluções - para diversos hospitais clientes da empresa - que podem estar contaminadas com a bactéria Enterobacter cloacae. A Secretaria Estadual de Saúde já proibiu o uso do medicamento. O Instituto Adolfo Lutz e a Vigilância Sanitária devem divulgar em 15 dias o resultado da análise de amostras do produto.