Marcha dos sem-terra entra em Brasília

Oposição aproveita para protestar contra governo FHC
 

Agência Folha 17/04/97 21h04
De Brasília

Juca Varella/Folha Imagem
Rainha_e_Diolinda
Líder do MST, José Rainha, e sua mulher Diolinda tomam café antes de comandar a marcha rumo à Esplanada dos Ministérios
Sem-Terra Depois da chuva que afastou muitas pessoas da manifestação dos sem-terra na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, no início da noite desta quinta-feira (17) o ato voltou a contar com a presença de milhares de pessoas. Segundo cálculo da Polícia Militar, cerca de 30.000 acompanharam o ato político que reuniu lideranças do MST, deputados e senadores. Entre os participantes do ato compareceram os presidentes do PT, José Dirceu, e do PDT, Leonel Brizola, além do presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho.

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Vicentinho convidou a população a organizar uma greve geral unindo trabalhadores e sem-terra. "No dia de hoje devemos buscar uma verdadeira unidade da classe trabalhadora. Vamos colocar nossas diferenças de lado para mais dia, menos dia, fazer uma greve geral nacional no campo e na cidade", disse. Ele também pediu para que os trabalhadores se reúnam no dia 1º de maio, quando é comemorado o Dia do Trabalho. "Vamos levar no mínimo um milhão de pessoas às ruas para mostrar que somos sem-terra, sem-emprego e sem-casa, mas o governo é sem-vergonha, sem-caráter, sem verdade'', disse.

Conforme planejado, no dia em que completa um ano o massacre de sem-terra por policiais militares em Eldorado dos Carajás (PA) a marcha organizada pelos trabalhadores rurais entrou em Brasília. O encontro se deu na rodoviária. Às 14h30, depois de almoçarem, eles retomaram a caminhada para chegar em frente ao Congresso Nacional.

Oposição aproveita marcha
para criticar governo

Juca Varella/Folha Imagem
MST/CUT
Encontro do MST com a CUT, na Esplanada dos Ministérios
A chegada e concentração das três colunas da marcha dos sem-terra no início da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, se transformou em um grande ato de protesto contra o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso e contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce.

"Em nome do MST, a sociedade brasileira ocupa a capital do país para dizer não ao neoliberalismo, à impunidade dos assassinos de Eldorado dos Carajás, à política agrária de Fernando Henrique Cardoso, à venda da Vale e à reforma administrativa", afirmaram, em discurso no carro de som, lideranças do movimento.

Na presença do presidente de honra do PDT, Leonel Brizola, do presidente do PT, José Dirceu, e de parlamentares de partidos de oposição ao governo, foi entregue um buquê de flores de boas vindas ao mais velho integrante da marcha dos sem-terra, o paulista de Promissão Luís Beltrami Castro, 89.

"A marcha é de apoio à reforma agrária e também de oposição ao governo, que não dá atenção às questões sociais e insiste na privatização da Vale. Ela representa a união e a solidariedade da sociedade", disse José Dirceu, presidente do PT.

A marcha dos sem-terra partiu há dois meses em colunas de três diferentes pontos do país -as cidades de São Paulo, Rondonópolis (MT) e Governador Valadares (MG). A caminhada, de cerca de mil quilômetros, foi organizada pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) para reivindicar maior atuação e agilidade do governo na reforma agrária. Outros trabalhadores como metalúrgicos, servidores públicos e professores participam das manifestações.

Rainha vai pedir a FHC
punições no caso do Pará

O Palácio do Planalto confirmou nesta quinta-feira o encontro do líder do MST José Rainha Júnior com o presidente Fernando Henrique Cardoso, na sexta. Rainha também se encontrará com o presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). "A primeira coisa que vamos pedir é que FHC tome uma medida política para colocar os assassinos de Eldorado dos Carajás (PA) na cadeia. A segunda é que designe dinheiro para os assentamentos e acampamentos que vivem na miséria".

Para ACM, Rainha irá pedir que o Congresso seja democratizado. "Não dá para ficar à mercê de uma elite de congressistas que se vende a cada projeto do governo." Rainha voltou a afirmar nesta quinta que as invasões de terra vão continuar. "As ocupações foram um instrumento de luta para chegar onde chegamos em Brasília e vão continuar se não houver políticas do governo para reforma agrária", disse.

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  • MST - Site do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
  • Incra - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária