Brasil Online 13/05/97 21h22 De São Paulo e de Brasília As alegres declarações de um desconhecido deputado do Acre podem ser o começo do maior escândalo político da Era do Real. O pefelista Ronivon Santiago contou a um conhecido que recebeu R$ 200 mil para apoiar a emenda da reeleição, votada em primeiro turno no dia 28 de janeiro. A fanfarronice foi gravada. A Folha obteve cópia da fita e transcreveu os diálogos. A revelação feita pelo jornal tornou-se o assunto do dia no Congresso. Na manhã de terça, Ronivon jurou que a voz da fita não é dele. "Isso tudo é uma montagem", disse ele em entrevista à Rádio CBN.
Seriam cinco os deputados envolvidos no escândalo. Além de Ronivon, outros quatro parlamentares da bancada acreana também teriam recebido R$ 200 mil para votar a favor da emenda. A Voz da Fita fala em João Maia, Zila Barreira e Osmir Lima, todos do PFL, e Chicão Brígido, do PMDB -atualmente licenciado. Todos negam tudo. Na opinião de Maia, trata-se de uma armação para atingir o governo do Acre. Brígido garantiu que nunca usou seu mandato como "balcão de negócios". Para ele, Ronivon é um "bandido". Na fita, que reúne a gravação de várias conversas telefônicas, o deputado (ou alguém que se fez passar por ele) conta toda a história a alguém, caracterizado na reportagem como "Senhor X". Afirma que recebeu R$ 100 mil em dinheiro. Os outros R$ 100 mil seriam pagos por uma empreiteira -a CM, que teria pagamentos a receber do governo do Acre. Ronivon diz que nem conhece a empreiteira. Os compradores do voto, segundo a voz da fita, foram dois governadores: Orleir Cameli (sem partido), do Acre, e Amazonino Mendes (PFL), do Amazonas. Cameli nega tudo e promete processar o deputado. Amazonino está na Ucrãnia. Seu coordenador de imprensa, Júlio César Guimarães, desconhecia a história.
Enquanto a oposição considera sob suspeita todo o processo de tramitação da emenda, o governo age com cautela. O porta-voz do Palácio do Planalto, Sérgio Amaral, contou à tarde que, para o presidente, o assunto todo era muito grave e deveria ser apurado pela Câmara. O ministro da Educação, Paulo Renato Souza, diz que o governo FHC não tem nada a ver com isso: "É um fato localizado". Segundo ele, a revelação -e o escãndalo- não atrapalham a tramitação da emenda nem das outras reformas no Congresso. Não é o único que defende esta tese. O senador Antonio Carlos Magalhães, por seu lado, apressou-se a separar o caso Ronivon da emenda da reeleição. ACM acha que os deputados citados, se forem culpados, devem ser cassados, e ponto. A reeleição em si estaria além disso. A oposição moveu-se em três frentes. Além da CPMI pretendida por Chinaglia, o Bloco das Oposições (composto pelo PT, PDT e PCdoB) anunciou de manhã que convocaria uma CPI (só da Câmara). Enquanto isso, os senadores oposicionistas pediram que a votação do parecer sobre a emenda reeleitoral, que está sendo discutido na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, fosse suspensa. Não conseguiram o que queriam, mas adiaram a votação, já que o senador Epitácio Cafeteira (PPB-MA) acabou pedindo vistas do parecer. A votação deve ser realizada nesta quarta-feira, às 10h.(Marco Chiaretti)
Ouça E leia também
Veja também o |
|||||||