A mensagem de Fernando Henrique, enviada hoje por fax-simile à Presidência do PMDB, foi o resultado de um acordo para elaboração da cédula de votação dos convencionais do partido. Os governistas conseguiram retirar da cédula a pergunta sobre se a reeleição deveria ser para todos os governantes ou apenas para o presidente.

A nova cédula se limita a questionar se os convencionais são a favor ou contra a reeleição e, em caso afirmativo, se os atuais detentores de mandatos executivos devem ser beneficiados. A única vitória dos opositores ao governo foi incluir na cédula uma terceira pergunta sobre a realização de plebiscito ou referendo popular.

A negociação para definir o modelo da cédula mobilizou quase todo o comando do partido, que hoje já estava em Brasília. Em reunião tensa, Paes de Andrade e o líder do partido na Câmara, Michel Temer (SP), discutiram muito, mas acabaram entrando em acordo e enxugaram a consulta ao partido. Paes queria um número maior de perguntas.

O defensor do plebiscito será o senador gaúcho Pedro Simon, ex-líder do governo Itamar Franco no Senado. Simon contará com o apoio de uma platéia majoritariamente favorável ao grupo de oposição do PMDB. Contrário à reeleição, o ex-governador Orestes Quércia conseguiu trazer para Brasília - oferecendo transporte, hospedagem e alimentação - um grande número de convencionais. Segundo um deputado do PMDB paulista, o público será quercista, mas o governo ainda tinha uma pequena margem de vantagem entre os 712 votos de convencionais. Quércia está trabalhando em parceria com o ex-presidente Itamar Franco, que enviou mensagem ao partido. "A nação inteira saberá ouvir as ponderações da convenção do PMDB", escreveu. O ex-presidente, em telefonemas aos dirigentes do partido, ameaçou não se filiar ao PMDB - como prometeu há quase um ano - se a Convenção decidir favorável à reeleição de Fernando Henrique Cardoso.

Mas um levantamento do presidente do PMDB constatou que a tendência de 18 dos 27 diretórios regionais do partido é votar contra a reeleição, deixando, porém, os parlamentares liberados para votar a favor da emenda. A posição das bases é desfavorável ao presidente da República, no entanto, a maioria da bancada do partido tem posição governista para não perder cargos. Os nove diretórios onde o PMDB tem governador virão dispostos a defender a reeleição para os atuais governantes. A posição a favor é comandada pelo governador do Rio Grande do Sul, Antônio Britto.

O diretório de Minas Gerais é o mais resistente à tese da reeleição. "Se o PMDB aprovar a emenda vai se transformar em sublegenda do PSDB e do PFL", disse o presidente do PMDB-MG, deputado Armando Costa.

SONIA CARNEIRO/JORGEMAR FELIX