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Tragédia
no
Vôo 402
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Falência da Fokker
foi 'morte anunciada'
Folha de S.Paulo (Arquivo) 15/4/96
De São Paulo
A falência da Fokker foi
antecedida por uma sucessão de prejuízos a partir de
1992, os quais se agravaram após a cessão de seu
controle acionário à alemã Dasa (Daimler-Benz Aerospace).
Em outubro de 1995, a Dasa havia anunciado um corte de 8
000 funcionários e o fechamento de três fábricas, tendo
contabilizado um prejuízo acima de 1 bilhão de
dólares.
Como na Fokker, os maus resultados
da Dasa têm pouco a ver com a qualidade dos produtos.
Eles incluem de aeronaves regionais a satélites de
comunicação e sensoriamento, e de turbinas
aeronáuticas à construção de componentes e montagem
dos Airbus.
Uma das críticas que se faz à
companhia é exatamente a diversificação de sua linha
de produtos, distribuídos por dezenas de locais. O
colapso do mercado bélico, o dólar fraco e a
concorrência cada vez maior no mercado aeronáutico tiveram
uma parcela de culpa no fraco desempenho da Dasa.
Não é de surpreender que os
alemães se "apaixonassem" pela tradicional
Fokker e seus bem-sucedidos produtos para a aviação
comercial: o Fokker F-100 e o turboélice Fokker-50. Acontece
que a Fokker já entrou na união com a sua saúde econômica
abalada. A morte da empresa foi anunciada em 22 de
janeiro ao se concretizar a intenção da Dasa de retirar
o apoio financeiro.
Empresa holandesa criou o
jato regional
Anthony Herman Gerard Fokker nasceu
a 6 de abril de 1870 em Java, então colônia holandesa
na Ásia. O jovem Fokker sempre se interessou mais por
máquinas a vapor, trens elétricos e invenções, do que
pelas aulas.
Aos 20 anos, ele foi à Alemanha
fazer um curso de mecânica de automóveis. Seus pais
esperavam que ele adquirisse uma profissão. Seduzido
pelo vôo, Fokker construiu seu primeiro avião em 1910.
Ele recebeu o nome de "Spin"
("Aranha"). Foi com ele que Fokker conseguiu a
licença de piloto.
Em 1919, terminada a Primeira
Guerra Mundial, Fokker retornou à Holanda e, com 29
anos, fundou a Netherlands Aircraft Factory.
Os primeiros modelos reuniam
características que se tornariam padrão: uma fuselagem
tubular em aço soldado e asas de madeira com aerofólios
de perfil grosso.
Ainda no primeiro ano da fábrica,
Fokker projetou o F-2, que se tornaria o precursor de uma
família de aeronaves comerciais. Era um monoplano de asa
alta para quatro passageiros acomodados numa cabine
bem-acabada. Equipado com um motor de 185 cavalos, podia
voar a 160 km/h. Em seguida veio o mais potente F-3 e o
F-4, de 11 lugares, que estabeleceu vários recordes de
autonomia, distância e velocidade.
O maior feito foi a travessia em 27
horas dos EUA (1922). O F-4 está no Museu Nacional de
Aeronáutica e Espaço, em Washington.
Em 1924, o F-7 foi lançado como
aeronave comercial para oito passageiros, tornando-se
pioneiro nos vôos entre a Holanda e a colônia das
Índias Orientais (Ásia).
Ao final da década de 20, a Fokker
se tornou um dos maiores fabricantes de aeronaves no
mundo. O F-7 deu origem ao F-7b/3m, um trimotor que foi o
mais bem-sucedido avião comercial da época, sendo
operado pela maioria das grandes companhias aéreas da
Europa, EUA, Austrália e Ásia.
Entre os feitos dos trimotores
Fokker estão o primeiro vôo sobre o Pólo Norte, a
ligação entre San Francisco e a Austrália e a primeira
travessia do oceano Atlântico por uma mulher, Amelia
Earhart. Em 1934, em clima pré-conflito mundial, Fokker concentrou-se
em projetos militares.
Anthony Fokker morreu em Nova York
aos 49 anos, vítima de meningite. Pouco depois,
desapareceu a fábrica na Holanda, destruída na Segunda
Guerra Mundial. A Fokker renasceu das cinzas em 1945, com
um pequeno grupo de ex-funcionários que investiram em
aviões de treinamento militar. Mas ela se preparou para
disputar novamente o mercado comercial, projetando o
F-27, que se tornou o turboélice mais vendido no mundo,
com 768 produzidos. O F-28, lançado em 1969, foi o primeiro
jato regional no mundo, somando 241 unidades vendidas.
Seus sucessores, o turboélice
Fokker-50 e os aviões a jato Fokker-100 e Fokker-70,
foram a base comercial da empresa até o início de 1996.
Ernesto Klotzel
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