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MST comanda marcha até Brasília
Caminhada terminará no dia 17 de abril
AJB 15/02/97 16h52
Do Rio de Janeiro
Dispostos a montar acampamento em Brasília no aniversário da
chacina de 19 lavradores que ocorreu em Eldorado dos Carajás, Sul do Pará,
no dia 17 de abril de 1996, mais de mil integrantes do MST (Movimento Nacional
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) põem o pé na estrada segunda-feira,
em caravanas que sairão de São Paulo, Mato Grosso e Minas
Gerais.
Além de cobrar punição para mandantes e executores da
matança, os sem-terra prometem semear comícios pela reforma agrária nas
cidades por onde passarão. Na mais longa caminhada, com saída de
Governador Valadares (MG), eles vão percorrer 1.032 quilômetros.
A Marcha Nacional pela Reforma Agrária, Emprego e Justiça, como é chamada
nos panfletos dos sem-terra, vem sendo preparada desde o ano passado, como
parte da estratégia do MST de buscar adesões nas áreas urbanas. Não
foi por acaso que as palavras de ordem do movimento tornaram-se mais
abrangentes - o velho bordão "Reforma agrária: essa luta é
nossa", por exemplo, foi trocado por outro, "Reforma agrária: essa luta
é de todos". "O sem-terra sozinho não tem força para fazer a
reforma agrária", costuma dizer o dirigente nacional João Pedro
Stédile, principal mentor do MST.
A mudança de orientação política transformou-se em lema dos sem-terra
de norte a sul do país. Em Governador Valadares, ponto de largada da
caravana de 400 sem-terra de Minas, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro,
o dirigente nacional Ênio Bonenberger resume a pregação que vai ser
repetida nos comícios. "Por que o sem-terra não pode lutar também
pela defesa da pátria?" indaga, referindo-se às novas bandeiras do emprego e
da justiça social. "Queremos ampliar nosso apoio na sociedade", completa no
conflagrado Pontal do Paranapanema (SP) o líder José Rainha Júnior.
Marcha é comparada à Coluna Prestes
No MST, há quem compare a cruzada a Brasília à mitológica
Coluna Prestes, movimento revoltoso que pregou com armas pelo interior do
Brasil, de 1924 a 1926, a derrubada da República Velha. Mas, em vez de
espingardas e fuzis, os sem-terra vão carregar enxadas, foices e a
bandeira vermelha do MST, andando em média 20 quilômetros por dia. De
São Paulo, a 1.015 quilômetros de Brasília, sairá o grupo maior: 600
pessoas, incluídos lavradores do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul
- estados da região em que, nos anos 70, o MST germinou.
Atos públicos e passeatas estão programados em São Paulo,
Cataguases (MG) e Rondonópolis (MT) para marcar o início da maratona. Na
capital paulista, a caravana dará a largada com manifestação na Praça
da Sé, às 9h, e caminhada até a rodovia Anhangüera, de onde a coluna segue
para Perus, ponto de parada para a primeira noite de acampamentos
itinerantes. Para prevenir riscos à saúde sob o sol escaldante do
verão, o MST determinou que os participantes da marcha não
devem ter menos de 12 anos nem mais de 50. Traje recomendado: chinelos de
dedo, bermudas, camisetas e bonés. (Francisco Luiz Noel)
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