Agência Folha 17/04/97 21h04 De Brasília
Veja Vicentinho convidou a população a organizar uma greve geral unindo trabalhadores e sem-terra. "No dia de hoje devemos buscar uma verdadeira unidade da classe trabalhadora. Vamos colocar nossas diferenças de lado para mais dia, menos dia, fazer uma greve geral nacional no campo e na cidade", disse. Ele também pediu para que os trabalhadores se reúnam no dia 1º de maio, quando é comemorado o Dia do Trabalho. "Vamos levar no mínimo um milhão de pessoas às ruas para mostrar que somos sem-terra, sem-emprego e sem-casa, mas o governo é sem-vergonha, sem-caráter, sem verdade'', disse. Conforme planejado, no dia em que completa um ano o massacre de sem-terra por policiais militares em Eldorado dos Carajás (PA) a marcha organizada pelos trabalhadores rurais entrou em Brasília. O encontro se deu na rodoviária. Às 14h30, depois de almoçarem, eles retomaram a caminhada para chegar em frente ao Congresso Nacional.
Oposição aproveita marcha
"Em nome do MST, a sociedade brasileira ocupa a capital do país para dizer não ao neoliberalismo, à impunidade dos assassinos de Eldorado dos Carajás, à política agrária de Fernando Henrique Cardoso, à venda da Vale e à reforma administrativa", afirmaram, em discurso no carro de som, lideranças do movimento. Na presença do presidente de honra do PDT, Leonel Brizola, do presidente do PT, José Dirceu, e de parlamentares de partidos de oposição ao governo, foi entregue um buquê de flores de boas vindas ao mais velho integrante da marcha dos sem-terra, o paulista de Promissão Luís Beltrami Castro, 89. "A marcha é de apoio à reforma agrária e também de oposição ao governo, que não dá atenção às questões sociais e insiste na privatização da Vale. Ela representa a união e a solidariedade da sociedade", disse José Dirceu, presidente do PT.
A marcha dos sem-terra partiu há dois meses em colunas de três diferentes pontos do país -as cidades de São Paulo, Rondonópolis (MT) e Governador Valadares (MG). A caminhada, de cerca de mil quilômetros, foi organizada pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) para reivindicar maior atuação e agilidade do governo na reforma agrária. Outros trabalhadores como metalúrgicos, servidores públicos e professores participam das manifestações.
Rainha vai pedir a FHC O Palácio do Planalto confirmou nesta quinta-feira o encontro do líder do MST José Rainha Júnior com o presidente Fernando Henrique Cardoso, na sexta. Rainha também se encontrará com o presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). "A primeira coisa que vamos pedir é que FHC tome uma medida política para colocar os assassinos de Eldorado dos Carajás (PA) na cadeia. A segunda é que designe dinheiro para os assentamentos e acampamentos que vivem na miséria". Para ACM, Rainha irá pedir que o Congresso seja democratizado. "Não dá para ficar à mercê de uma elite de congressistas que se vende a cada projeto do governo." Rainha voltou a afirmar nesta quinta que as invasões de terra vão continuar. "As ocupações foram um instrumento de luta para chegar onde chegamos em Brasília e vão continuar se não houver políticas do governo para reforma agrária", disse.
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